A Fórmula 1 está mesmo chata?

terça-feira, 23 de maio de 2023 às 14:13

Largada F1 Arábia Saudita 2023

Colaboração: Carlos Júnior

Os artigos publicados de colaboradores não traduzem a opinião do Autoracing. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate sobre automobilismo e abrir um espaço para os fãs de esportes a motor compartilharem seus textos com milhares de outros fãs.

Eis um chavão gasto e corriqueiramente utilizado: a Fórmula 1 está chata. Todo mundo já escutou isso em algum momento. Fulano ganha de qualquer jeito, aquele carro é imbatível, não tem disputa pela vitória, pronto. A F1 é condenada automaticamente e perde a magia para os que repetem tais coisas.

Não quero ser fiscal de torcida, tampouco o único Zeus do Olímpio no conhecimento sobre automobilismo, mas essa pantomima é o modus operandi típico dos torcedores de equipes/pilotos que estão fora do topo. Quando o adversário vence, o esporte perde a graça e tudo fica um porre. É clássico.

Max Verstappen sobrou em 2022 e continua sobrando em 2023. É o melhor piloto da atualidade, combina velocidade absurda com inteligência para gerir a própria corrida e tem em mãos um foguete de carro. O resultado não poderia ser outro: hegemonia. Ele quebrou o recorde de vitórias em uma mesma temporada no ano do bicampeonato e não é nada absurdo pensar que ele pode repetir a façanha.

Pronto. É o suficiente para os que antipatizam com Verstappen bradem com o peito estufado: a F1 está chata. Reclamam de hegemonias, mas a história da categoria não é recheada de predomínios acachapantes de certos conjuntos carro/piloto? Desde o seu início, a F1 tem hegemonia. Alguém fora da casinha consegue ter o carro dos sonhos nas mãos e dinamita a concorrência.

Para ficar apenas na era moderna da F1: a McLaren no final dos anos 80 era simplesmente imbatível e tinha como pilotos Alain Prost e Ayrton Senna. O MP4/4 venceu 15 das 16 corridas na temporada – a única ‘’perdida’’ foi o GP da Itália com dobradinha da Ferrari e uma festa inesquecível com os tifosi de luto pela morte do comendador Enzo. O carro era tão bom que a dupla chegava a colocar 2s no piloto mais bem colocado. Se isso não é uma hegemonia absurda, eu não me chamo Carlos Júnior.

O que dizer da Ferrari no começo dos anos 2000? Michael Schumacher foi pentacampeão consecutivo na equipe de Maranello, dinamitou vários recordes da categoria e colocou seu nome no panteão dos deuses da F1. Em 2002, ele subiu ao pódio em todas as corridas da temporada – feito não igualado até hoje. Em 2004, Schumacher venceu 13 dos 18 GPs disputados. Tanto o F2002 quanto o F2004 são corriqueiramente lembrados como os melhores carros já feitos na história da categoria, dignos de elogios superlativos à escuderia italiana.

Alguém em sã consciência duvida da capacidade técnica de Prost, Senna e Schumacher? Alguém vai torcer o nariz para os seus feitos e dar crédito exclusivo aos carros que os três pilotaram? No caso do alemão, os brasileiros mais pachecos utilizam o argumento gasto de que ele só ganhou com carro bom e a Ferrari não deixava Barrichello vencer. Bom, Rubens só deixou de ganhar o fatídico GP da Áustria em 2002, lambança monumental que Michael devolveu no GP dos Estados Unidos do mesmo ano. Mas, é claro, ninguém lembra disso.

Tivemos o predomínio recente da Mercedes, que de 2014 a 2021 conquistou o mundial de construtores e de 2014 a 2020 o de pilotos. Lewis Hamilton papou seis títulos nesse período. É claro que o motor híbrido fez diferença, que as equipes rivais demoraram a dominar a nova tecnologia e tudo isso deu uma vantagem nada desprezível ao heptacampeão. Nem por isso Hamilton deixou de mostrar sua genialidade ao vencer corridas adversas – Silverstone 2020, Hungria 2019 e Turquia 2020 são ótimos exemplos. A Ferrari fez frente em 2017 e 2018. Ainda assim, ele venceu e superou um tetracampeão, Sebastian Vettel.

As mesmas pessoas que torceram o nariz para os feitos impressionantes de Lewis Hamilton/Mercedes agora acham a F1 a oitava maravilha do mundo moderno com o domínio de Max Verstappen/Red Bull. O contrário é ainda mais verdadeiro. Não são todos, claro. Como disse, a maioria dos fãs torcem para equipes e pilotos, natural que bata um desânimo ao ver os rivais na frente por muito.

Pois vamos colocar os pingos nos is: a F1 não está chata. Hegemonias fazem parte não só da categoria: o esporte em geral também dá exemplos de predomínios incríveis. O Real Madrid tricampeão da Champions, o Manchester City tricampeão da Premier League ou o São Paulo tricampeão brasileiro mostram como a competência e a busca incessante pelo topo são premiados, e ninguém espinafrou o futebol por isso. Saibam aproveitar o que Max Verstappen está fazendo. Um semideus do volante como ele não aparece toda hora.

Carlos Junior
Teresina – PI

Quer ver todos os textos de colaboradores? Clique AQUI

AS - www.autoracing.com.br

Tags
, , , , , , , ,

ATENÇÃO: Comentários com textos ininteligíveis ou que faltem com respeito ao usuário não serão aprovados pelo moderador.