Campeões da Indy na F1: Cristiano da Matta (vídeo)

segunda-feira, 25 de maio de 2020 às 13:08

Cristiano da Matta -Toyota 2004

Por: Bruno Aleixo

Chegamos ao penúltimo episódio de nossa espetacular série “Campeões da Indy na F1”, hoje com um personagem brasileiro: Cristiano da Matta, o mineiro simpático, roqueiro e que acelerou muito durante a sua carreira.

Filho do lendário Toninho da Matta, nada menos do que 14 vezes campeão brasileiro de Turismo, Cristiano começou no Kart com 16 anos, tarde para os padrões do esporte. Mas com gasolina correndo nas veias, não foi difícil para ele conquistar títulos e se mandar para as categorias de Fórmula que existiam no país. Depois de ganhar a Fórmula Ford brasileira, Da Matta disputou as F3 sulamericana e britânica, chegando à Fórmula 3.000 em 1996. Estava na boca da F1, mas não tinha vaga. Na época, o Brasil fazia sucesso na Indy, com a invasão verde e amarela capitaneada por Gil de Ferran, Christian Fittipaldi, André Ribeiro e outros. O mineiro, então, foi para a Indy Lights, sagrando-se campeão em 1998.

Convidado pela Arciero Wells, Cristiano estreou na Indy em 1999. Na temporada seguinte, pela PPI, venceu sua primeira prova, no oval de Chicagoland. A essa altura, Da Matta já era o cara de confiança da Toyota da na Indy e assim que os japoneses assinaram contrato para equipar os carros da Newman Haas, não hesitaram em convidá-lo para o time, a partir de 2001. Depois de uma primeira temporada razoável, Cristiano passeou em 2002, tirando proveito da ausência da Penske na categoria, já que o tradicional time rival de Carl Haas e Paul Newman tinha se mudado de mala e cuia para a IRL. Com 7 vitórias em 19 corridas, Cristiano não deu chance a ninguém e fechou o ano com 73 pontos à frente do vice-campeão, Bruno Junqueira (dois brasileiros disputando o título de uma categoria como a Indy. Que coisa, não?).

Paralelo a isso, a Toyota começava, em 2002, sua aventura na F1. Depois de muitos quilômetros de testes realizados durante a temporada anterior, os japoneses ingressaram na temporada com a dupla Mika Salo e Alan McNish, os dois pilotos envolvidos no desenvolvimento do time. Não era preciso ser vidente para saber que não daria certo e não deu. Com apenas 2 pontos marcados na temporada, a Toyota resolveu qualificar sua dupla de pilotos para 2003, já que era preciso fazer jus à grana que fábrica japonesa havia investido na F1.

Depois de buscar Olivier Panis, que havia passado uma temporada sabática em 2002, a Toyota trouxe Cristiano da Matta com status de estrela do automobilismo. O carro para a temporada já nasceu andando bem, tão bem que levantou suspeitas de ser uma cópia da Ferrari 2003 GA, usada naquela temporada. Nada ficou provado.

Com esse carro, Da Matta fez uma ótima temporada de estreia na F1. Marcou 10 pontos no ano, 4 a mais do que o experiente companheiro de equipe. Mais do que isso: liderou 20 voltas do GP da Inglaterra daquele ano, com autoridade de campeão, sem ceder à pressão de Kimi Raikkonen, que estava colado em sua caixa de câmbio.

Da Matta x Schumacher – 1003 – Barcelona
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Depois de uma temporada tão boa, parecia que 2004 seria o ano da equipe japonesa. Mas só parecia. O carro nasceu mal, tinha problemas de confiabilidade e o chassi era extremamente desequilibrado. Nos bastidores, a chegada de Mike Gascoyne, vindo da Renault, tornou o ambiente bastante pesado. No documentário “Família Gasolina”, disponível no Youtube, Toninho da Matta conta que Cristiano começou a se encher da F1, pois não gostava de andar atrás e não via perspectiva de melhora na equipe. Cada vez mais desmotivado, o brasileiro acabou dispensado depois do GP da Alemanha daquele ano, sendo substituído pelo piloto de testes Ricardo Zonta.

Da Matta retornou à Indy em 2005, pela PKV. Nessa época, a categoria já se encontrava em franca decadência, perdendo na concorrência para a IRL, contando com equipamentos defasados, poucos fabricantes envolvidos e pilotos de qualidade duvidosa. Cristiano venceu uma prova na temporada, no tradicional circuito de Portland. Para 2006, Da Matta se mudou para a Dale Coyne. Durante um teste, no meio da temporada, em Elkhart Lake, Cristiano atropelou um cervo, foi atingido na cabeça pelo animal e bateu com força no muro. Por se tratar de um teste privado, o socorro demorou, e Da Matta acabou tendo pouca oxigenação no cérebro, ficando em coma por quase dois meses.

O acidente praticamente encerrou sua vitoriosa carreira. Nos anos seguintes, depois de se recuperar, Cristiano ainda competiu em provas de longa duração e na Fórmula Truck brasileira. Hoje, toca o negócio da família em BH, uma loja de equipamentos esportivos voltados para praticantes de ciclismo.

Dentre todos os brasileiros que estiveram na F1 na era pós Senna, talvez Cristiano tenha sido (junto com Massa e Barrichello) aquele com mais potencial para ser campeão. Tinha preparo, conhecimento e velocidade. Mas, infelizmente, as coisas acabaram não casando no momento. Uma pena.

Bruno Aleixo
São Paulo – SP

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