A situação difícil de Lewis Hamilton

sexta-feira, 18 de abril de 2025 às 20:38

Lewis Hamilton

Por: Adauto Silva

O grande Lewis Hamilton, sete vezes campeão mundial, dono da maior torcida da Fórmula 1 e dos recordes mais importantes – como vitórias (105) e poles (104) – está passando por maus bocados desde 2022 quando esse novo regulamento de efeito solo com túneis de Venturi chegou na F1.

Sim, existe um pequeno problema da idade. Hamilton já tem 40 anos e obviamente não tem mais os reflexos tão apurados de 8 ou 10 anos atrás.

Tem também o problema da “fome”, apesar de ele dizer que tem a mesma de antes. Ora, ele é humano, pode-se até dizer que é um super-humano de tantas glórias e conquistas que teve em sua carreira como piloto de carros de corrida. Mas obviamente ele não “vive e respira” Fórmula 1 durante 100% do tempo como fazia antes.

Tudo isso certamente vem tirando alguma velocidade dele, provavelmente não muita, já que o talento natural dele está ali intacto, mas tirou. Não sei quanto e nem vou chutar, mas eu duvido que se ele pegasse agora o carro da Mercedes de 2015 (quando ele foi tricampeão) exatamente com as mesmas configurações e pneus, ele faria o mesmo tempo de alguma pole que ele fez naquele ano, ou teria o mesmíssimo ritmo de corrida. Ele seria um pouco mais lento, talvez ainda suficiente para vencer aqueles títulos, porém com menos facilidade.

Mas, apesar de tudo isso, eu tenho plena convicção por tudo que leio, assisto (principalmente horas e horas de câmeras onboard) em relação a ele e aos outros pilotos de ponta, que Hamilton poderia ainda ser campeão mundial nesse ano e talvez no próximo.

Menos por um fator. Há algo que praticamente mata suas chances.

O fator são esses carros de efeito solo via túneis de Venturi. Esses carros tem uma tendência natural de serem traseiros, saírem de traseira principalmente nas saídas de curva. Isso se dá também devido á proibição por parte da FIA de desgastar a prancha embaixo do assoalho justamente mais na parte traseira da prancha.

Isso mata a tocada natural de Hamilton, que é frear depois dos outros pilotos de ponta e reacelerar no mesmo tempo dos outros. Essa é uma das principais qualidades de Hamilton e é isso que mais o faz ganhar tempo de volta em relação aos demais pilotos de ponta. Mas com a traseira mais solta nas saídas de curva – porque o carro não pode ir suficientemente baixo para gerar mais downforce na traseira – seu tempo de reaceleração fica muito comprometido.

Com um carro assim, Hamilton não pode usar provavelmente sua principal arma e torna-se um piloto mais comum. Ele sabe isso, já disse isso, mas vem cometendo um erro crucial faz tempo, que é tentar adaptar o carro a essa tocada natural dele.

Sim, é esperado que um piloto tão consagrado como ele tente fazer isso no acerto e com a ajuda da equipe inteira. A Mercedes ajudou, a Ferrari também está ajudando, mas isso tem um limite. Por mais que tente-se mudar a tendência natural do carro, não é possível chegar no ponto que ele precisa, que é um carro neutro com uma leve tendência dianteira.

Hamilton não era assim antes da F1. Ele guiava carros neutros com tendência traseira e ganhava tudo. Mas quando chegou na F1 seu companheiro de equipe era Fernando Alonso, o piloto mais “dianteiro” que eu já vi até hoje. E Hamilton não tinha experiência em acertar carros de F1, ainda mais tendo o atual – na época – bicampeão mundial como companheiro de equipe.

Então ele teve que se adaptar. Ele e a McLaren conseguiam acertar o carro dele para que não ficasse tão dianteiro quanto o do Alonso, mas ainda assim era um pouco dianteiro, mais do ele gostaria. Mas uma coisa é se adaptar com 22 anos de idade com toda a fome e motivação do mundo e outra é aos 40 anos depois de ter vencido tudo o que é possível.

Mas ele já “desistiu” de mudar o carro e sabe que precisa mudar a tocada, mesmo provavelmente perdendo muito do que o diferenciava dos outros durante o processo.

Pior, isso leva tempo. Ele precisa pensar em todas as entradas de curva, ou seja, não vai conseguir pilotar instintivamente até que se acostume (se isso acontecer) a guiar com a traseira mais solta. Em algumas pistas isso não é um grande problema e ele pode ainda se destacar. Mas na maioria é.

Ele vai conseguir ser rápido o bastante consistentemente? Francamente não sei, espero que sim, mas só o tempo vai dizer. O fato é ele não tem muito tempo. Talvez mais meia dúzia corridas antes que a pressão fique insuportável.

Adauto Silva
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