Bem-vindo ao clube, Felipe Massa!

domingo, 9 de janeiro de 2011 às 17:40

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Bem-vindo ao clube, Felipe Massa

É difícil descrever o que senti neste domingo em Interlagos. Nunca vi um campeonato ser decidido na última curva. A corrida não foi emocionante, mas as últimas três voltas ficarão para sempre na história da F1. Felipe Massa foi o campeão mundial por pouco mais de 30 segundos, mas então Timo Glock – que nem deveria estar ali – não resistiu e perdeu a derradeira quinta posição para Lewis Hamilton.

Felipe não ganhou o título, mas o Brasil ganhou um ídolo. Felipe foi simplesmente brilhante, não somente como piloto, mas como pessoa. Nessa temporada mostrou muito de si mesmo. Começou tendo um ano muito difícil, cometeu erros nas duas primeiras corridas, ficou para trás no campeonato e foi massacrado impiedosamente pela midia que já o dava como um fracassado e fora da Ferrari. Aguentou uma pressão impressionante, deu a volta por cima e na terceira corrida (Bahrain) partiu para a vitória. Na quarta corrida (Espanha) chegou em segundo e venceu novamente na quinta na Turquia. Venceria a sexta também, mas então foi a equipe quem cometeu um erro e ele chegou em terceiro.

A sexta corrida vale um comentário. Foi em Monaco, lugar que Felipe até então nunca havia tido um desempenho de encher os olhos. Junta-se a isso o tempo chuvoso no principado e um cenário desastroso parecia montado para ele. Mas Felipe, mostrando muito profissionalismo e vontade de melhorar, declarou que estudou a telemetria do companheiro de equipe, comparou com a sua, viu em quais pontos da pista era mais lento e junto com seu engenheiro mudou o acerto tradicional que fazia em seu carro. Resultado: De azarão, Felipe foi dominante em Monaco como poucas vezes se viu, principalmente com pista úmida.

Depois disso Felipe definitivamente tornou-se o piloto número 1 da Ferrari ofuscando completamente seu companheiro Kimi Raikkonen, até então campeão mundial. Nas corridas seguintes, até a derradeira em Interlagos e com a única exceção em Silverstone, quando por conta de um acerto equivocado fez uma corrida abaixo da crítica, Felipe dominou o campeonato junto com Lewis Hamilton. Ambos dividiram as honras ao fazerem corridas espetaculares de encher os olhos, agressivos e sempre partindo para tentar as vitórias.

Ao chegarem em Interlagos, uma série de circunstâncias inerentes a um campeonato longo, fizeram com que Felipe não dependesse apenas de seu resultado. Mesmo vencendo, Hamilton poderia chegar até o quinto lugar que seria o campeão. Restava a Felipe fazer sua parte, partir para a vitória e torcer para algum infortúnio do inglês. E isso, como todos vimos, chegou perto, mas muito perto de acontecer.

O que impressiona em Felipe Massa e o que o tornou definitivamente um ídolo nacional é um conjunto de atitudes e demonstração de caráter. Foi forte o suficiente para dar a volta por cima no início da temporada. Foi forte para conquistar o posto de número 1 da Ferrari. Foi forte para melhorar sua performance em todas as pistas do calendário. Foi muito forte para não cair no ôba ôba da imprensa ufanista nacional desde que a F1 chegou no Brasil para a última corrida. Foi forte para ser um cavalheiro com seu adversário tratando-o com respeito e amizade profissional em todas as vezes que se encontraram antes da batalha final. E principalmente foi forte sabendo perder. Sim, um ídolo e um verdadeiro campeão tem que saber perder. Ele não gosta de perder, odeia perder, mas ele sabe que não é possível vencer todas. Ele sabe e tem a confiança que fez tudo que poderia para vencer e isso só não aconteceu devido às circunstâncias. Felipe foi provocado o tempo todo – antes e depois do GP Brasil – para culpar sua equipe, caso não vencesse o título como não venceu. Mas demonstrando muita força de caráter não caiu nenhuma vez na tentação de fazê-lo. Não deu desculpas, não se lamentou, não choramingou e não apontou culpados. Poderia ter demonstrado alguma desconfiança ou desagrado em relação a Timo Glock, que perdeu a quinta posição para Hamilton na última curva da última volta, mas não o fez. Ainda bem, pois por tudo isso e mesmo sem sem ter conquistado o título ainda, o que no Brasil sempre foi obrigatório, Felipe Massa é o mais novo membro da galeria de ídolos do automobilismo brasileiro!

Mas e o campeão? O campeão foi Lewis Hamilton, na minha opinião um monstro atrás do volante, o melhor piloto que já apareceu nos útlimos 15 anos. Um legítimo herdeiro do maior de todos e ídolo dele mesmo, Ayrton Senna. Só isso!

Grande abraço!

Adauto Silva
adauto@autoracing.com.br

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