A Magia Rossa Voltou

sexta-feira, 2 de junho de 2017 às 17:17
Ferrari comemora vitória em Mônaco

Ferrari comemora vitória em Mônaco

Colaboração: Victor Manoel de Oliveira Nunes

“Irmãos de Itália (Torcedores da Ferrari), a Itália (Ferrari) levantou-se. Com o capacete de Cipião, coroou a sua cabeça. Onde está a vitória? Que lhes sustentem a cabeleira. Porque foi como escrava de Roma que Deus (Enzo) a criou”.

Parafraseando e traduzindo o início do hino da Repubblica Italiana, evidencia-se total correlação com o atual momento da Ferrari. Além de ser contagiante a emoção dos mecânicos, pilotos, quando a máquina vermelha vence; na cerimônia do pódio então, os cânticos efusivos denotam ainda mais o porquê da Ferrari ser mítica e única.

Críticas ao elevado nível de pressão, ou decisões tomadas sob emoção; fazem parte da “famiglia”. Seria estranho e descaracterizaria La Rossa caso não houvesse o sentimento em detrimento da razão, em algumas circunstâncias. Não vamos exagerar e generalizar. A magia de Maranello é indescritível e somente os apaixonados pela marca entendem o porquê de ela ser assim.

Quase 10 (dez) anos sem títulos e cada vez mais torcedores. Sai Raikkonen, entra Alonso. Retorna Raikkonen. Tchau Alonso e bem-vindo Vettel. Nessa quase década, foram 04 (quatro) vice-campeonatos de pilotos; inúmeras crises e diversas mudanças. E sabe o que é legal? A essência italiana continuou; ainda mais forte.

Infelizmente há preconceito entre os europeus concernente a formação de engenheiros italianos. Muitos afirmam que estão abaixo dos ingleses e porque não alemães. E complementam dizendo que não sabem fazer carro. Conclusão irresponsável e equivocada. O Grupo FCA ao revitalizar sua linha, ratifica que não deve em nada no nível de qualidade. Maserati Quattroporte, Jeep Compass, Fiat Toro, Alfa Romeo Giulia são as provas…

Essa ideia ganhou novos adeptos na medida que a seca aumentava; inclusive propondo a alta cúpula de Maranello a abertura de fábrica na Inglaterra. Por consequência, na mentalidade deles (Briatore…), os melhores profissionais estariam propícios a laborar no polo tecnológico. Algumas das razões de Adrian Newey não ter trabalhado na “Cavallino Rampante”, seria a distância.

Observem que dentre os projetistas da tricampeã Mercedes AMG, está o italiano Aldo Costa. Evidente que o “símbolo” Ferrari deve ser formado por colaboradores de diferentes etnias. Todavia, a “síndrome” propagada de inferioridade e não absorvida por Sergio Marchionne, foi essencial para o ressurgimento dos vermelhos.

“Há séculos (décadas) que somos espezinhados, desprezados, porque não somos um povo. Porque nos dividimos. Reunamo-nos sob uma única bandeira: uma esperança. De nos reunirmos. Soou a hora”…

Mesmo contra os cenários pessimistas e prognósticos que apontavam o fiasco do SF70H; desde a ausência de originalidade, a “ilógica” implementação de práticas de gestão empresarial no mundo da F1; a inexperiência dos engenheiros; o Presidente não cedeu à pressão e confiou no exército convocado.

Outros dirão que o projeto é do inglês James Allison; ou começaram a projetar o bólido no fim de 2015. Não importa; o fato é que a Ferrari voltou a ser Ferrari. E nossos domingos tornaram-se mais emocionantes.

Quando se menciona Marchionne, lembramos primeiramente do seu suéter preto. Contudo, é incrível a sua capacidade de observar o que realmente necessita ser feito. Ou seja, estratégia e execução é um dos múltiplos pontos fortes que apresenta. Além de motivar e incentivar os colaboradores, horizontalizando a estrutura do trabalho; garante recursos necessários para desenvolver as atividades em excelência.

Aos que conhecem de perto o seu método, talvez não estejam surpresos que na 3ª temporada, a Ferrari já brigue pelo título em condições de igualdade com as flechas prateadas.

Falar em liderança, não podemos nos esquecer de Maurizio Arrivabene. Alguém viu nas 06 (seis) vitórias da Ferrari ele ir ao pódio receber o troféu de construtor? Ele claramente é um líder que sai dos holofotes e o “nós” está acima do “eu”. Em outras palavras, quando não logra êxito, defende a sua equipe. E quando tudo dá certo, dá a oportunidade para que membros da Scuderia recebam o crédito do esforço comum. Essa singela atitude faz diferença absurda, pode ter certeza.

A vitória no GP de Mônaco, com direito a dobradinha é o símbolo da nova era; último 1-2 GP da Alemanha 2010 “Felipe, Fernando is faster than you”. E pasmem, 16 (dezesseis) anos que não vencia nas ruas do Principado. Naquela época, eu tinha 09 (nove) anos e estava na quarta série. Uma eternidade por tratar-se de Ferrari.

A Scuderia só nos surpreende positivamente. Tocante o gesto no Grande Prêmio da Espanha quando levou o pequeno francês Thomas ao Motorhome para conhecer o ídolo finlandês e em sequência, junto aos mecânicos, observou o alemão levantar troféu de segundo colocado. Experiência extraordinária e inesquecível. A humanização que pedimos no esporte, finalmente chegou. Bernie, com todo respeito, definitivamente não faz falta. Avanço e tanto!

Escrever sobre magia, encanto, mudança… não poderíamos deixar de registrar o amadurecimento do Sebastian Vettel depois do 2016 de patamar aquém do esperado. Até a 6ª corrida (129), ele só não somou mais pontos que 2011 (143).

É espantoso o quão está guiando limpo e o quão cuida bem dos pneus. Determinadas insinuações que a fabricante Pirelli está dando tratamento diferenciado não faz sentido. Ora, qual escuderia sempre permanece disponível para os testes, e qual piloto coloca-se a disposição para trocar feedbacks e comparece ao centro de desenvolvimento dos compostos, visando o aperfeiçoamento dos pneus?

Conquistas não vem por acaso. É resultado de bastante trabalho, foco e objetivo em vencer. Enquanto alguns preferiam divertir-se, mesmo sendo segundo no campeonato de 02 (dois) carros; outros, com humildade, correram atrás em busca de chegar ao Olimpo.

A temporada 2017 está no começo, mas só o fato da Ferrari lutar, engrandece a disputa. Melhor ainda se Fernando Alonso estivesse no cockpit vermelho ao lado do alemão. Para coroar os 70 (setenta) anos dessa mítica marca que arrasta multidões Brasil afora, nada mais justo que a intensa e brilhante epopeia, possa resultar no final feliz com o título do Sebastian Vettel.

“Unimo-nos, amemo-nos, a união e o amor revelam aos povos (torcedores, colaboradores da Ferrari) os caminhos do Senhor (Vitória); Juremos tornar livre o solo natal: Unidos por Deus, quem pode nos vencer? ”

Victor Manoel de Oliveira Nunes
Natal – RN

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