Do purgatório ao paraíso
quinta-feira, 12 de dezembro de 2024 às 19:11
Emerson Fittipaldi – Long Beach 1984
Colaboração: Antonio Carlos Mello Cesar
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Emerson foi o pioneiro que esquadrinhou a vereda rumo ao seleto universo da F1 e demais categoria do automobilismo internacional. A primeira vitória (1970), o campeonato de 1972, lhe concedeu fama e alto grau de interesse por parte dos veículos de comunicação, ganhou matéria de capa e longas reportagens no caderno de esportes. Um esporte até então quase ignorado pela mídia brasileira.
Redes de televisão, Globo e Tupi, brindaram o público com as transmissões da F1 e o GP Brasil passou a fazer parte do calendário oficial da FIA (1973) graças a notoriedade de Fittipaldi. Empresas nacionais não ficaram alheias à janela de visibilidade aberta pelo novo ídolo, e outros brasileiros se aventuraram na F1 ainda no primeiro terço da década de 70: Luiz Pereira Bueno, Carlos Pace, Wilson Fittipaldi Jr.
Talvez sem Fittipaldi a eclosão de talentos tupiniquins na categoria seria retardada em ciclópicos 20 anos ou mais. Hoje o Brasil é o terceiro país com mais vitórias na F1.
Princípio dos anos 80… Carente de bons resultados a equipe Fittipaldi F1 havia encerrado suas atividades, foi motivo de piada e críticas da imprensa brasileira. Assim a escuderia nacional aliada a outros motivos acabou falindo, os irmãos Emerson e Wilson endividados voltaram para o Brasil.
Tentando um novo rumo para sua carreira e ganhar dinheiro Fittipaldi participava de ações publicitárias, garoto propaganda de óleo lubrificante, bateria, veículos etc. Sem abandonar as pistas dirigia um Oggi CSS, variação do Fiat 147 com 1500 cc 78 HP, no campeonato brasileiro de turismo divisão 1, uma categoria que permitia pouca alteração no automóvel original de fábrica.
Verdadeiro purgatório para quem já percorreu o antigo retão de Interlagos a 330 km/hora e agora no mesmo lugar mal chegava aos 180 km, isto sem contar a lenta retomada de velocidade após a curva da Ferradura ou em direção ao Sargento, algo bem diferente da potência dos motores Ford-Cosworth.
1984… Emerson faz sua estreia na F Indy – GP de Long Beach. Devido ao modesto patrocínio, conseguido a duras penas, obtém contrato para três corridas com a pobre equipe GTS que usava chassi March antigo e uma estrutura deficiente.
O carro pintado de rosa era um autêntico caça-níquel. Quem pagasse poderia correr uma, duas vezes ou quantas etapas o bolso seria capaz de suportar. Sai um piloto entra outro e outro, tudo na mesma temporada.
A soberba dos norte-americanos não deu importância a um bicampeão mundial de F1 migrando para Indy… Grande coisa, diziam os ianques, ninguém por aqui curte F1, temos ídolos locais na categoria de monopostos mais espetacular do mundo com velocidade surreal nos circuitos ovais.
Fittipaldi conhecia muito bem as ruas de Long Beach e seus muros predatórios, correra por lá de F1. No sábado o carro acostumado às últimas posições do grid termina o treino classificatório em P12 entre 28 participantes, alguns figurões vão largar atrás do automóvel cor de rosa.
Durante a prova o talento do brasileiro aflora, poupa equipamento e pneus, cuida dos freios, evita os muros, adota um ritmo constante, combinação magistral de prudência e velocidade. Na volta 11 estava em quinto numa acirrada disputa com Al Unser Jr pelo quarto lugar.
O duelo se estende até a volta 30 quando os boxes ficam abertos para troca de pneus e reabastecimento, Al Unser faz sua parada. Fittipaldi permanece na pista por mais 16 voltas sem perder muito rendimento. Mario Andretti lidera com folga, impossível alcançá-lo, porém P2, quem sabe?
Finalmente Emerson estaciona no boxe. Um time canhestro, mecânicos inaptos demoram uma eternidade para devolver Fittipaldi à pista, o brasileiro perde posições, mas com pneus novos retorna voando, faz ultrapassagem e segue recuperando colocações.
Na volta 55 das 112 previstas o placar aponta: Mario Andretti P1, Fittipaldi P2 seguido por Bobby Rahal, Geoff Brabham e Tom Sneva fechando os 5 primeiros.
Faltando pouco menos de 30 voltas Emerson ocupa o terceiro posto, uma proeza e tanto frente à deficiência do equipamento. Contudo a segunda e última parada é desastrosa o brasileiro perde mais de 30 segundos nos boxes e praticamente inviabiliza sua corrida. Apesar dos pesares termina em quinto lugar.
A classificação final mostrava nomes consagrados, equipes poderosas atrás do brasileiro: Bobby Rahal, Al Unser Junior, Rick Mears, A J Foyt e equipes de ponta como a Penske, Patrick Racing, Truesports.
O desempenho notável não passara despercebido e as portas do paraíso se abriram com direito a fileira de anjos tocando trombetas para o genial Emerson Fittipaldi. Mais tarde encerraria a carreira nos domínios de Tio Sam sendo o primeiro piloto não americano a ganhar o campeonato da Indy e 02 vezes vencedor das 500 milhas de Indianápolis.
O pioneiro conquistava mais uma terra inexplorada, novo caminho aberto para pilotos brasileiros. Atualmente o Brasil possui 07 títulos da Indy, 08 triunfos nas 500 Milhas e 112 vitórias na categoria.
Antonio Carlos Mello Cesar
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