De Nuvolari a Hamilton todos os campeões são iguais

quarta-feira, 11 de maio de 2022 às 15:00

Tazio Nuvolari em seu início na Ferrari (Arquivo CORSA)

Colaboração: Antonio Carlos Mello Cesar

Os artigos publicados de colaboradores não traduzem a opinião do Autoracing. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate sobre automobilismo e abrir um espaço para os fãs de esportes a motor compartilharem seus textos com milhares de outros fãs.

Maior piloto da história, frase dita, propalada meio interesse e paixão, o esporte precisa de ídolos, referência, enredo, linhagem e números a serem batidos. Tal assertiva durante décadas acompanhou a biografia de Juan Manoel Fangio, oito temporadas e cinco campeonatos por quatro diferentes equipes, melhor percentual de triunfos ainda hoje 46,15% (24 de 52), 27 poles, conferiam pleno direito ao titulo.

Porém, me pergunto, e os corredores anteriores ao reinado do argentino. Tazio Nuvolari 72 vitórias na carreira, incluindo provas de Grand Prix, Copa Cianos, Targa Flório, Mille Miglia, Copa Rac, segundo Ferdinand Porsche, piloto supremo do passado, presente e futuro. Quando Enzo Ferrari preparava os monolugares da Alfa Romeo, tempo onde a Ferrari não tinha seus próprios carros, trabalhou com Nuvolari e mais tarde iria classifica-lo superior a Fangio, Lauda e Villeneuve, pilotos da casa de Maranello.

À semelhança de Lewis Hamilton o alemão Rudolf Caracciola dirigiu um Mercedes magnífico nas etapas de Grand-Prix, batizado W25, motor V8 494 cv, 750 kg capaz de atingir 300 km/hora (dados do magazine Mercedes). 1938… Esse mesmo carro, fora do regulamento sob a sigla W125, recebeu uma carenagem mais aerodinâmica cobrindo as rodas, o propulsor V8 foi substituído por um V12 5.5 litros, 725 cv e Rudolf levou o carro á incríveis 432,69 km/hora na estrada Frankfurt-Heidelberg. Recorde de velocidade em via pública que perdurou durante 79 anos, ultrapassado pelo Koinigsegg Agera RS, rodovia no estado de Nevada/EUA, ano 2017.

Rudolf Caracciola, mestre da chuva, lenda na Mercedes, 144 triunfos entre diversas categorias das quais participou. Manfred von Brauehitsch, parceiro de equipe, disse sobre Caracciola: Frio como gelo, inteligente, as inúmeras vitórias em provas de GP, subida de montanha, longa duração e recordes o tornam indiscutível, talvez melhor piloto da história. Alfred Neubauer diretor das Flechas de Prata ressalta o extraordinário nível de confiabilidade, concentração, resistência e talento de Caracciola, correlato apenas ao penta campeão Fangio.

Um escocês, Jim Clark, próximo postulante a melhor de todos os tempos. Aos 28 anos detinha maior número de vitórias na F1 moderna (25), dois títulos mundiais, a morte prematura impediu sua trajetória rumo a novos recordes. Clark, paralelo a Lewis Hamilton, tinha um carro soberbo, Lotus, do mago Colin Chapman, e uma questão na época: Jim Clark vence porque pilota a Lotus ou Chapman ganha porque Jim dirige seus carros?

GP do Canadá 1973 Jackie Stewart encerrava carreira após 09 anos e 99 corridas, tricampeão recordista de vitórias 27 (17 poles), registro insuficiente para desbancar Fangio.

Estágios sobrevieram e grandes nomes Niki Lauda, Nelson Piquet, Alain Prost, Ayrton Senna. Entretanto, coube a Michael Schumacher no começo do século XXI pulverizar todos os recordes, 91 vitórias contra 51 de Prost, 07 mundiais, 68 poles contra 65 de Senna.

Alegação banal mencionada com ares de verdade ilimitada: Não se pode comparar piloto de época e carros diferentes. Porém existe característica similar a todo e qualquer corredor no presente e passado. Acelerar fundo nas retas, frear no marco extremo, vencer curvas a um passo do descontrole, foco, concentração, inteligência e talento natural.

Como bem assinalou Adauto Silva, equipes buscam um piloto capaz de entregar percentual mais próximo dos 100% da performance total do carro. Eu posso afiançar: Esta é a qualidade distintiva dos campeões, de Nuvolari a Hamilton.

Atualmente a F1 carrega intrincada tecnologia que deve ser entendida visando máximo desempenho, para mais de uma alucinante velocidade nas curvas, os efeitos da força G, complexa administração dos pneus, a briga por milésimo, está o sujeito atrás do volante. Não menos desafiador, nos tempos de Caracciola, sentar no carro com metade do corpo para fora, sem cinto, uma toquinha de couro na cabeça, cambio seco e acelerar a 300 km/hora com a morte pedindo carona.

Na entretela Schumacher e Hamilton, o mais jovem tetracampeão da história, Sebastian Vettel, cuja ascensão meteórica foi tão rápida quanto seu declínio. Na carreira Sebastian apresenta belo resultado, quatro títulos, 53 vitórias, 57 poles. A realidade concreta dos números, muitas vezes falsa, o colocam em vantagem frente Prost, Senna e tantos outros.

Um conhecido comentarista da TV, meio corrida modorrenta, autêntico passeio de Lewis Hamilton e da, então, imbatível Mercedes, proferiu uma pérola: “Discordo dos que estão achando a F1 chata, vivemos preciosa oportunidade, testemunhar o maior piloto de todos os tempos em plena atividade”.

Pensei: Droga gostaria de ver três carros disputando liderança, um quarto se aproximando da briga, todavia entendi a fala do comunicador, naturalmente seu emprego depende da audiência, cada um vende o peixe como pode. E mitos vão sendo criados.

Insano contestar Hamilton, dados estatísticos confirmam autoridade para Lewis figurar na base mais elevada de um pódio histórico, porém vale ressaltar que a frigidez dos números não leva em conta análise subjetiva, acumulo de etapas, equipamento desigual entre concorrentes diretos.

Nada obstante uma pergunta, sem resposta, sobre fato jamais acontecido: Quando Nelson Piquet comemorou em 1981 o primeiro título e caso a Brabham durante os próximos oito anos portasse inequívoca superioridade frente às demais equipes, quantas taças de campeão mundial não estariam enfeitando a galeria do brasileiro? E na hipótese de Fangio ter começado carreira mais jovem, participando de quinze temporadas? E Senna, quem sabe, único piloto a extrair 100% do desempenho máximo de um F1, no seco ou na chuva?

Hamilton invejável competência aliada ao poder da Mercedes, não é melhor, nem pior face grandes campeões da história, Nuvolari, Caracciola, Fangio, Clark, Stewart, Lauda, Piquet, Prost, Senna, Schumacher. Lista que pode ser engrossada por Jack Brabham, tricampeão, duas vezes dirigindo um Cooper (1959-1960), em 1966 a bordo do próprio carro, Brabham-Repco, feito notável.

Antonio Carlos Mello Cesar
São Paulo – SP

Quer ver todos os textos de colaboradores? Clique AQUI

AS - www.autoracing.com.br

Tags
, , , , , , , ,

ATENÇÃO: Comentários com textos ininteligíveis ou que faltem com respeito ao usuário não serão aprovados pelo moderador.