As voltas do destino

quarta-feira, 17 de agosto de 2022 às 16:27

Bertrand Gachot

Colaboração: Antonio Carlos Mello Cesar

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Hyde Park, outrora terras da Abadia de Westminster, mais tarde, século XVI, transformado em área de caça pelo rei Henrique VIII. Localizado no centro de Londres, atualmente atrai milhares de visitantes, porém naquele dezembro de 1990, a tarde cinza, úmida, o vento gelado, afugentara seus frequentadores.

Frente o parque, tremenda confusão, um motorista abandona seu taxi no meio da rua, confluência da Marble Arch e Oxford Street. Tomado de fúria parte em direção a outro condutor, consegue abrir a porta, agarra um jovem engravatado e tenta tira-lo do veículo vociferando blasfêmias.

Com medo da iminente surra o rapaz, Bertrand Gachot, saca um tubinho de gás lacrimogêneo borrifa nos olhos do brutamonte que aturdido se afasta, Bertrand foge. Uma altercação, cuja decorrência mudaria completamente a vida e trajetória de dois pilotos na F1.

Nascido em Luxemburgo, cidadão francês devido nacionalidade dos pais, Bertrand Gachot estreou no mundial de F1 (1989) pela equipe Onyx, quase nunca passando da pré-classificação. Antes mesmo do final da temporada foi substituído por um finlandês de nome estranho, Jarki Juhuni Jarvilehto (J.J.Lehto).

Ano seguinte pilotou para a horrível Coloni, cujo único carro, além de pesar 200 kg. a mais que os outros, utilizava motor Subaru boxer 12 cilindros, defasado frente à potência dos V10 e V12 de Honda e Ferrari. Temporada desastrosa.

Temporada 1991 iria dirigir o Jordan-Ford J 191, primeira assinatura do projetista Gary Anderson, numa equipe estreante Jordan Grand Prix. Seu companheiro de equipe um veterano, Andrea de Cesaris, piloto muito veloz com fama de moer cambio, pneus, freio, motor.

Então tudo mudou um surpreendente quinto lugar no Canadá, sexto na Inglaterra e Alemanha, volta mais rápida em Hungaroring, fez o francês ganhar holofotes sustentando a boa fama adquirida nas categorias de base.

Resoluto, autoestima lá em cima, Bertrand Gachot confidenciava para Eddie Jordan: “Acho possível conseguir a pole-position no próximo GP. Spa-Francorchamps é a pista ideal, nosso carro impressiona nas curvas de alta velocidade e com sorte podemos até vencer a corrida.”

14 de agosto, onze dias antes do GP da Bélgica, Gachot comparece a Corte inglesa onde os fatos acontecidos em dezembro de 1990 seriam julgados, uma simples briga de trânsito sem maior consequência.

Bertrand recebe dura pena, dois anos de prisão. Portar gás C2 era proibido na Inglaterra, o juiz considerou uso da substância como arma, enquanto seu desafeto estava de mãos limpas. Algemado foi direto para prisão de Brixton, lugar severo destinado a malfeitores peçonhentos.

A Mercedes se mostrava disposta colocar um de seus jovens pilotos na F1 e ainda pagar 150 mil libras por corrida. Eddie contando tostões para se manter como equipe, sem piloto para um de seus carros, agarrou a proposta dos alemães. Não tinha menor ideia de quem era aquele rapaz de 22 anos Michael Schumacher que disputava o grupo C, categoria protótipo, no campeonato de endurance.

Os advogados conseguiram transferir de Gachot para um instituto penal agrícola e seis meses depois sua liberdade Bertrand ainda retornou à F1 por equipes minúsculas como Larrousse, Venturi, Pacific. Enquanto isso, o piloto que o substituiu no GP da Bélgica ascendia na categoria de forma avassaladora.

Partir de 1997 o francês abandonou as corridas dedicando-se a vida empresarial, sonho da F1 finito. Mesmo tempo Schumacher acumulava campeonatos e batia recordes. Hoje Gachot está milionário, atua como diretor presidente da Hype Energy Drinks marca presente em mais de 40 países e Schumacher vegeta numa cama, desde 2013, após trágico acidente nos Alpes Franceses

Antonio Carlos Mello Cesar
São Paulo – SP

AS - www.autoracing.com.br

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