Saída de Marko expõe crise de personagens na Fórmula 1

Helmut Marko

A saída de Helmut Marko passou a ser tratada como algo muito maior do que uma simples mudança interna na Red Bull. Nesse contexto, cresce a avaliação de que a própria Fórmula 1 pode estar perdendo algumas de suas últimas figuras realmente marcantes.

De acordo com registros corporativos do Reino Unido divulgados nesta semana, Marko, de 82 anos, foi removido como diretor de várias empresas do grupo Red Bull.

Entre elas, aparecem Red Bull Racing Limited, Red Bull Advanced Technologies e Red Bull Powertrains. Com isso, sua saída da organização se torna total após duas décadas de influência direta no projeto esportivo.

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Saída de Marko amplia debate sobre identidade da categoria

Em artigo publicado no jornal alemão Bild, o jornalista Michel Milewski argumenta que a decisão pode gerar consequências além do universo da Red Bull. Segundo ele, o movimento traz riscos claros para a F1 como espetáculo.

Para Milewski, o que deveria funcionar como uma solução parcial para recolocar a equipe no topo pode se transformar em um problema estrutural.

Em outras palavras, a categoria estaria caminhando para uma crise de identidade. Mais do que resultados, o alerta envolve a perda de personagens capazes de gerar narrativa e conflito.

Saídas em sequência esvaziam o confronto nos bastidores

Além disso, Milewski conecta diretamente a saída de Marko à recente partida de Christian Horner. Dessa forma, dois dos dirigentes mais polarizadores da F1 deixaram o paddock em um curto intervalo de tempo.

Na avaliação do jornalista, esse esvaziamento altera o equilíbrio político do campeonato. Como consequência, o espaço para embates públicos e debates intensos diminui de forma sensível. Ao mesmo tempo, o espetáculo fora da pista perde parte de sua tensão natural.

Toto Wolff se torna exceção entre chefes de equipe

Dentro desse cenário, Toto Wolff surge como uma figura isolada. Segundo Milewski, ele seria o último grande personagem entre os atuais chefes de equipe da F1.

O jornalista destaca que oito dos 10 dirigentes possuem formação técnica em engenharia. Por isso, adotam uma postura objetiva, racional e pouco explosiva. Enquanto isso, o entretenimento exige conflito, contraste e emoção.

A partir daí, surge uma pergunta incômoda. Com quem Wolff irá discutir diante das câmeras da Netflix e de outras plataformas de streaming? Para Milewski, a resposta é simples e preocupante: com ninguém.

Falta de carisma vai além da gestão esportiva

No entanto, o problema não se limita aos bastidores administrativos. Segundo Milewski, a F1 precisa acelerar urgentemente quando o assunto é personalidade e carisma.

O alerta se intensifica porque Lewis Hamilton e Fernando Alonso se aproximam do fim de suas carreiras. Além disso, Max Verstappen frequentemente flerta com a possibilidade de uma aposentadoria precoce.

Assim, a categoria corre o risco de perder, em pouco tempo, seus nomes mais reconhecíveis globalmente.

Ex-comentarista aponta perda de personagens históricos

A mesma preocupação foi expressa por Alexey Popov, ex-comentarista russo de F1. Para ele, o paddock moderno carece de figuras capazes de criar conexão emocional com o público.

Popov reconhece que engenheiros discretos também têm personalidade. Ainda assim, ressalta que eles raramente funcionam como “showmen”. Como resultado, a categoria perde impacto fora da pista.

Ao comparar diferentes eras, Popov cita exemplos emblemáticos. Peter Sauber, mesmo reservado, tinha identidade própria. Eddie Jordan representava o exagero carismático. Ron Dennis se destacava pelo estilo frio e metódico. Jean Todt, por sua vez, simbolizava o perfeccionismo extremo.

Em síntese, esses contrastes ajudaram gerações de fãs a se apaixonarem pela F1. Hoje, porém, esse tipo de personagem se tornou cada vez mais raro, o que reforça o temor de uma crise silenciosa no coração da categoria.