MotoGP sem Valentino

domingo, 10 de setembro de 2017 às 2:31
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Valentino Rossi

Colaboração: Carlos Alberto Goldani

Avião sem asa, fogueira sem brasa, assim multidões de aficionados do motociclismo esportivo entendem a ausência de Valentino Rossi na MotoGP. Futebol sem bola, Piu-Piu sem Frajola, foi o sentimento dos torcedores italianos que esgotaram com muita antecedência os ingressos para o GP de San Marino no Circuito Marco Simoncelli, autódromo italiano próximo da cidade de Misano no Mar Adriático, distante poucos quilômetros de Tavulia onde fica a sede das empresas de Rossi.

A MotoGP pode ser vista de diversos modos, e em todos Valentino é importante. Sob a ótica da disputa nas pistas ele é o piloto em atividade com o maior número de vitórias e títulos, na época em que se acidentou estava em quarto colocado na classificação geral separado 26 pontos do líder, ainda com cento e cinquenta (seis etapas) em jogo. A ausência de Rossi repassa para Vinales toda a esperança da Yamaha por bons resultados em seu ano de estreia na equipe oficial da fábrica. Vinales já acusou a pressão depois que a pré-temporada o colocou como um dos favoritos a chegar ao título mundial e, após um início promissor, perdeu rendimento no meio da temporada. É prematuro diagnosticar como vai reagir para absorver a atenção total da mídia e da equipe.

Existe uma outra ótica tão ou mais importante. MotoGP é um campeonato dispendioso onde os orçamentos das equipes são da ordem de 9 ou 10 dígitos em Euros. Estes valores têm diversas fontes de financiamento, bilheteria dos circuitos, cotas de transmissões por TV, licenciamento de marcas, investimento de fábricas no desenvolvimento de novas tecnologias, merchandising e especialmente patrocinadores. O retorno obtido por publicidade é medido pela exposição de uma marca e a sua associação com eventos vitoriosos.

A situação atual parece um déjà-vu do ocorrido em 2010. Naquele ano a comercialização dos ingressos do Circuito de Mugello esgotou para ver Rossi e o piloto se acidentou nos treinos, sofreu uma fratura muito semelhante à atual. Nos dois GPs seguintes (Grã-Bretanha e Holanda) a venda de bilhetes já estava em curso havia meses e não houve retração do público, na prova que seguiu, GP da Catalunha, o impacto foi sensível, os 81 mil espectadores nas arquibancadas contrastaram com os 115 mil ingressos vendidos do ano anterior. O italiano retornou na etapa seguinte em Sachsering e o acesso presencial do público voltou ao normal.

O fato de Rossi não participar de um GP não impede seus torcedores de manifestar apoio ao piloto, mesmo com sua ausência confirmada em Misano, seu fã-clube distribuiu 20.000 bandeiras amarelas com o número 46 para torcedores que compraram ingressos na arquibancada usualmente destinada à sua torcida.

Rossi atrai atenções como nenhum outro piloto, e este é o tipo de exposição midiática que os patrocinadores desejam. Sem Rossi, o comércio e a economia no local dos GPs pode ser penalizada e ter repercussões no encaixe financeiro dos promotores.

Uma métrica da importância de Valentino Rossi em termos de divulgação de marcas pode der obtida pela visualização da sua imagem paramentado para uma prova. Seu macacão pessoal ostenta referências para a (1) Movistar – operadora de telefonia móvel do Grupo Telefônica, (2) Monster Energy – bebidas energéticas, (3) Michelin – fabricante de pneus, (4) Dainese D Air – vestuário esportivo com sistema de proteção inteligente que detecta situações perigosas e infla airbags, (5) Snacks Pata – fabricante de salgadinhos, (6) ENEOS – indústria de lubrificantes, (7) Yamaha – fabricante de motos, (8) Semakin di Depan – significa one step ahead, o slogan da Yamaha na Indonésia, (9) VR46 Riders Academy – seu empreendimento para formação de pilotos, (10) GoPro – Câmeras digitais, (11) Agv Drudi Performance – fornecedora de capacetes e (12) WLF – adesivos personalizados. Como comparativo Marc Márquez, o atual fenômeno das pistas, três vezes campeão mundial em 4 anos e piloto mais jovem a conquistar um GP tem 25% menos publicidade em seu macacão, (1) Repsol – petrolífera espanhola, (2) Red Bull – bebidas energéticas, (3) Michelin – fabricante de pneus, (4) Stella Galícia – fabricante de cervejas, (5) Alpinestars – equipamentos de proteção, (6) Allianz – seguradora, (7) Shoei – capacetes, (8) Satu Hati – um só coração em indonésio, marca comercial da Honda para a região e (9) HRC – Honda Racing Corporation.

A importância do marketing gera algumas situações ridículas, tão logo um piloto entra no Parc Fermé, o cercado reservado aos vencedores para as entrevistas no final de prova, um solícito assessor fornece o boné e uma bebida energética dos patrocinadores para aparecerem na TV e nas fotos, inclusive há uma pessoa encarregada de corrigir o posicionamento da lata na mão do entrevistado caso a marca não fique bem enquadrada pela TV. Houve até uma ocasião em que um piloto que estava lançando uma grife de óculos de sol os utilizou na entrevista, mesmo com tempo fechado e caindo água. A tradicional foto do pódio com os três vencedores pode ser comparada a uma folha de um habitual caderno de ofertas.

A ausência forçada de Valentino Rossi altera toda a MotoGP, aspectos esportivos e econômicos. Embora a sua esperança de voltar já em Aragon, o seu retorno antes do GP do Japão é muito improvável e os médicos acreditam que só possa estar no pleno de sua capacidade física na Austrália em 22 de outubro.

Carlos Alberto Goldani
Porto Alegre – RZ

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