A falência do esporte a motor no Brasil. De quem é a culpa?

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014 às 13:52

Circuito de Interlagos

Colaboração: Tiago de Sousa Moscoski

No Brasil, quando falamos em categorias de base, logo lembramos das peneiras e escolinhas de futebol, nosso esporte de berço. É fato que a mídia – sem generalização – contribui para este fato. As cotas televisivas são milionárias, algo que facilita o financiamento (e o lucro) com o esporte.

Para o esporte à motor, não é diferente. As receitas da Formula 1, cuja exclusividade de transmissão televisiva pertence à Rede Globo, ultrapassam a cifra de R$ 320 milhões/ano, uma cota aproximada de mais de R$ 60 milhões por patrocinador. Pouco não é.

Mas, para chegar à F1, muitos pilotos tem que passar pelas “categorias de base” do automobilismo e, neste ponto, o Brasil está falido. A CBA – Confederação Brasileira de Automobilismo – deixou de viabilizar os campeonatos de Kart. Hoje, se um jovem tem talento, deve apelar para patrocínios e, quem sabe, com uma boa dose de sorte, deixando o país em busca de campeonatos internacionais. Para jovens com “berço de ouro”, claro, isto não se aplica, como é o caso do piloto Pietro Fittipaldi, um grande talento brasileiro apoiado por seu avô, Emerson Fittipaldi, e uma grande cota de patrocinadores.

Antes de explorar esta questão, relembro: como podemos submeter nossos jovens aos campeonatos internacionais sem oferecer-lhes experiência em competições? Vejo crescentes reclamações dos torcedores e telespectadores por conta do desempenho dos pilotos brasileiros na Formula 1 nos últimos anos. Justo? Talvez sim, mas, como podemos cobrar desempenho de um ou dois atletas que conseguiram chegar até à categoria máxima do automobilismo?

Sem investimento em categorias de base, tanto para carros de fórmula como stock, não teremos novos pilotos na categoria. Luis Felipe Nasr, piloto brasiliense recentemente contratado pela equipe suíça Sauber, terá uma grande experiência em 2015. Mas, que não se criem falsas expectativas: guiará um carro absurdamente limitado, sem muitas (ou alguma) chance de pontuar no próximo mundial. Felipe Massa, que este ano fez uma temporada mediana pela renovada Williams-Mercedes, foi o último piloto brasileiro à “beliscar” um título, perdido por um mísero ponto (e uma pista molhada de Interlagos) em 2008. Desde então, nem a temporada de 2009 da BrawnGP, com Rubens Barrichello, entusiasmou os brasileiros.

Cenários
Os exemplos falam por si: no Reino Unido, a confederação local apoia pilotos jovens à partir de 8 anos de idade. Um dos ícones desta ascensão inglesa – Lewis Hamilton – foi descoberto em um festival de novos talentos, logo apadrinhado por Ron Dennis (sócio majoritário da McLaren) e Mercedes. Os ingleses, aliás, faturaram – somente neste ano – os campeonatos da GP3, GP2, F1 e WEC, ou seja, todos os maiores campeonatos de esporte à motor avalizados pela FIA.

Outro exemplo vem da Alemanha. Com o sucesso gigantesco proporcionado por Michael Schumacher (1994, 1995, 2000, 2001, 2002, 2003 e 2004), os incentivos dos bávaros foi claro e assertivo. Hoje, além de Sebastian Vettel (campeão nos anos de 2010, 2011, 2012 e 2013), contam com Nico Rosberg (Mercedes), Nico Hulkenberg (Force India), Adrian Sutil (Sauber, mas dispensado para 2015) e uma participação de André Lotterer (Caterham). Os ingleses contaram com Hamilton (Mercedes, campeão), Jenson Button (McLaren, que será substituído por Fernando Alonso), Max Chilton, da Marussia (que não deverá alinhar em 2015) e Will Stevens, da Caterham.

Nós? Apenas Felipe Massa. Não há um cenário favorável além de 2015, exceto se Pietro Fittipaldi assinar com alguma equipe. Em 2016, portanto, há uma forte tendência de não termos um representante brasileiro na F1. Com a palavra, a CBA.

Tiago de Sousa Moscoski
Jundiaí – São Paulo

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