Adauto Silva: Pontuação dupla no final pode ser a salvação de quem?

Daniel Ricciardo cercado por jornalistas em Jerez

Os testes de pré-temporada da F1 não servem para saber quem será o campeão do ano e nem para mostrar qual ou quais serão os melhores carros durante toda a temporada. Antigamente, quando os testes eram livres durante o ano todo, blefava-se bastante nestes testes de pré-temporada. Tinha equipe que andava fora do regulamento, abaixo do peso, algumas equipes escondiam o jogo e fazia-se todo tipo de falcatrua para se conseguir mais patrocinadores ou acalmar os já conquistados.

Mas isso era antigamente.

Atualmente todos os testes de F1 estão proibidos. Os únicos testes que a F1 pode fazer em pista são esses de pré-temporada, ou seja, em 2014 quatro dias em Jerez e oito no Bahrain. É isso, acabou, não se testa mais. Minguados doze dias, quando você deve se lembrar que as grandes equipes testavam mais de 90 dias até alguns anos atrás. Portanto, a importância desses testes é fundamental, ainda mais num ano de mudança total do regulamento, onde motor, aero e pneus são novos, totalmente novos.

Os quatro dias em Jerez já eram. Quem testou, testou, quem não testou só terá os oito dias no Bahrain. Serão apenas oito dias que começam daqui duas semanas.

Mas o que ficou claro nesses quatro dias em Jerez?

Algumas coisas.

A primeira é que os boatos que a Mercedes teria o melhor motor estão se confirmando. O motor alemão completou 875 voltas em Jerez sem apresentar qualquer problema. O motor Ferrari deu 444 voltas e o Renault 151. Além disso, o Mercedes ficou com 4 dos 5 melhores tempos da semana.

A segunda é que o ronco dos motores ficou legal, ou seja, a gritaria de Bernie Ecclestone não se justifica. Alguns podem preferir o ronco dos V8, outros – como eu – até dos V12, mas isso não quer dizer que os V6 turbo ficaram ruins, longe disso. E ainda vai melhorar, já que ninguém andou no limite dos 15 mil rpms em Jerez.

Mas surpreendentemente, o que ficou muito claro nesses quatro primeiros dias é que a Renault, Lotus e Red Bull começaram perdendo. E muito.

A Lotus porque simplesmente não teve carro e nem dinheiro para participar. A Renault porque deu vexame com sua “unidade de energia” repleta de problemas, na verdade uma lista deles como o próprio diretor Rob White confessou.

E a Red Bull? Bem, a Red Bul foi a equipe que menos andou. Completaram ridículas 21 voltas, 11 com Vettel e 10 com Ricciardo. Dos pilotos que marcaram voltas cronometradas, Vettel foi o 17º colocado e Ricciardo o último. Tudo por culpa de superaquecimento. Do motor? Não só do motor, de tudo, de todos os sistemas e sub-sistemas auxiliares do motor.

Se a Red Bull teve problemas de superaquecimento em Jerez, onde a temperatura nunca passou dos 12º nos testes, imagina no calor do Bahrain.

Adrian Newey e Christian Horner foram embora de Jerez na quinta-feira, um dia antes do final – conscientes que Newey e sua turma – ou o que restou dela depois da debandada no final de 2013 – terão que redesenhar grande parte do carro, talvez inteiro.

E desenhar o carro de novo é um problema. Não só pelo tempo exíguo, mas porque os conceitos desenvolvidos para este carro terão que mudar, portanto será que a versão B terá uma aero tão boa quanto esta que está provocando o superaquecimento? O carro terá que mudar muito, até porque não é somente o motor que está aquecendo demais, é o sistema todo, incluindo partes do sistema de recuperação de energia, que necessita de bastante refrigeração para funcionar sem travar.

E a Renault conseguirá arrumar os problemas de motor em 15 dias para os testes no Bahrain, depois de ter tido 2 anos para projetar, fabricar e testar no dinamômetro esta geringonça que foi a Jerez?

Pra mim as equipes Renault estarão em sérios apuros no primeiro terço da temporada – o GP da Austrália é daqui há 6 semanas -, especialmente a Red Bull. Depois devem resolver, mas duvido que haja tempo para uma recuperação no campeonato!

Opa! Esqueci… tem a tal regra da pontuação dupla no final!

Adauto Silva

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