Adauto Silva: Apostei no campeão deste ano e ainda não me arrependi

segunda-feira, 23 de agosto de 2021 às 1:24

Lewis Hamilton e Max Verstappen

Por: Adauto Silva – Logo após a curtíssima pré-temporada da F1 no Bahrain de apenas 3 dias este ano, as casas de apostas já abriram as cotações para o primeiro GP do ano – que foi no Bahrain também – e para o piloto campeão de 2021.

Eu não tive dúvidas. Após acompanhar a pré-temporada inteira ao vivo pela F1TV com inúmeras câmeras onboard assistindo por longas horas alguns pilotos, principalmente Hamilton e Verstappen, cravei minha aposta no vencedor da corrida de estreia da F1 em 2021: Max Verstappen.

Fiz isso porque o carro da Mercedes estava realmente muito ruim e eles tinham muito pouco tempo, além das mãos amarradas pelo regulamento, para tentar arrumar tudo que era necessário. O carro simplesmente não tinha aderência suficiente na dianteira e nem na traseira. Sambava nas entradas, contornos e saídas de curva, não importando as linhas e freadas diferentes que Lewis tentava. Com UP, chassi, suspensão e quase tudo congelado para este ano, os Prateados precisariam de um pequeno milagre para tornar o carro competitivo a ponto de desafiar seriamente a Red Bull de Max.

Digo “Red Bull de Max” porque ele tem o RB16B nas mãos. É um carro com a frente muito pregada e traseira mais solta. Mas acima de tudo, é um carro muitas vezes imprevisível em entrada de curvas de média quando pilotado de maneira convencional, ou seja, fazendo aquela linha de corrida geométrica clássica que 99 entre 100 pilotos fazem para contornar uma curva e a deixar mais “reta” possível.

Traçado geométrico

O carro inclusive desgasta mais os pneus com esse tipo de tocada clássica, pois os pressiona durante muito tempo contra o asfalto desde a freada na entrada da curva até a saída completa dela. Em outras palavras, o carro passa muito tempo “curvando”.

Grandes pilotos

Max, assim como Hamilton, tem um talento muito fora do comum e entendeu rapidamente como pilotar um carro que tem uma entrada de curva complicada. Em 2019 e 2020 ele já pilotava o carro de maneira diferente, mas mesmo assim faltava potência na UP e um pouco menos de imprevisibilidade, principalmente em curvas de média. A Red Bull conseguiu melhorar isso, finalmente entendeu o que precisava ser feito para o seu melhor piloto ter mais de confiança nas entradas de curva.

O carro ainda não é totalmente previsível, tanto que Checo não consegue guiá-lo no limite, mas Max passou a guiar de forma ativa, não reativa como era obrigado a fazer antes.

Isso fez com que o carro “casasse” muito melhor com a tocada que Max já vinha fazendo desde 2019 e que Gasly e Albon não conseguiam de jeito nenhum.

Essa é a linha que Max faz na maioria das curvas (Lewis também usa essa técnica em algumas curvas, inclusive em Silverstone na curva imediatamente antes de chegar em Max). Ele freia mais forte com o volante mais reto e mais dentro atrasando o apex da curva e carregando menos velocidade para dentro dela, mas reacelerando antes para aproveitar melhor a reta seguinte. Norris também guia a McLaren atual assim, mas por razões diferentes.

Após a primeira corrida no Bahrain, onde Max não ganhou por uma mudança bizarra de “norma” durante a corrida – relativa aos limites de pista – senti que ele realmente tinha o carro nas mãos e era muito, muito rápido. Mesmo com um défice de pelo menos 20 hp em relação a UP da Mercedes, ele era mais rápido que a Mercedes de Hamilton, que como eu e você sabemos, tira tudo do carro.

Aliás, este ano também podemos dizer “Mercedes de Lewis”, já que o carro piorou, se tornou mais difícil de guiar por causa do corte no assoalho e a diferença de Lewis para Bottas passou a ser brutal também. A diferença em pontos de Lewis para Bottas este ano é basicamente a mesma da de Max para Checo. E isso só mostra mais uma vez que quanto mais complicado o carro, mais o grande piloto se sobressai.

Detalhes

Sabedor que a Honda tinha pedido autorização para a FIA para mudar o mapeamento de sua UP no sábado de classificação – tirando potência – depois de problemas de refrigeração no carro de Tsunoda e de Gasly e vendo o problema na volta de formação do grid para a corrida no carro de Perez, achei que com menos 20 hp numa pista como Sakhir, Max talvez não tivesse muitas chances.

Mas me enganei. Ele foi quase 4 décimos mais rápido que Hamilton na classificação e na corrida tinha mais ritmo. Então entendi que quando a Honda arrumasse esses problemas de refrigeração e de alguns pontos de fixação de alguns componentes da UP, Max seria ainda mais rápido.

E sendo mais rápido, não teria como a Mercedes melhorar tanto o seu carro – que já foi um espanto o que conseguiram melhorá-lo naquele curto espaço de tempo. Mas o corte no assoalho foi um tiro de canhão no carro da Mercedes, que usava aquela parte cortada em sua aero melhor do que ninguém.

