A McLaren vai começar a priorizar algum de seus pilotos na luta pelo título?

Oscar Piastri e Lando Norris

Em fevereiro deste ano, cerca de 4 semanas antes da temporada de Fórmula 1 começar, Oscar Piastri, da McLaren, mostrou uma confiança discreta: “Posso me tornar campeão mundial este ano”, afirmou o piloto australiano sem rodeios.

Embora um pouco prematura, a autoconfiança pareceu genuína. A dupla da McLaren sequer havia dado uma volta de teste. E se um dos dois tinha mais chances de terminar no topo, era o carro número 4 de Lando Norris. Em 2024, Norris perdeu o título por 63 pontos para o atual tetracampeão, Max Verstappen. Mas apesar dos chefes da McLaren insistirem que nenhum dos pilotos era priorizado como o “número 1” da equipe, a luta pelo título de Norris fez com que Piastri às vezes ficasse em desvantagem na estratégia de corrida.

Agora em 2025, Norris liderou a tabela nos quatro primeiros GPs. Mas agora, após GP da Arábia Saudita, a previsão de Piastri para o título tornou-se uma possibilidade palpável.

Pilotando o carro nº 81 com motor Mercedes, ele começou o fim de semana de corrida atrás de Norris, sem conseguir superar o inglês em nenhum dos três treinos livres. Mesmo depois que Norris bateu no muro durante o Q3 na classificação no sábado, Piastri não conseguiu superar o tempo de volta de Verstappen. Mas o australiano aproveitou ao máximo largar em P2 no domingo e disparou à frente para superar a Red Bull na primeira curva. Verstappen, que saiu da pista para manter a liderança da corrida e alegou que Piastri o forçou a sair, foi punido com cinco segundos.

Foi somente na metade da corrida, quando Verstappen fez seu pit stop, que a McLaren enfrentou uma decisão dividida: com Norris na frente — pulverizando seus pneus enquanto seu companheiro de equipe vinha atrás com um conjunto novo e ritmo renovado — a equipe pediria a Piastri que aliviasse a pressão para priorizar a posição de Norris ou instruiria o piloto britânico a trocar de lugar para ampliar a vantagem do carro mais rápido? Norris entrou no pit lane e seu companheiro de equipe disparou para o topo da tabela de tempos. Piastri terminou as últimas 14 voltas sem pressão de Verstappen atrás dele. Norris cruzou a bandeira quadriculada em P4, nove segundos atrás de seu companheiro de equipe, com uma ótima recuperação após largar em P10.

Mas a proximidade das McLarens levantou uma questão mais fundamental que transcendeu a corrida de domingo: quem a equipe vai favorecer no campeonato?

Se a temporada de F1 de 2025 é o prato principal da batalha pelo título entre companheiros de equipe, 2024 foi o aperitivo. O ano passado incluiu uma série de ordens de equipe instruídas no muro dos boxes que impediram que os dois carros brigassem na pista.

Na maioria das vezes, foi Piastri quem desempenhou o papel de apoio enquanto Norris tinha mais pontos e lutava pelo título, mas o primeiro insistiu na pré-temporada que aquilo foi um esforço de equipe, com ambos os pilotos sacrificando posições. Quando a primeira corrida da temporada de 2025 chegou e o herói do GP da Austrália foi brevemente instruído a manter sua posição, parecia que o piloto de 24 anos poderia assumir o mesmo papel do ano anterior, apesar de suas alegações de que a equipe estava “começando do zero”.

Agora, com os dois pilotos da McLaren liderando o mundial de pilotos e 19 corridas pela frente, a McLaren enfrenta o desafio único de ter companheiros de equipe, equipados até agora com o melhor carro, em pé de igualdade. Ambos os pilotos agora têm o mesmo número de vitórias na carreira na F1: cinco, apesar de Piastri ter participado de 82 GPs a menos.

Mas a equipe já tomou decisões fora das pistas, como estender o contrato de Piastri até pelo menos 2028. O contrato de Norris termina em 2027. E mesmo com os dois pilotos disputando a ponta, a McLaren manteve uma imagem de camaradagem e cooperação.

“Temos nossos dois números um”, disse Zak Brown, CEO da McLaren Racing, após a corrida de domingo. “Ainda não os vimos travar uma batalha épica. Acho que esse dia está chegando, estou ansioso por ele.”

Quando chegar o dia, poderá ser mais um choque de personalidades do que um teste de habilidade. Piastri alinhou suas corridas ao lado de pilotos como Verstappen, sem a tagarelice característica do piloto holandês: um assassino silencioso. Norris, por outro lado, insistiu que “pode ser campeão mundial, mas fazendo isso sendo um cara legal”. A indecisão do piloto de 25 anos em frações de segundo, a baixa taxa de conversão de poles em vitórias e a dificuldade em disputas roda a roda contra seu “amigo” Max Verstappen, tem gerado reações negativas e questionamentos sobre sua capacidade de conquistar um título. Na quarta-feira, o ex-piloto de F1 Sebastian Vettel disse que a vulnerabilidade de Norris o torna um grande modelo.

A decisão da McLaren de contratar dois jovens pilotos com personalidades aparentemente opostas foi contra o status quo. E parece ter funcionado. Mas quanto tempo até que apenas um possa vencer? Norris, que chegou à McLaren em 2019, era o futuro favorito da equipe de Woking. Depois veio Piastri.

Apenas 10 pontos separam o líder Piastri de Norris na classificação. Com a atuação dominante deste último em Miami no ano passado, a ordem do campeonato pode mudar novamente já na próxima corrida. Verstappen, cujo apelido de “O Inevitável” soou verdadeiro com uma volta de classificação de tirar o fôlego no sábado em um carro com desempenho ligeiramente inferior, está logo atrás das duas McLarens.

Esta tem sido uma temporada acirrada — desde o primeiro GP — definida por diferenças minúsculas de desempenho e défices de um dígito na ordem do campeonato. Para os fãs (especialmente a base de fãs da F1, mais nova, pós-Netflix), isso significa uma temporada divertida. Para a McLaren, isso significa potencial para a grandeza, correndo o risco de repetir a história.

Mas o líder do campeonato, tão calmo e controlado como sempre, ignorou quaisquer comparações ou perguntas incômodas sobre a dinâmica da equipe depois de acelerar para a vitória em Jeddah: “Não estou tão incomodado pelo fato de estar liderando o campeonato, mas estou orgulhoso do trabalho e das razões pelas quais estamos liderando o campeonato.”