F1 – Aquelas lembranças inevitáveis

Ayrton Senna – Williams 1994

Por: Bruno Aleixo

Depois de 14 anos, a Fórmula 1 vai voltar à Ímola, no próximo final de semana. Vai haver uma enxurrada de lembranças do fatídico GP de 1994, que vitimou Ayrton Senna, Roland Ratzenberger e ainda produziu uma série de acidentes graves, que tiveram consequências definitivas para o futuro da categoria. Não duvide, a Fórmula 1 que assistimos hoje seria absolutamente diferente do que é se aquele final de semana tivesse transcorrido normalmente.

Bom, eu sou bem crítico a toda essa exaltação da figura de Ayrton Senna, não porque ele não mereça, claro, mas porque o endeusamento exagerado do piloto, na minha visão, não contribui em nada para atrair novas gerações de espectadores. Senna era um puta piloto, para muitos, o maior de todos os tempos, mas não era Deus. Os ídolos atuais são outros, com outras pautas, outras atitudes, tudo diferente. É preciso saber que o tempo passa e as gerações mudam. O que ficou pra trás, ficou.

Acidente de Ayrton Senna em 4K

Mas é óbvio que uma volta da F1 contemporânea a uma pista tão tradicional, será, também, cercada de lembranças do passado. Neste caso, com os devidos cuidados, acho que cabe sim. Muita gente teve o curso de sua vida alterado pelo autódromo de Ímola, especialmente aqui no Brasil, naquele 1º de maio de 1994, e é justo que algumas coisas sejam homenageadas.

Ímola, em seu traçado original, era espetacular e produziu provas inesquecíveis. A turma mais antiga, por exemplo, sempre fala da batalha sensacional entre Didier Pironi e Gilles Villeneuve, no GP de 1982. Eu tinha só dois anos de idade, mas já vi imagens no Youtube e sinto certa inveja de quem pôde ver ao vivo.

Villeneuve x Pironi

Teve também a quase vitória de Riccardo Patrese, em 1983, que escapou quando o italiano bateu nos pneus faltando duas voltas para a corrida acabar, e deixou a vitória no colo de Rene Arnoux, da Ferrari. Reza a lenda que Patrese jamais engoliu o fato de a torcida ter ido a loucura com seu acidente e, quando venceu a prova, em 1990, nem quis saber de comemorar muito diante do público. E o que dizer de Alain Prost rodando na volta de apresentação, na corrida de 1991?

Depois do GP de 1994, Ímola sofreu modificações que a tornaram uma pista apertada e de difícil ultrapassagem, o que tirou bastante de seu charme. Ainda assim, boas provas foram disputadas lá. Em 1995, por exemplo, Schumacher estampou os pneus ao errar sozinho na saída dos boxes, num erro raro do então campeão do mundo. Aquela prova também marcou o retorno de Nigel Mansell e, infelizmente, mostrou que o Leão já não rugia mais. Uma batida bizarra em Eddie Irvine e o abandono. Mansell ainda correria mais uma prova, na Espanha, antes de se retirar definitivamente da categoria, às turras com Ron Dennis.

E, claro, as duas últimas corridas disputadas, com duelos inesquecíveis entre Schumacher e Alonso. Em 2005, com o alemão perseguindo o espanhol. Em 2006, posições invertidas. Duas verdadeiras aulas de dois excepcionais pilotos, duas provas que pareciam ser corridas de kart.

Pelas últimas imagens que vi, Ímola não tem mais aquelas duas chicanes antes da reta principal, chamadas de Variante Baixa. Ao se sair da curva Rivazza, emenda-se um retão que vai até a curva Tamburello, esta uma chicane com três pernas desde a prova de 1995. A impressão que se tem, antes de ver os carros na pista, é que a F1 atual não cabe no traçado estreito de Ímola. Mas essa pode ser uma dificuldade que agregue ainda mais valor à prova, deixando-a interessante. A ver.

O fato é que a volta de pistas tradicionais, a despeito do motivo ser dos mais tristes (Covid-19), é um alento para o público que ama a F1. Tomara que a Liberty reconsidere a questão e continue levando a categoria para lugares em que as pessoas a amam de verdade. Será um ganho enorme, depois de um ano tão ruim quanto este 2020.

Bruno Aleixo
São Paulo – SP

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