Lito Cavalcanti: 2014 começa agora

terça-feira, 10 de setembro de 2013 às 15:16
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Felipe Massa

Conteúdo patrocinado por: selopatrocinio

 

Nesta 4ª-feira o mundo vai saber quem vai para onde na F1 

Escrevo na terça-feira, antes portanto de um eventual anúncio de quem guiará para quem em 2014. Não me queixo, faz parte do trabalho de um jornalista – e agradeço a Deus me ter feito jornalista. Mas isso me limita a analisar possibilidades, todas passíveis de não se realizarem.

Sim, pode ser que, ao fim de tudo, nada mude, todos fiquem onde estão. Afinal, mudanças supõem melhoras, e não vejo melhora para quase ninguém no quadro atual.

Sim, enfatizo este quase porque no centro deste quadro, ou muito perto do centro, está o ótimo Nico Hulkenberg, o único a lucrar com qualquer mudança que venha a fazer – mas não deve perder muito se continuar onde está.

É notável a evolução da Sauber desde que os rublos começaram a gotejar em seus cofres famintos. Mas andar bem em Monza não significa andar bem nos outros circuitos, tamanha a particularidade da mais histórica e reverenciada pista da atualidade.

A exigência de pouquíssima carga aerodinâmica cai à perfeição em um carro que tem exibido uma enorme carência de pressão aerodinâmica. Para ele, em Monza nada há a perder, já que as características da pista trazem os adversários para um patamar que os carros suíços já há muito frequentam.

Por isso, para Hulk é importantíssimo que as decisões sejam tomadas o quanto antes. É provável que, após as curvas travadas de Cingapura, se inverta o viés de alta que hoje sustenta suas ações.

Mas apenas para ele parece haver vantagem em qualquer mudança. Nem mesmo para Kimi Raikkonen, caso ele aceite a ideia de se transferir para a Ferrari, deve haver benefícios.

Ora, se ele diz, e todos concordam, que Monza em nada favorece seu carro, o a opção pela Lotus é a melhor. Se por um lado seu carro não lhe permite boas posições nos grids, na corrida italiana ele mostrou desempenho comparável ao da Red Bull de Sebastian Vettel.

Basta ver que, depois de trocar o bico danificado no choque com Sergio Perez no fim da primeira volta, Kimi voltou à pista 37 segundos atrás de Vettel. Na bandeirada, a diferença entre eles era de 38 segundos. Ou seja, perdeu apenas um segundo em 52 voltas.

Pode-se, sem dúvida, argumentar que Vettel teve de mudar as marchas mais cedo para evitar uma quebra do câmbio, mal que já o privara de uma vitória certa na Inglaterra; mas quem vem na última colocação, como veio Raikkonen, enfrenta um trânsito que o líder jamais encontra.

A favor da Lotus está o fato de seus carros serem dos mais resistentes entre os 22; e que a evolução conseguida ano a ano permite vislumbrar desempenhos melhores em 2014.
Na Ferrari, nada garante que Raikkonen terá a paz de que hoje desfruta. As exigências comerciais serão maiores e mais frequentes; e será bem mais difícil o convívio com Fernando Alonso do que é com Romain Grosjean.

O espanhol com certeza se sentirá traído com a presença de um companheiro teoricamente capaz de desafiar sua liderança e, acima de tudo, seu status de primeiro cavaleiro. A Ferrari o acostumou a isso e mudar tudo de uma hora para outra trará consequências inevitavelmente.

Por mais que negue, como tem feito, Alonso terá enorme dificuldade de conviver com rivalidades internas – sua história pregressa o comprova. Para ele será ainda pior se o rival for imune a manobras políticas, fizer ouvidos moucos a queixas e lamentos e usar o acelerador para dar suas respostas.

Por isso, me parece mais lógico e mais acertado a manutenção de Felipe Massa ou sua substituição por Nico Hulkenberg do que por Kimi Raikkonen. A primeira opção é a melhor. Com tantas novidades técnicas agendadas para 2014, quanto mais continuidade melhor.

Não tenho dúvidas de que, internamente, a Ferrari saiba bem disso; mas igualmente não tenho dúvidas de que as marés políticas, também internamente, têm a força de um tsunami.

Lá, se impõe ouvir a cornetagem de quem não tem de prestar contas das escolhas feitas; de quem não tem acesso aos dados imprescindíveis a uma escolha madura; de quem não compreende as reações intempestivas mas justas de um piloto que vê o tempo passar sem receber equipamento à altura dos adversários; e vê ano após ano o terceiro título a que sua capacidade faz jus lhe escapar por entre os dedos.

Em meio a isso, se destaca a serenidade de Stefano Domenicali, o italiano menos sanguíneo que o mundo já viu. A ele cabem as decisões, mas por trás e por cima está a figura rocambolesca de Luca di Montezemolo, que vive a dizer que nenhum piloto é maior que a Ferrari. Notem bem, ele se refere apenas e tão somente a pilotos, não a dirigentes – o que o exclui, naturalmente.

Por outro lado, em Monza, quem cumpriu à risca tudo que se podia esperar foi Felipe Massa. Sacrificou o que poderia ser o segundo lugar no grid esperando Alonso na vã tentativa de fazer funcionar uma impraticável tática de vácuos; com mais uma largada perfeita forçou Vettel a bloquear os freios na primeira curva e a conviver com uma vibração no pneu dianteiro direito que, segundo seu chefe Christian Horner, quase lhe fez os olhos saltarem das órbitas.

Mais do que isso, perdeu o terceiro lugar que lhe coube ao ceder sua posição a Alonso porque a Ferrari gastou sete décimos de segundo a mais para trocar seus pneus do que a Red Bull os de Mark Webber. Sim, o segundo lugar esteve a seu alcance desde o sábado, e ele nem ao pódio foi em nome da equipe.

Raikkonen aceitaria isso? Hulkenberg desempenharia esse papel? Não sei dizer, pode ser que sim e que não. Mas Massa aceita, tem aceitado, continuará a aceitar. Por isso, torço para que a Ferrari contrate outro piloto e libere o Massa que nos permitiu sonhar até o GP da Hungria de 2009, de triste memória. Dele nos orgulhamos em um 2008 inesquecível; hoje, brasileiros ingratos que somos, lhe dedicamos desprezo e incompreensão.

Na Lotus, na Sauber, em qualquer equipe que lhe permita igualdade, quero ver o Massa que um dia conhecemos renascer, combater, vencendo ou não. O mérito, o orgulho e a glória não residem apenas nas vitórias; diria até que pelo contrário.

Para mim, os grandes nomes de Monza não foram Sebastian Vettel, Adrian Newey nem Red Bull. Foram Felipe Massa e sua segunda Ferrari, Nico Hulkenberg e sua Sauber.

É isso que sinto hoje, terça-feira, na hora em que escrevo estas mal traçadas linhas. Pode ser que quando elas estejam sendo lidas, já saibamos todos o destino de cada um em 2014. Mas é isso que penso e quero neste momento.

Lito Cavalcanti

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