Que conversa mole!

terça-feira, 11 de novembro de 2014 às 19:00
GP do Brasil de 1974

GP do Brasil de 1974

Por: Adauto Silva

Já está começando a incomodar esse papo que antigamente era tudo melhor. Os pilotos eram melhores, os carros eram melhores e a F1 era melhor.

“Poxa, naquele tempo os carros eram animais”. “Naquele tempo os pilotos é que faziam a diferença”.

As pessoas ou não conhecem automobilismo ou estão redondamente enganadas. Em qualquer tempo o carro sempre fez a diferença. A única vez que um piloto ganhou um título com um carro claramente inferior foi em 1986 quando Prost de McLaren bateu as Williams de Piquet e Mansell, que tinham um carro sabidamente melhor. E isso só aconteceu por causa da briga interna da Williams que foi mal gerenciada por Patrick Head, já que Frank Williams tinha acabado de sofrer o acidente que o deixou tetraplégico.

A única diferença de antigamente para hoje é que os carros quebram menos, muito menos. Ainda bem! E isso não é só na F1, mas em todas as categorias. Em Le Mans por exemplo, só 25% dos carros que largavam completavam as 24 horas, a maioria muitas voltas atrás do líder. Indy a mesma coisa, fora os acidentes fatais, que aconteciam corrida sim e corrida também.

Os pilotos sempre dependeram demais do equipamento, nenhum deles nunca fez milagre. Se o piloto for bom – e 90% dos pilotos da F1 sempre foram bons – e o carro dele for o melhor do grid, ele terá apenas e tão somente seu companheiro de equipe como adversário. Se o companheiro de equipe for bom então a disputa será boa, Se for fraco será um massacre. É simples assim, sempre foi simples assim.

Ordens de equipe também sempre existiram. Gilles Villeneuve não foi campeão porque tinha que deixar Scheckter ganhar. Reutmann não foi campeão porque não podia ganhar de Alan Jones. E isso são apenas dois exemplos.

Está na hora de parar um pouco com esse saudosismo. A F1 sempre teve problemas, assim como as outras categorias. Isso é cíclico, de tempos em tempos os problemas se acumulam e todo mundo começa a falar de “antigamente”, como se antigamente não houvesse problemas.

Eles existiam e muitos. Na década de 70 a maioria as corridas era tediosa, os carros se espalhavam pela pista e chegavam no final com distâncias enormes entre eles. Tinha corrida que chegavam cinco carros no final com 1 minuto de diferença entre eles. No começo dos anos 80 os carros asa eram perigosíssimos e existia uma briga ferrenha entre FISA e FIA, inclusive com corridas boicotadas. Depois tivemos um período razoavelmente longo sem grandes problemas, e foi naquele momento que a F1 cresceu para se tornar o que é hoje; um esporte milionário, de alta tecnologia e audiência global relevante.

Mas no início dos anos 90 começaram os problemas novamente. Os carros ficaram tecnológicos demais com a suspensão ativa, o controle de tração e o cambio totalmente automático. Aí tiraram tudo de uma vez e então o maior simbolo do esporte – Ayrton Senna – morreu na pista ao vivo e os caras se perderam totalmente. Mudaram as pistas com chicanes bizarras feitas de pneus, introduziram os pneus sulcados e liberaram toda a eletrônica novamente.

Nessa época as ultrapassagens começaram a rarear até a praticamente sumirem no inicio deste século, quando só um piloto ganhava tudo porque era muito bom, tinha o melhor carro disparado e um companheiro de equipe que não podia vencer por contrato. Foram cinco anos seguidos de corridas na grande maioria das vezes enfadonhas, onde Schumacher largava na pole e sumia, às vezes comboiado por Barrichello, às vezes sozinho mesmo. E dá-lhe um título atrás do outro sem ninguém tendo um equipamento razoavelmente bom o bastante para desafiá-lo.

Ao mesmo tempo que isso acontecia, a aerodinâmica dos carros dava as cartas e determinava a diferença de equipamento entre os carros. Os motores tinham a mesma potência, os pneus eram os mesmos para todos (depois que expulsaram a Michelin da F1) e a aero praticamente impedia as ultrapassagens porque dificultava demais um carro seguir o outro durante as curvas. Mas o mundo não estava em crise. Europa, USA e Ásia prosperavam a olhos vistos e portanto era uma gastança desvairada na F1 com ninguém se incomodando. Equipes fechavam (e foram muitas), mas eram compradas por outros que as reabriam com outro nome.

E sempre, desde sempre – com raríssimas exceções – a equipe mais rica venceu o título com a segunda mais rica chegando em segundo. Por que? Porque automobilismo é dinheiro. Desde o kart até a F1 você coloca dinheiro no tanque e ele sai em forma de vapor pelo escape.

Portanto moçada, vamos parar dessa conversa mole de “antigamente”…

Adauto Silva

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