2024, uma temporada atípica na Fórmula 1 graças a um homem
sábado, 9 de novembro de 2024 às 14:08Por: Adauto Silva
Há muitos e muitos anos não temos uma temporada com essa, quando, a partir do GP de Miami, não houve mais um carro se sobressaindo sobre os outros em todos os tipos de pista.
Geralmente não é o que acontece na F1. Sempre tivemos uma ou no máximo duas equipes que conseguiam fazer carros melhores que as outras e essas equipes também quase sempre tinham pilotos de ponta capazes de fazer seu carro prevalecer senão em todas, mas na maioria das pistas.
Então nos acostumamos e a ver os dois pilotos de uma mesma equipe disputando o campeonato, o que é sempre muito melhor do que quando a equipe tem uma diferença “muito grande” entre seus dois pilotos e só um deles domina a temporada. Essas são as piores temporadas, já que tira totalmente a imprevisibilidade das corridas e do campeonato. Tivemos também temporadas ótimas, onde dois pilotos de alto nível – da mesma equipe ou não – disputaram o título o ano todo.
Mas 2024 está sendo atípico. A Red Bull começou dominando completamente da mesma maneira como tinha terminado 2023, quando ganhou todas as corridas daquela temporada, menos uma, o GP de Singapura, quando teve problemas no carro um tanto estranhos, digamos assim.
Mas o que aconteceu? Porque em 2024 cada momento uma equipe está melhor, ou pouca coisa melhor? A verdade, meu confrade, é que nenhuma das equipes tem entendimento pleno do efeito solo via tuneis Venturi. Nenhuma delas consegue “conectar” o assoalho com o resto de seus carros. Nenhuma delas consegue uma relação perfeita ou próxima disso entre seu túnel de vento, CFD e pista. As atualizações trazidas por todas elas são sempre uma incógnita e nunca se sabe se o carro vai continuar na mesma, vai melhorar ou piorar. Na maioria das vezes os carros ficam na mesma ou pioram. E isso é porque eles não entendem o básico, que é conectar o assoalho com o resto do carro.
Se eles abaixam muito os carros – onde o efeito Venturi teoricamente deveria funcionar melhor -, os quiques voltam, os pilotos perdem a confiança no carro e ficam lentos. Muitas vezes se machucam de tanto que o carro bate com força no asfalto. Fora o fato de hora o carro sair de frente, hora de traseira.
A única pessoa na Fórmula 1 que mostrou saber conectar o assoalho com o resto do carro está de quarentena, o mago Adrian Newey. Enquanto ele estava na Red Bull, seu carro massacrou todos os adversários de forma impiedosa a partir da quinta ou sexta corrida de 2022, quando ele descobriu os últimos detalhes dessa “conexão”. Mas a partir do RB20 de 2024, que ele projetou, mas depois não pôs mais a mão no carro, pois sabia que sairia logo da Red Bull – como saiu mesmo em abril, a coisa degringolou na equipe dos energéticos.
Os engenheiros que lá ficaram, tem as mesmas dificuldades dos das outras equipes, ou seja, não conseguem desenvolver o carro de maneira consistente nas variadas pistas e por isso vemos essa gangorra de performance, tanto na Red Bull quanto nas outras equipes.
Mas voltando ao Adrian Newey, seria ele um gênio que já nasceu com uma inteligência privilegiada? Provavelmente não. Newey esmiuçou muito o efeito solo aplicado em carros de corrida, era um fã de Colin Chapman, que fez o primeiro F1 em 1978 com efeito solo que não quebrava o regulamento da época e venceu o título daquela temporada. Newey fez sua tese de mestrado exatamente nisso e ainda teve a oportunidade única de trabalhar nos carros com efeito solo do final de década de 70 e início da de 80. Mais que isso, naquela época não existiam os equipamentos de hoje, portanto ele fazia – e ainda faz – tudo na boa e velha prancheta.
E a vantagem da prancheta nesse caso é que os equipamentos atuais não preveem efeito solo. Não há e nunca houve outra categoria que use o efeito solo de Venturi, carros de produção nunca sonharam em usar efeito Venturi. Então Newey se encontrou numa situação única na F1, onde pôde usar seus conhecimentos teóricos e práticos contra os engenheiros das outras equipes onde tudo era muito novo e ainda é relativamente novo.
Newey teoricamente não pode trabalhar no carro que está sendo construído pela Aston Martin para 2025, uma vez que está em quarentena, mas algo me diz que na metade de 2025 o carro da equipe sediada em Silverstone se tornará o melhor da F1 em basicamente todas as pistas.
Portanto, é bom que Red Bull, Mercedes, Ferrari e McLaren ponham suas barbas de molho e aproveitem o primeiro semestre de 2025, pois no segundo há uma grande chance de tomarem uma poeira brava do Aston Martin já com as “mãos de Adrian Newey”.
Adauto Silva
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