F1 – Prelúdio de uma grande temporada

sexta-feira, 1 de março de 2019 às 21:45

Por: Adauto Silva

Esta pré-temporada que terminou hoje em Barcelona mostrou-se a mais difícil de prever a ordem hierárquica das equipes desde 2008, o que é um prelúdio de uma temporada que tem tudo para ser sensacional!

Em razão da arrogância da Mercedes, temos que dividir essa pré-temporada em duas partes.

A primeira parte foram os quatro primeiros dias, onde a Mercedes achou que um carro meia-boca daria conta do recado e acabou tomando uma surra merecida da Ferrari e ficando até atrás da Red Bull.

Mas por que eu chamei isso de arrogância? Simples, você acha que a Mercedes construiu um carro praticamente novo em quatro dias para a segunda parte da pré-temporada? Ora, claro que não, isso não existe na F1. Para se projetar e construir todas aquelas partes novas que apareceram “do nada”, leva-se semanas e muitas vezes meses.

Tudo o que ela levou para testar a partir do dia 5 já estava pronto na fábrica e só ia ser usado em Melbourne, na abertura do campeonato.

O resultado dos quatro primeiros dias foi pífio e Toto Wolff e sua turma tiveram que se explicar para a Daimler – que é dona de 60% da equipe – porque ficaram tão atrás – meio segundo, no mínimo – da Ferrari.

A explicação de Toto foi simples: ele confiou em James Allison e na turma dele. Eu digo que se Niki Lauda estivesse presente, isso não aconteceria. A Mercedes teria levado tudo o que fez e não perderia quatro dias de teste como perdeu.

Eu nunca considerei James Allison uma espécie de gênio menor do que Adrian Newey, mas sim muito menor. O que Allison está fazendo é aproveitar bem – melhor que Paddy Lowe – uma super estrutura montada lá atrás por Ross Brawn que funciona bem demais.

Toto é um excelente chefe de equipe – talvez o melhor -, mas por não ter enorme conhecimento técnico como Brawn tinha e Mattia Binotto tem, acaba muitas vezes tendo que “comer na mão” do chefe técnico. Dessa vez se deu mal.

Por outro lado, a Red Bull era só sorrisos, já que o motor Honda dava voltas e voltas seguidas sem apresentar problemas óbvios. Gasly não parecia muito impressionado com a potência, mas elogiava a confiabilidade da UP, algo que ele não havia experimentado em nenhum momento de 2018 na Toro Rosso. Mas Marko e Horner estavam soltando foguetes, até que Verstappen disse a eles que estava faltando potência mesmo para brigar pelo título, além de uma traseira arisca demais que deixava ele e Galsy sem nenhuma margem de erro na entrada das curvas.

Chegaram a dizer por aí que as vibrações do motor Honda poderiam estar gerando essa traseira arisca do carro, mas isso foi logo desmentido categoricamente por Horner e Marko. Verdade ou não?

A Toro Rosso não tem problemas na traseira do carro e usa a mesma UP Honda. A questão é a seguinte: a Toro não faz carro para ganhar título, a Red Bull faz. A Toro deixa todo o espaço do mundo para a UP da Honda, enquanto a Red Bull deixa o mínimo. Reparou o quanto a traseira do carro de Newey afunila? É a traseira que mais afunila no grid, ou seja, espaço mínimo para refrigeração e/ou aventuras aero que não sejam para performance. Olhe:

Então vamos para a segunda parte da pré-temporada. E aí o bicho começou a pegar.

A Ferrari na moita, não trouxe praticamente nada novo que fosse realmente relevante, que mudasse o carro. A Mercedes trouxe tudo, lógico, dentro do conceito do carro deles, um conceito antigo ainda com pouquíssimo rake. É o carro com menos rake de todo o grid mais uma vez…

A Red Bull fez várias modificações na traseira do carro, inclusive tendo usado aparatos estranhos montados na traseira que mostramos no nosso “ao vivo”. Veja:

Além dessas modificações na traseira, que nos foi dito que “aumentava a rigidez”, a Red Bull “descobriu” que a Honda tinha 20 hp no bolso (software da UP) para ser testado somente no último dia! Então começou uma pressão enlouquecida pra cima dos japoneses, que toparam liberar primeiro na Toro Rosso e só depois na Red Bull.

E assim foi feito. No dia 7 Albon deu cerca de 130 voltas com o carro, marcou um belo tempo com pneus C5 e só ficou atrás da Ferrari de Leclerc, que usou o mesmo pneu para marcar seu tempo. Foi inclusive 0,3s mais rápido que Gasly. Tudo parecia uma beleza, era só colocar esses 20 hp na Red Bull no dia 8 e correr para o abraço.

Só que Gasly bateu forte no mesmo dia 7 – pisou na grama e perdeu a traseira!!! – e boa parte do carro teve que ser reconstruída as pressas para o dia 8, o último. Teoricamente a equipe conseguiu reconstruir tudo e Max foi à pista pela manhã. Só que depois de apenas 29 voltas e nenhuma delas com o pneu mais rápido, o C5, Max teve que abandonar o treino com a Red Bull dizendo que foi um problema na caixa de cambio.

Hummm….

A Ferrari fez os últimos 4 dias de pré-temporada na miúda. Um probleminha aqui, outro ali, mas sempre sendo a mais rápida e dando muitas voltas no pneu e fazendo tempos impressionantes. Seus stints sempre melhores que os da Mercedes e Red Bull. Mesmo assim Binotto não ficou satisfeito. Ele esperava mais do carro, tanto em volta voadora quanto em stints de qualquer tamanho! Imagina o que ele já deve ter preparado para a Austrália desde que a pré-temporada começou…

A Mercedes teve que começar tudo de novo. Jogou fora os primeiros quatro dias e teve que sair quase do zero no dia 5 para acertar seu carro novo. A arrogância inicial custou meia pré-temporada pra eles. Para se ter uma ideia de como eles próprios se prejudicaram, só foram usar os pneus mais macios da Pirelli no último dia.

