Brembo vs Carbon Industrie: diferença de freios F1

terça-feira, 7 de outubro de 2025 às 17:19
Brembo vs Carbon Industrie

Freio Brembo

EXCLUSIVO – Quando pensamos no desempenho de um carro de Fórmula 1, normalmente lembramos de motores, aerodinâmica e pneus. No entanto, os freios são tão importantes quanto. Nenhum outro veículo terrestre possui tamanho poder de frenagem quanto um carro de F1, e entender isso é fundamental.

Na categoria, dois fabricantes dominam o cenário: freios Brembo vs Carbon Industrie. Ambos oferecem desempenho de elite, mas a sensação ao volante é completamente distinta, como mostra o caso de Lewis Hamilton em sua estreia pela Ferrari em 2025.

Agora com a Ferrari, Hamilton trocou os freios Carbon Industrie da Mercedes pelos Brembo da equipe italiana. O britânico revelou que está precisando reaprender parte do seu estilo de pilotagem para se adaptar ao SF-25. Ele comentou que o novo sistema exige uma abordagem totalmente diferente, algo que desafia até mesmo sua vasta experiência.

Lewis Hamilton explicou:

“Está claro que nós, como humanos, ficamos muito presos aos nossos hábitos. Eu pilotei da mesma forma e com a mesma equipe por um tempo muito longo.”

“Isso está exigindo um estilo de pilotagem e acertos muito diferentes. Tenho usado freio motor, o que jamais usei antes. São freios muito diferentes quando se usa Brembos, e eu usei CI pelos últimos quinze anos ou algo assim.”

Os aspectos técnicos dos sistemas de freios e a forma como afetam os pilotos raramente são discutidos a fundo. Este artigo busca mudar isso, analisando em detalhe a diferença entre os sistemas.

Brembo vs Carbon Industrie: como se comparam

Na essência, todos os freios de F1 utilizam discos e pastilhas de carbono-carbono, pois o aço não suportaria o calor extremo gerado nas frenagens. No entanto, a forma como Brembo e Carbon Industrie projetam seus sistemas leva a diferenças marcantes na operação e no comportamento do carro.

Poder de frenagem inicial (Brake Bite): os Brembo possuem uma mordida inicial mais forte, agarrando com potência logo no começo da frenagem. Essa característica transmite confiança em frenagens curtas e intensas, mas pode parecer agressiva demais em situações de baixa aderência ou quando o carro está leve de combustível.

Modulação: os freios Carbon Industrie são mais suaves e progressivos, principalmente quando o piloto começa a aliviar o pedal ao entrar na curva. Isso facilita o trail braking — técnica em que o piloto mantém parte da pressão do freio ao iniciar o giro — e oferece maior controle, algo no qual Hamilton sempre se destacou.

Refrigeração e resistência térmica: os CI suportam temperaturas mais altas sem vitrificação, tornando-se ideais para pilotos que freiam tarde e com intensidade. Já os Brembo aquecem mais rápido, o que é útil em stints curtos ou em condições mais frias de pista.

Sensibilidade (Feel): a percepção de pedal é subjetiva, mas pilotos afirmam que os CI oferecem consistência maior em stints longos, enquanto os Brembo podem variar conforme o desgaste ou as mudanças de temperatura.

Essas diferenças explicam as preferências individuais dos pilotos. Hamilton, acostumado à progressividade dos CI, ainda enfrenta uma curva de adaptação com os Brembo.

O estilo de frenagem de Lewis Hamilton

Hamilton construiu sua carreira na F1 com frenagens extremamente tardias e precisas. Ele sempre foi um dos últimos a tirar o pé do acelerador, especialmente em chicanes e hairpins. Na Mercedes, com os freios Carbon Industrie, ele podia se apoiar pesadamente nesse estilo. O britânico aplicava o pedal tarde, modulava a pressão com precisão e usava o freio para ajudar a girar o carro.

Agora, com a Ferrari em 2025, a situação é bem diferente. A equipe italiana utiliza freios Brembo — e embora sejam igualmente de ponta, eles entregam a mordida inicial muito mais rapidamente. Para Hamilton, isso significa ajustar completamente a curva de pressão do pedal, o balanço de freio (brake bias) e até a forma como aquece pneus e discos.

Durante o GP do Bahrain, por exemplo, seu engenheiro Riccardo Adami sugeriu que ele freasse dez metros mais cedo, semelhante a Charles Leclerc. Os Brembos exigem um ritmo diferente, e para um piloto tão intuitivo, adaptar-se após quinze anos com outro sistema é um desafio enorme.

Traçado de freio (Brake Trace)

Comparando os traçados de pressão do freio nas voltas de classificação de Hamilton no Bahrain em 2024 (Mercedes) e 2025 (Ferrari), nota-se um padrão claro. Em quase todas as zonas de frenagem, ambos os gráficos sobem verticalmente até a pressão total, mas o da Ferrari mostra o início da frenagem ligeiramente antes.

