A greve dos pilotos

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022 às 12:45

Largada Kyalami 1982

Colaboração: Jonathan Glina Levi Bianchini

Salve amantes do automobilismo!!!!

Chegamos há mais um 20/01, mas o 20/01 deste ano é um pouco diferente para o automobilismo, visto que completa-se 40 anos da temporada de 1982.

É meio difícil falar dessa temporada sem lembrar das mortes, acidentes que aconteceram no decorrer dela, especialmente a polêmica que aconteceu antes da temporada começar.

Talvez os mais jovens não saibam , mas 1982 marcou o retorno do então bicampeão mundial Niki Lauda que voltava a Formula 1 após dois anos de aposentadoria . E não tem como negar que esse retorno marcou muita polêmica.

Niki Lauda

Isto porque este, ao chegar em Kyalami para primeira prova da temporada, descobriu que os pilotos- Didier Pironi, Gilles Villeneuve, Jacques Laffite, Andrea de Cesaris, René Arnoux e Bruno Giacomelli – haviam assinado os contratos de super-licença sem ter ciência das novas cláusulas que a FISA (antigamente chamada a Federação Internacional de Automobilismo ) teria colocado nesses contratos- as famosas “letras miúdas”.

Dentre elas, estava a cláusula de que os pilotos não poderiam mudar de equipe no meio da temporada, devendo ficar no mesmo time por 03 anos.

E quando Niki Lauda- detalhista que era – ficou sabendo que vários pilotos não tinham conhecimento desta cláusula, este foi falar, na época, com o Presidente da Comissão de Pilotos (GPDA) “Didier Pironi”.

Didier, ao tomar conhecimento deste detalhe passado por Niki Lauda, foi conversar com à Comissão da FISA. Mas os chefes de equipe- Frank Williams, Bernie Ecclestone, entre outros- liderados por Jean Marie Balestre estavam irredutíveis em querer alterar essa cláusula naquele momento, sendo que só iam resolver aquilo em abril no Comitê Executivo.

E, para os pilotos, essa resposta da FISA ficou inadmissível, levando Pironi a soltar a seguinte frase:

“Nós não vamos assumir o volante até que uma solução aceitável seja encontrada.”

Com os chefes de equipe- junto a Jean Marie Balestre- irredutíveis, a atitude que ficou marcada no início da temporada foi tomada. No dia 20/01/1982, 30 dos 31 competidores, ao passarem pelo paddock em um ônibus, declararam greve, sendo que só Jochen Mass ficou em Kyalami naquele dia.

Os pilotos – após Jacques Laffite retirar a Kombi da Federação que ficou em frente ao ônibus – foram levados ao Hotel Sunnyside e não sairiam do Hotel até que uma decisão fosse tomada em relação as cláusulas.

Mesmo com a pressão que Balestre e Ecclestone fizeram- ao ponto de banir os pilotos, adiar o GP para trazer novatos, dentre outras atitudes – os competidores ficaram no saguão do hotel, até que uma decisão tomada.

E, segundo consta, mesmo com as ameaças da FIA e dos chefes de equipe, houve momentos bem descontraídos no saguão, como por exemplo: Elio de Angelis e Gilles Villeneuve se revezavam no piano, outro piloto tocou bateria, Lauda fez stand-up. Sem contar que vários pilotos precisaram ainda dormir em colchões ao lado de seus rivais e companheiros, inclusive Nelson Piquet e Carlos Reutemann que foram rivais em 1981.

Pôde-se dizer que esse clima no saguão entre os pilotos é algo que desde aquele ano não se repetiu mais até hoje com os pilotos que vieram depois de 1982.

Mas, voltando a greve, essa atitude, no dia 21 /01 conseguiu fazer com que as cláusulas fossem alteradas, e não tivesse mais essa burocracia de ficar 03 anos na mesma equipe e não poder mudar de equipe no meio da temporada.

Mas, os problemas não pararam por aqui, visto que mesmo com os chefes de equipe cedendo a vontade dos pilotos, Bernie Ecclestone acabou por mandar que o pessoal da Brabham pintasse os BT50 com o número 2, dando a entender que nosso brasileiro Nelson Piquet estaria fora da prova por razões de saúde, já que teria dormido uma noite no chão do Hotel Sunnyside.

Mas Gilles Villeneuve – que acompanhou Piquet no centro médico – negou que este seria o motivo, visto que o centro médico do autódromo liberou Nelson Piquet para correr.

E quase mais uma greve explodiu por conta desse fato, mas Bernie Ecclestone devolveu o carro ao Piquet e aplicou uma multa entre US$ 5 MIL e US$ 10 MIL aos competidores que ficaram em greve.

E foi sobre esse panorama que começou a temporada com a primeira etapa na África do Sul, fim de semana que marcou a estreia da parceria Galvão Bueno e Reginaldo Leme.

Na corrida Rene Arnoux foi o pole.

Mas o destaque da prova foi Alain Prost, que largou em quarto, chegou a ficar em terceiro, mas precisou ir aos boxes, pois teve um furo no pneu, e mesmo parando no box conseguiu se recuperar, chegando em primeiro

Um fato curioso deste fim de semana foi que na estreia do Galvão na transmissão da F1 na Globo, este acabou errando o nome do vencedor, dando Carlos Reutemann como vencedor da prova, ao invés do Alain Prost. Mas depois essa parceria teve um enorme sucesso, durando até 2019.

Jonathan Glina Levi Bianchini
São Paulo – SP

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