F1 – GP da Austrália foi um espelho da pré-temporada

terça-feira, 27 de março de 2018 às 20:21

Vettel e Hamilton – Melbourne 2018

Por: Adauto Silva

A primeira corrida de F1 da temporada de 2018 foi um retrato absolutamente fiel do que escrevi sobre a pré-temporada!

Sem tirar nem por, a Mercedes estava um pouco melhor que a Ferrari, que estava um pouquinho melhor (será?) que a Red Bull. Ué, mas se a Mercedes estava melhor que a Ferrari, porque a Ferrari ganhou e ainda fez o P3 assumindo a liderança tanto dos pilotos quanto dos Construtores?

Calma, vamos chegar lá, mas se você assistiu a corrida, imagino que já saiba a resposta…

E logo atrás das três atualmente “grandes”, estava a Haas, assim como eu disse que estaria. Eles não apenas foram muito bem na classificação fazendo P6 e P7, mas também estavam ótimos na corrida. Magnussen largou bem e aproveitou que Verstappen encaixotou-se atrás de Vettel na curva 1 para ultrapassá-lo e assumir um excelente quarto lugar. Enquanto isso, Grosjean lutava em P7 contra a outra Red Bull (a de Ricciardo) e nenhuma delas – as Red Bulls – parecia que iria conseguir ultrapassar alguma das Haas na pista.

Aliás, ultrapassar na pista esse ano vai ser mais difícil ainda porque a F1 cometeu um erro grave. Entre 2014 e 2016 tivemos muitas ultrapassagens nas corridas. Por que? Porque a aero estava bastante restrita e com ela restrita o carro de trás conseguia seguir o da frente com mais facilidade. Aí acharam que os carros estavam lentos demais e fáceis demais de pilotar. Liberaram a aero e era evidente que o problema da extrema dificuldade de ultrapassagem iria voltar. A melhor saída era permitir o retorno do efeito solo, porque isso tornaria os carros muito mais rápidos sem prejudicar em absolutamente nada as ultrapassagens. Uma saída intermediária era aumentar o tamanho dos pneus e permitir mais potência nos motores. A pior saída de todas era liberar a aero “por cima” do carro, que foi exatamente o que eles fizeram.

Eles acharam que o aumento da largura dos pneus ia compensar o incremento da aero na questão das ultrapassagens. Não compensou e agora estamos com um problemão bastante difícil de ser resolvido antes da próxima mudança de regulamento. Minha opinião é que esse foi um dos erros mais bizarros que a F1 e seus super engenheiros cometeram neste novo regulamento!

Bom, voltando ao GP da Austrália, se ultrapassar na pista está complicado, o jeito é usar a estratégia para ultrapassar no box. E foi exatamente o que a Ferrari fez com maestria em cima da Mercedes. Hamilton e Raikkonen já tinham feito suas paradas em bandeira verde. Vettel ainda não, por isso ele liderava antes de parar. Aí aconteceu aquela tragédia com os dois carros da Haas e em virtude de Grosjean ter parado seu carro num lugar considerado perigoso, a direção de prova mandou um safety-car virtual.

Nessa situação os carros tem que andar numa velocidade muito menor do que quando estão correndo sob bandeira verde, portanto a Ferrari aproveitou o ensejo e fez Vettel parar, trocar seus pneus e voltar ainda na frente. A Ferrari foi perfeita naquele momento e deu uma vitória improvável para Vettel, que na pista em condições normais, tinha tomado tempo do Kimi na classificação e e estava ficando um pouco para trás na corrida.

Quando o safety-car saiu da frente e a corrida recomeçou, Hamilton partiu furioso pra cima de Vettel, mas evidentemente tudo o que ele conseguiu foi dar umas fritadas de pneus e esquentar demais sua UP, portanto teve que desistir de tentar ganhar a corrida quando ainda faltavam 6 ou 7 voltas para o final.

As Red Bulls também não conseguiram ultrapassar ninguém na pista, com exceção de Ricciardo sobre Hulk. Max deu uma rodada espetacular ainda no começo da prova tentando fazer a curva 1 colado em Magnussen para tentar uma ultrapassagem desesperada depois na 3. Com isso ele perdeu várias posições e só terminou em P6.

Quem deu sorte foi Fernando Alonso. Na classificação a McLaren decepcionou sequer indo para o Q3. Mas com a punição a Bottas, Alonso largou em P10 e Vandoorne em P11, ou seja, muito pouco para uma equipe que tinha a expectativa – eu diria até obrigação – de brigar com a Red Bull logo de cara.

Na corrida Alonso estava em P10 sem perspectivas de melhoras, mas aí com a patacoada da equipe Haas com seus dois carros, a rodada de Verstappen, a bobeada da equipe Renault e a corridinha fraca fraca de Bottas, o P5 meio que caiu no colo do Alonso. A McLaren vai ter que achar pelo menos uns sete décimos de segundo por volta a mais que a Red Bull, caso ainda tenha a pretensão de brigar com a equipe austríaca. E achar 0.7s a mais que a Red Bull durante a temporada me parece uma tarefa hercúlea nesse momento para a McLaren.

Mas vamos seguindo. Conforme eu havia dito na minha coluna logo após a pré-temporada, a Force India seria a última do “meio campo” e Williams e Sauber fechariam o grid. Sem querer parecer arrogante, mas já parecendo, aconteceu exatamente isso, ou seja, dei a sorte de acertar o grid inteiro na primeira corrida do ano. Foi só prestar atenção na pré-temporada.

E a Toro Rosso Honda? Também decepcionou. Brendon Hartley tomou uma volta na corrida e Gasly só completou 13 voltas depois de ter largado em último! Mas apesar disso, vejo mais potencial neles no que na Sauber e na Williams.

Botão mágico
Nesse final de semana, depois da voltassa que o Hamilton deu no Q3, surgiu de novo aquela palhaçada de “botão mágico” ou “modo festa” que a Mercedes usaria em sua UP somente na classificação.

Pergunto: Qual é a novidade?

Desde que a eletrônica passou a cumprir um papel fundamental na F1 – meados da década de 80 – todas as equipes, primeiro as de ponta e depois todas mesmo, sempre tiveram mapas diferentes de classificação e corrida. É óbvio que os motores de classificação sempre foram muito mais livres que os motores de corrida, pois do contrário quebrariam.

Para você ter uma ideia de quando isso começou, o registro mais antigo que lembro é de 1986, quando o motor BMW M12/13 que equipava a Benetton, tinha cerca de 1.400 hp na classificação e “apenas” 850 hp na corrida.

Adauto Silva
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