Por isso, não tive dúvidas em apostar em Max como o campeão de 2021. Isso foi alguns dias após o GP do Bahrain e Max estava pagando 7 para 1 para o título de 2021.

As corridas seguintes só mostraram que minha aposta foi certa. A Red Bull de Max foi se mostrando o carro mais rápido em quase todas as pistas, enquanto Max foi se mostrando gelado, focado e cada vez mais confortável no carro.

As corridas

O segundo GP do ano em Imola foi vencido com muita autoridade por Max. Depois veio Portugal e confesso que foi o primeiro momento em que uma pulga entrou atrás da minha orelha, pois Hamilton ganhou com muita diferença, uma facilidade que eu não esperava, apesar da UP fazer grande diferença lá.

Aí fomos para a Espanha, uma “pista Mercedes” e vi que o desempenho da Red Bull de Max era superior. Perderam a corrida por uma bobeada incrível na estratégia, mas a performance estava lá. E vi que Max não se abalou.

Mônaco a Azerbaijão foram passeios de Max, que só não venceu ambas porque seu pneu explodiu sem avisos no final daquela reta enorme de Baku faltando 3 voltas para a bandeirada. Foram 25 pontos junto com aquela explosão.

Então chegamos em Paul Ricard, outra “pista Mercedes”, mas agora com a UP Honda bem refrigerada, os pontos de fixação corretos e com mapeamento para extrair toda a potência. O que aconteceu? Nova vitória de Max, apesar da Red Bull ter feito uma estratégia arriscada que não precisava e quase ter colocado tudo a perder.

No primeiro GP na Áustria foi outro passeio de Max. No segundo GP na Áustria mais uma vitória tranquila. Naquelas alturas Max já tinha 32 pontos de vantagem sobre Hamilton, mesmo tendo perdido 25 na explosão de Baku, senão a diferença já estaria em pelo menos 57 pontos.

Então chegamos em Silverstone, outra pista que a Mercedes venceu quase todas as corridas nos últimos 7 anos. Na corrida curta de classificação, Hamilton tentou tudo na primeira volta, pois o heptacampeão sabia que teria que usar toda a sua tocada superior com pneus frios para tentar ultrapassar Max, porque quando os pneus esquentassem, ele não teria mais chances.

E não teve mesmo. Max passeou pelas 17 voltas da corrida curta.

No domingo do GP, eu, você, o Hamilton, o Verstappen e todo o mundo sabia que Lewis atacaria com tudo na primeira volta, pois era a sua única chance de tentar fazer alguma coisa.

Então Max, na minha opinião, cometeu o primeiro erro da temporada quando se está disputando um título mundial. Foi dividir uma curva feita a 290 km/h por fora contra Lewis, mesmo sabendo de tudo que escrevi acima. Levou a coisa para o lado pessoal, quis fazer aquela curva na frente de Hamilton quando simplesmente devia ter recolhido e deixado para ultrapassar Lewis depois, quando certamente o faria, pois tinha mais carro para isso. Mais 25 pontos jogados fora e uma polemica sem fim sobre o incidente.

Daí chegamos na Hungria e o azar de Baku voltou. Max largou em P3 e faria a primeira curva em P2, mas Bottas perdeu o carro na pista molhada e causou um strike que acabou acertando Max na primeira curva. Ele voltou depois da bandeira vermelha, mas o carro tinha muitos danos para que ele pudesse disputar alguma posição relevante.

É importante dizer que a Mercedes melhorou na Hungria. O pacote para a corrida conseguiu pregar o carro um pouco mais e a mudança no mapeamento da UP privilegiando as baixas / médias rotações se mostrou certeiro.

E assim estamos. Sem os dois azares de Baku e da Hungria e sem – na minha opinião – a devida experiência em Silverstone, Max iria agora para o GP da Bélgica cerca de 65 pontos à frente no campeonato e não 8 atrás como está.

Segunda metade de 2021

Agora vamos a segunda parte da temporada. Ninguém sabe quantas corridas teremos, pois alguns GPs estão ameaçados pela interminável crise do COVID-19, no mínimo três deles. Originalmente teríamos 12 corridas ainda, mas esse número pode cair. A corrida da Austrália ainda não foi substituída. Turquia, México e Brasil ainda precisam de uma confirmação final, o que só acontecerá num futuro próximo. E isso é importante, pois as chances de Hamilton e Verstappen também tem a ver com as pistas…

De qualquer maneira os Prateados devem melhorar, mas os Touros provavelmente devem melhorar mais ainda, já que eles não querem e não vão desistir desse campeonato em prol de 2022. E como Max e Hamilton são pilotos que tiram tudo de seus carros, quem tiver um carro pouco melhor corrida a corrida deverá ser o campeão.

Por isso acho que apostei certo e teremos Max Verstappen como o campeão deste ano.

Adauto Silva
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