Hamilton está freando mais cedo por causa da mordida inicial mais acentuada dos Brembo, que não permitem atrasar a frenagem com a mesma confiança dos CI usados na Mercedes. Vale lembrar que, quando pilotava pela McLaren (2007 a 2012), Hamilton usava freios Akebono, cujo comportamento se assemelha mais ao dos Carbon Industrie.

A Akebono Brake Industry Co. Ltd., fundada no Japão em 1929, foi uma das maiores fabricantes de freios do país, mas hoje não participa mais da Fórmula 1.

Modulação e liberação

O traçado de Hamilton na Mercedes mostra liberações mais suaves e graduais, sinal de domínio da técnica trail braking (aliviar o pedal progressivamente enquanto o carro entra na curva). Já na Ferrari, o gráfico apresenta quedas mais abruptas, indicando liberações mais repentinas.

Essa diferença pode estar ligada à falta de confiança com o novo sistema ou à ausência de experiência prévia com freios tão agressivos. Em resumo, os CI permitem maior modulação e finesse, algo que combina perfeitamente com o estilo de Hamilton. Os Brembo oferecem mais potência de parada imediata, mas são menos tolerantes no controle fino da frenagem.

Análise de telemetria e conclusões técnicas

Embora Mercedes e Ferrari tenham carros completamente distintos em design e acertos, a comparação ajuda a entender o impacto dos freios no estilo do piloto. Nossa fonte na Mercedes, conhecido como Dude, que tem acesso às telemetrias, minimizou diferenças externas para focar apenas na frenagem.

Nos traçados de velocidade, ambos os gráficos de Hamilton seguem ritmo semelhante. No entanto, na Mercedes, ele conseguia carregar mais velocidade em curvas como C1, C4 e C10 no Bahrain, justamente onde o trail braking é decisivo. Isso mostra que os freios Carbon Industrie permitiam frenagens mais tardias e mantinham mais momentum até o apex da curva.

No contexto geral da volta, o traçado da Ferrari mostra aplicações mais precoces e agressivas. Em certas zonas, Hamilton libera o freio mais cedo na Mercedes, permitindo que o carro role mais livremente antes de virar. Novamente, a vantagem da modulação dos CI se encaixa melhor em seu estilo.

A fonte do Autoracing na Ferrari, revelou que a equipe e a Brembo estão procurando ajustar o sistema para adequá-lo às preferências do britânico, mas sem divulgar detalhes.

Hamilton tem precisado frear um pouco mais cedo e lidar com uma mordida de freio mais repentina — uma sensação nova, para a qual ele ainda não desenvolveu memória muscular. É natural que sua confiança seja abalada quando a ferramenta que mais define seu estilo exige reaprendizado.

Mesmo assim, o heptacampeão já mostrou lampejos de adaptação. Conseguiu uma pole na Sprint e uma vitória no GP da China, sinal de que está reencontrando a sensibilidade com os Brembo.

Por que o freio de Hamilton pegou fogo no GP de Singapura

O circuito de Singapura é um dos mais exigentes do calendário quanto aos freios. Durante o GP de 2025, Hamilton enfrentou superaquecimento no SF-25 e perdeu o freio dianteiro esquerdo nas voltas finais. Faíscas visíveis mostraram o sistema no limite.

A Ferrari trabalha para que o piloto se sinta mais confortável com os Brembo e, por isso, introduziu um novo material de pastilhas de freio após seus pedidos. Mesmo assim, a pista de Singapura colocou o conjunto no limite térmico.

Fred Vasseur, chefe da equipe, confirmou que Hamilton precisou usar o método “lift and coast” durante boa parte da corrida para controlar as temperaturas. Apesar disso, o superaquecimento acabou vencendo.

Embora a falha tenha sido técnica, a falta de familiaridade total com o sistema Brembo também contribui para o desconforto geral. O britânico ainda busca a zona de confiança que possuía com os freios Carbon Industrie.

O caso de Singapura reforça as limitações térmicas da Ferrari SF-25 e mostra o quanto a equipe ainda precisa evoluir no gerenciamento de calor, especialmente em circuitos urbanos.

Conclusão

A diferença entre freios Brembo vs Carbon Industrie vai muito além da ficha técnica. Ela redefine o estilo de pilotagem, a sensibilidade e a confiança do piloto. No caso de Lewis Hamilton, a troca representa um desafio raro na fase final da carreira.

A Ferrari e a Brembo seguem ajustando o sistema para adequar-se ao toque preciso do heptacampeão. E, embora o processo seja demorado, Hamilton já demonstrou capacidade de adaptação. Quando reencontrar o equilíbrio entre potência inicial e modulação, seu ritmo deve voltar ao nível que o consagrou.

Se alguém pode recalibrar seu estilo e dominar um sistema totalmente novo, esse alguém é Lewis Hamilton.

Créditos

Este artigo contou com a colaboração decisiva do Dude (Mercedes) e insights do Bambino (Ferrari).

AS - www.autoracing.com.br

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