E fizeram tempos ótimos, muito próximos da Ferrari em volta voadora e não tão próximos em stints com mais de 10 voltas. É aí que mora o problema atual da Mercedes.

A diferença entre eles? Muitíssimo complicado cravar, mas eu digo que neste momento – porque não sei quanto a Ferrari vai melhorar para Melbourne, e ela quem tem mais potencial de melhora – é bem pouca entre Ferrari e Mercedes em volta de classificação. Mas o ritmo de corrida da Ferrari, neste momento sem as surpresas que Binotto deve estar aprontando, está em cerca de 0,2 – 0,3s por volta.

Ou seja, na minha visão Hamilton exagerou quando disse hoje que a diferença continua em meio segundo, como foi na primeira parte da temporada.

A Red Bull vai depender muito da UP melhorar continuamente durante o ano, ou eles não estarão na briga pelo título. A traseira muito solta eu tenho certeza que o Newey arruma, se já não arrumou.

Os pilotos vão fazer grande diferença. Se a Ferrari mantiver a traseira pregada e Vettel não se afobar cometendo erros em sequencia como nos últimos dois anos,  Maranello pode finalmente vencer o primeiro título desde 2007.

Hamilton terá que fazer diferença nas classificações, pois largar na frente talvez seja crucial para vencer o sexto titulo.

Max precisa de um carro com um pouco mais de potência. O resto ele dá conta.

Leclerc pode surpreender, mas tem que ser logo de cara. Se chegar na quinta corrida atrás de Vettel na pontuação, esquece qualquer pretensão de título.

Gasly e Bottas não parecem a altura do desafio, apesar de serem ótimos pilotos.

E o segundo pelotão?
Aqui a coisa está sensacional, tudo embolado. Vamos tentar decifrar as coisas?

Pensei que se alguém fosse conseguir encostar nas três principais equipes este ano, esse alguém seria a Renault. Mas por enquanto não, ela não chegou ainda. Está mais perto.

Ricciardo e Hulk dividiram o carro nos testes, assim como a Mercedes fez com Lewis e Valtteri. O RS19 não mostrou o mesmo ritmo que o trio principal de carros, parecendo lutar especialmente em alta velocidade, a julgar pelas observações de pista. No entanto, ainda parece colocar a Renault pouca coisa melhor que as outras. Hulk terminou o último dia em P4, seis décimos do melhor tempo de Vettel!

Depois temos as duas equipes ligadas à Ferrari, Alfa Romeo e Haas. Ambos os carros parecem muito estáveis ​​sob frenagem em particular. Isso não é surpreendente, dada a influência da Ferrari – e foram rápidos em stints longos. Mas a Haas teve uma série de pequenos problemas nos testes e isso pode afetá-los especialmente nas primeiras corridas.

Em 2018 a Haas começou com muita velocidade, mas foi muito afetada por problemas de confiabilidade. Logo na primeira corrida eles perderem um pódio certo quando os dois carros pararam na pista depois do pitstop, deu até pena. E no final da temporada a equipe também perdeu muitos pontos por falta de confiabilidade. Precisam resolver isso, se quiserem realmente dar um passo adiante para lutar pelo P4 no campeonato.

A Alfa progrediu em relação ao ano passado. E bastante. Não me surpreenderia se eles desafiassem a Renault nas primeiras corridas. O problema são os pilotos. Ric e Hulk são muito melhores que Kimi e Giovanazzi.

Renault, Haas e Alfa devem se destacar no segundo pelotão, mas McLaren, Toro Rosso e Racing Point (será?) podem brigar ali também, depende muito do tipo de pista. Toro Rosso e McLaren fizeram algumas ótimas simulações de classificação esta semana, terminando o último dia em P5 e P6, respectivamente, nos 1m16s, graças a algumas saídas com combustível baixo. Nos stints mais longos seus carros ficam ariscos rapidamente e o tempo de volta desaba antes do que Renault, Haas e Alfa.

A Racing Point está abaixo desse pelotão, mas já sei que eles terão um pacote de atualização grande para Melbourne, que poderá mudar muito o carro e torná-lo bem mais competitivo. Eles tem recursos para isso agora e Sergio Perez tem muita experiência. Downforce é a ordem do dia na equipe.

Sobre a Williams eu acho que George Russell disse tudo após seu último dia no FW42 antes de Melbourne na quinta-feira: “Eu estaria mentindo se dissesse que não somos os mais lentos no momento. Essa é a realidade. É claro que temos algum trabalho a fazer, mas foi muito positivo que tenhamos dado um grande passo desde quando entrei no carro na terça-feira.”

Paddy Lowe é fraquíssimo e a Claire deve ter comido inhame em 2016 quando resolveu contratá-lo e ainda o fazer sócio da equipe, mesmo que minoritário. Eu espero que o carro melhore, até porque nutro grande simpatia por Frank Williams, sua história e pelo jovem George Russell, pra mim um dos melhores pilotos – senão o melhor – desta nova geração.

O regulamento mudou para os carros ficaram mais fáceis de serem seguidos de perto. Adiantou? A maioria disse que não, com a única voz dissonante sendo de Kevin Magnussen. Espero que o Viking esteja certo e todo o resto errado!

Vamos lá…
Ferrari
Mercedes
Red Bull
Renault – Alfa – Haas
McLaren – Toro Rosso
Racing Point
Williams

Adauto Silva
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