A inveja dos medíocres

sábado, 25 de dezembro de 2021 às 22:07

Fórmula 1 em Interlagos 2021

Colaboração: Chaparral

Sou leitor assíduo do Autoracing há muitos anos, não sei bem quantos, mas certamente mais de doze anos. Conheci o site através do meu filho mais velho que participa daqui acho que desde a fundação no antigo fórum de debates.

Fórmula 1 sempre foi um esporte que nos uniu em casa, além do futebol. Meus filhos, os primos dele e eu passamos mais de 20 anos assistindo corridas juntos seguidas de um churrasco! Meu grande ídolo sempre foi o Emerson Fittipaldi, até porque trabalhei uma época com meu pai na construção da casa dele no Guarujá (litoral de São Paulo) no início da década de 70, por isso conheci ele e boa parte da sua família naquela época. Ótimos tempos!

Passei e adorar Fórmula 1 e depois disso perdi muito poucas corridas até hoje.

Mas escrevo muito pouco na sessão de comentários porque realmente não entendo muito bem o que as pessoas têm radicalmente contra certos pilotos, que nem sabem que elas existem, nunca fizeram mal a elas e ao contrário, fazem a nossa alegria aos domingos arriscando suas vidas a mais de 300 km /hora.

Vou pegar o exemplo de Lewis Hamilton, que é o piloto mais bem-sucedido de todos os tempos. Por que algumas pessoas parecem ter ódio dele? Tudo o que ele conseguiu, assim como a maioria dos outros pilotos, foi por mérito próprio, nada foi lhe dado. A McLaren o abraçou não por piedade, mas por ele demonstrar no kart um talento e determinação muito acima dos outros. Ron Dennis nunca deu nada a ninguém, muito menos ao Hamilton, ele simplesmente investiu num “ativo” que ele via muito potencial. Dennis era um empresário muito bem-sucedido e nunca deu nada a ninguém, como não tem que dar mesmo. As pessoas precisam conquistar as coisas, se quiserem subir na vida. E Hamilton já começou pagando o investimento de Dennis no primeiro ano de Fórmula 1 quase sendo campeão contra o melhor piloto do mundo na época, seu companheiro de equipe Fernando Alonso.

Aí foi campeão no segundo ano de F1 e depois venceu corridas em todos os anos de sua carreira até hoje, além dos sete títulos incontestáveis, sem qualquer mancha.

Então por que esse ódio dele que a gente lê todos os dias nos comentários aqui do Autoracing e nas redes sociais, que até resolvi parar de acessar?

O nome disso só pode ser inveja. Sei bem que porque sofri muito isso. Eu tinha pais muito simples, pobres. Meu pai, que veio do Piauí para São Paulo como pedreiro até se tornar mestre de obras depois de 4 anos trabalhando e fazendo cursos do Senai e minha mãe cabelereira de salão barato, davam muita importância à educação minha e de meu irmão. Estudamos em escola pública, que nos anos 50 e 60 era muito melhor que hoje, mas mesmo assim eles não aceitavam notas nossas abaixo de 9 e presença completa no boletim. Amor, atenção e incentivo nunca faltaram da parte deles, mas tivemos que aprender as tarefas domésticas com 5 anos de idade, porque não tínhamos ajuda de ninguém e ambos nossos pais trabalhavam 12 horas por dia. Eu tinha que cuidar do meu irmão mais novo quando eu tinha 6 ou 7 anos de idade durante o dia e ainda estudar e esquentar a comida que minha mãe deixava pronta na noite anterior.

Eu me formei em ADM e meu irmão em engenharia em faculdade pública na USP, eu na FEA e meu irmão na Poli. Fui contratado por uma Construtora na parte financeira e consegui emprego para meu irmão lá como engenheiro de obra menos de um ano depois. A Construtora começou a passar por dificuldades cinco anos depois quando os filhos dos donos assumiram até quase falir.

Então eles tiraram tudo que a empresa tinha e a ofereceram para mim pelas dívidas, que pareciam impagáveis. Conversei com meu irmão e topamos assumir um negócio que realmente parecia que não teria jeito, tantas eram as dívidas, mais de 20x o que éramos capazes de pagar mesmo vendendo nossas casas e carros, que era o que tínhamos para oferecer aos bancos credores como garantia. Os bancos toparam porque acharam que perderíamos nossas casas e carros para eles minimizando o prejuízo. E assim começamos nossa empresa. Pagamos os bancos em 6 anos, trabalhamos feitos loucos por mais 22 anos e depois vendemos a empresa para uma Multinacional por um valor mais de 120x (descontando a inflação) da dívida que assumimos com os bancos no começo.

Ficamos realmente muito bem de vida, mas nesse processo perdemos todos os amigos de infância e adolescência que tínhamos, até alguns da faculdade, que queriam emprego na nossa empresa sem ter conhecimento e garra necessários. Parentes “chupins” (fora nossas pais, lógico) também se afastaram de nós porque achavam que tínhamos obrigação de sustentá-los com o nosso sucesso.

Se você olhar a história do Hamilton ela é muito parecida com a minha e do meu irmão, claro, sem sermos personalidades públicas como ele, o que gera mais inveja ainda.

Na minha opinião, essa gente que tem raiva do Hamilton é simplesmente inveja do que ele conseguiu saindo do nada, do pai com três empregos para manter o sonho do garoto em ser piloto e do talento, trabalho árduo e o super sucesso que ele demonstrou antes, quando chegou na F1 e vem demonstrando até hoje.

Deviam usá-lo como exemplo de inspiração em suas próprias vidas, provavelmente medíocres, mas é muito mais fácil odiar, achar defeitos em alguém que saiu do nada e chegou onde ele chegou com muito trabalho, força de vontade e dedicação. São dignos de pena e não merecem que fiquemos aqui tentando dissuadi-los do óbvio.

Chaparral
São Paulo – SP

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