Adauto Silva: Hamilton na Ferrari não repete Schumacher

sábado, 13 de setembro de 2025 às 14:35

Michael Schumacher e Lewis Hamilton

Por Adauto Silva:

Ida de Hamilton para a Ferrari totalmente diferente da de Schumacher

As pessoas estão se acostumando a comparar a ida de Schumacher para a Ferrari em 1996 com a de Hamilton Ferrari 2025, mas isso é um tremendo equívoco.

Schumacher foi no auge; Hamilton já tem 40 anos

Primeiro que Schumacher foi para a Ferrari com 27 anos no auge da sua forma física e técnica, já sendo um bicampeão mundial. Hamilton foi com 40 anos.

Segundo, e talvez ainda mais importante, Schumacher recusou as primeiras propostas da Ferrari porque ele não queria ir ainda. Ele tinha um status quo e uma equipe técnica na Benetton que praticamente lhe garantira mais títulos lá.

Quem orientou Schumacher naquela época foi Ross Brawn. Anos depois, ele deu uma entrevista dizendo, entre outras coisas, o que disse para Schumacher fazer para a Ferrari pensar mil vezes antes de contratá-lo, já que ele não queria ir. O Autoracing publicou essa entrevista e depois a confirmou quando o editor-chefe do site, Adauto Silva, conversou pessoalmente com Ross Brawn durante o GP do Brasil de 2009 num evento da equipe num hotel na cidade de São Paulo.

Nesse evento, os patrocinadores atrasaram para chegar e praticamente todos foram embora. Ficaram apenas o próprio Ross Brawn, um assistente dele na época e eu mesmo, que lhe escreve essas linhas. Eu contei o que aconteceu num Podcast Loucos por Automobilismo muitos anos atrás. Como Ross não foi embora esperando os patrocinadores chegarem, a maioria deles empresas brasileiras que estavam patrocinando a equipe somente para aquele GP do Brasil, consegui conversar com Ross durante cerca de 40 minutos.

Durante esse período, fiquei absolutamente pasmo com como ele entendia tudo sobre Fórmula 1. Não somente a parte técnica, mas absolutamente tudo que envolvia a categoria. Foi disparado a conversa mais esclarecedora que tive com alguém sobre Fórmula 1 na minha vida. Me tornei um super fã de Brawn naquele dia.

Brawn confirmou a entrevista e revelou detalhes

Naquela entrevista que o Autoracing havia publicado anos antes de uma fonte bastante fidedigna, dizia-se que Brawn orientou Schumacher a ir pedindo mais para a Ferrari cada vez que Maranello o abordava. Não somente mais dinheiro, mas outras coisas tão importantes quanto. Coisas que a Scuderia não estava acostumada a ceder em seu vasto histórico na Fórmula 1.

Perguntei a Brawn se aquela entrevista tinha sido verdadeira, se tudo o que aquela mídia inglesa havia dito era real. Ele confirmou e ainda me contou mais alguns poucos detalhes e como as coisas aconteceram.

Como Ross Brawn orientou Schumacher

Além do próprio Schumacher, Brawn também não achava que o alemão devia ir para a bagunçada e tecnicamente atrasada Ferrari naquele momento. Ambos tinham certeza que poderiam vencer mais um ou dois títulos na Benetton e só depois pensar noutra equipe.

Então Brawn orientou Schumacher a não esnobar a Ferrari. Pediu para ele ir solicitando mais coisas para ver até onde Maranello iria nas exigências do alemão, já que não existia outro piloto de ponta mesmo na F1 naquela época como Schumacher.

E foi isso que Michael Schumacher fez. Ele exigia algo mais e a Ferrari ia concordando. Até que chegou num ponto onde o próprio Ross Brawn, pasmo com a aceitação de tudo que era pedido, disse para Schumacher:

“Bom, agora você decide. Eles aceitaram tudo e no mínimo você ganhará um dinheiro que imagino nunca ter pensado. Quanto a títulos, é bem possível, mas talvez não a curto prazo, já que uma revolução dessas pode demorar um pouco para tudo se encaixar.”

As exigências básicas de Schumacher

* Poder e controle: A principal exigência de Schumacher era ter total controle sobre a equipe de F1. Ele queria montar sua própria equipe técnica e de engenheiros.

* Contratação de uma equipe de confiança: Para isso, ele exigiu a contratação de duas figuras cruciais da Benetton: o próprio Ross Brawn, estrategista-chefe, e Rory Byrne, o projetista do carro, além de vários técnicos e mecânicos que sua equipe precisasse. A Ferrari aceitou e isso foi fundamental para o sucesso que viria nos anos seguintes.

* Status de piloto número 1 em toda e qualquer circunstância: Schumacher teria o status de piloto principal, com seu companheiro de equipe em um papel de apoio. O alemão teria o direito inclusive de aprovar ou não qualquer piloto que a Ferrari contratasse para ser seu companheiro de equipe.

* Um salário inicial 3x maior do que ele ganhava na Benetton, com bônus por vitória, pelo P2, pelo P3 e pelo título, este último dobrando tudo que ele pudesse ganhar no ano.

Quero Autoracing VIP

A Ferrari aceitou tudo isso porque estava desesperada. Não ganhava um título desde 1979 com Jody Scheckter. Além do mais, me disse Brawn, era mais ou menos isso que a Ferrari estava oferecendo para Ayrton Senna ir para lá em 1996. Seria depois de provavelmente também ganhar dois títulos com a Williams.

“Então isso ajudou, apesar de eu não saber exatamente se eram as mesmas coisas que eles ofereceriam a Ayrton, que até onde eu sei, ainda não havia feito suas exigências a Maranello,” confirmou Brawn.

Por que a comparação com Hamilton não faz sentido

Portanto, confrade, a ida de Michael Schumacher para a Ferrari em 1996 não tem absolutamente nada a ver com a ida de Hamilton Ferrari 2025.

Talvez uma relação mais realista seria comparar a saída de Hamilton da McLaren para a Mercedes. Pelo menos no quesito “auge de idade”. O Dude sempre me disse que o “aceite” de Hamilton para a Mercedes foi muito mais um “ato de fé” que ele tinha em relação ao futuro da equipe — inclusive com Ross Brawn lá tendo-o convencido — do que exigências do piloto inglês.

Adauto Silva
Leia e comente outras colunas do Adauto Silva

AS - www.autoracing.com.br

Tags
, , , , , , , , ,

ATENÇÃO: Comentários com textos ininteligíveis ou que faltem com respeito ao usuário não serão aprovados pelo moderador.