Relembrando a F1 1994, Schumacher, Benetton e um banho de irregularidades

Schumacher – Benetton B194

A temporada mais controversa da era moderna da F1?

A temporada de 1994 da Fórmula 1 é lembrada como uma das mais polêmicas desde que a categoria se tornou oficial, em 1950. Foi o ano da trágica perda de Ayrton Senna e Roland Ratzenberger, mas também marcou o primeiro título mundial de Michael Schumacher com a Benetton. No entanto, a conquista da Benetton foi cercada por acusações de irregularidades técnicas. A grande questão que ficou no ar foi: a equipe quebrou as regras deliberadamente e depois se defendeu alegando apenas “brechas no regulamento”?

O fator eletrônico: O controle de tração proibido

Naquele ano, a FIA havia banido os auxílios eletrônicos, incluindo o controle de tração. Mesmo assim, o som do motor do Benetton B194 de Schumacher despertou fortes suspeitas. Para muitos, havia cortes de ignição típicos de um controle de tração disfarçado. Ayrton Senna foi o primeiro a perceber. No GP do Pacífico, em Aída, sentou-se no muro da pista para ouvir os carros passando e notou algo estranho no som do carro de Schumacher.

Quero ser VIP

Jos Verstappen, companheiro de equipe de Schumacher, não poupou críticas. Declarou que o carro do alemão tinha “algo errado” e era muito mais fácil de pilotar que o dele. A FIA examinou o software da Benetton e encontrou um sistema de launch control — também proibido — que poderia facilmente atuar como controle de tração. A equipe afirmou que era um resquício de 1993, mas foi obrigada a removê-lo. A falta de tecnologia na época para provar o uso em corrida impediu punições mais severas da FIA, porém reforçou as suspeitas de que a Benetton agia fora do regulamento.

Companheiros de Schumacher e dificuldades com o B194

JJ Lehto: O finlandês iniciou a temporada ainda em recuperação de uma grave lesão no pescoço. Teve problemas para se adaptar ao carro e acabou substituído após algumas corridas. Apesar de não acusar publicamente a Benetton, sua performance muito inferior à de Schumacher levantou questionamentos.

Johnny Herbert: Assumiu o cockpit nas etapas finais. Conhecido pelo estilo de pilotagem suave, também sofreu para controlar o B194, considerado instável e arisco. Embora não tenha feito acusações diretas, seu relato reforçou a impressão de que o carro de Schumacher tinha algo especial que o diferenciava dos outros.

Desclassificações e suspensões polêmicas

As polêmicas não ficaram restritas à parte técnica. No GP da Grã-Bretanha, Schumacher ignorou uma bandeira preta após ultrapassar Damon Hill na volta de apresentação. O resultado foi a desclassificação e suspensão por duas corridas.

No GP da Bélgica, após vencer a prova, teve o carro considerado irregular devido ao desgaste excessivo na prancha do assoalho. A Benetton alegou que o dano veio de um giro na pista, mas a FIA manteve a decisão, retirando-lhe os pontos da vitória.

O pit stop que virou incêndio

O momento mais dramático ocorreu no GP da Alemanha. Durante o reabastecimento de Jos Verstappen, a mangueira falhou, derramando combustível e provocando um incêndio que quase custou a vida do piloto. A investigação revelou que a Benetton havia removido um filtro de segurança para ganhar cerca de um segundo por parada — algo ilegal. A equipe foi multada, mas outras equipes criticaram a punição por considerá-la branda diante da gravidade do risco.

A batida em Hill e o título mais contestado

O auge das controvérsias veio na última prova, o GP da Austrália. Schumacher liderava o campeonato com um ponto de vantagem sobre Damon Hill. Após errar e bater no muro, voltou à pista com o carro danificado. Hill tentou ultrapassá-lo, mas o alemão fechou agressivamente, causando uma colisão que eliminou ambos.

Com isso, Schumacher manteve a vantagem e conquistou o título. Para quase todos, exceto Schumacher, Benetton e FIA, a manobra foi proposital. Esse episódio selou o campeonato de 1994 como um dos mais manchados da história da Fórmula 1.