F1 – Afinal, o que está acontecendo?

segunda-feira, 15 de abril de 2019 às 17:26

Largada GP da China 2019

Por: Adauto Silva

Há muitos anos que não estava tão difícil prever o que vai acontecer na F1 como nesta temporada. Na verdade está difícil até mesmo entender e explicar o que está acontecendo agora.

A Ferrari realmente mostrou-se melhor na pré-temporada. Não houve blefe da Mercedes, ou seja, eles não andaram abaixo do que podiam. Eu já sabia disso, até porque não faria sentido para eles – nem para ninguém – não explorar o potencial do carro nos míseros 8 dias de testes reais que as equipes têm para entender seus carros, ainda mais sob um novo regulamento aerodinâmico.

Mesmo assim eu tive essa confirmação – com todas as palavras – da própria Mercedes.

Então porque a Ferrari não conseguiu vencer nenhuma corrida até agora?

Por várias razões. Algumas óbvias e outras nem tanto.

Ferrari x Mercedes
Na Austrália todos os carros com UP Ferrari andaram em “modo seguro”, já que houve superaquecimento logo no TL1 e depois no TL2. Só a Alfa Romeo não sofreu esse problema, mas a Alfa ainda estava e continua com a refrigeração usada em 2018, enquanto a Ferrari e a Haas mudaram inteiramente suas aeros para afunilar mais suas traseiras prejudicando a refrigeração de seus carros. Foram na mesma onda da Red Bull, desde sempre o carro com a melhor aero do grid.

No Bahrain a Ferrari melhorou um pouco sua refrigeração abrindo mais algumas entradas de ar – o que gera mais arrasto – e andou super bem mostrando o ritmo da pré-temporada em Barcelona. Fez toda a primeira fila na classificação e devia ter vencido a corrida com dobradinha, já que mostrou velocidade para isso até o final, quando Leclerc teve problemas na UP novamente e ficou as últimas voltas da corrida na pista andando 6 segundos mais lento, enquanto Vettel rodou, perdeu sua asa dianteira, acabou com sua corrida e com isso chegou apenas em P5.

Mas mesmo abrindo mais suas entradas de ar e assim gerando mais arrasto e prejudicando a aero, a Ferrari impressionou com sua velocidade em reta no Bahrain. Seus carros eram mais rápidos do início ao final das retas, principalmente entre os 180 e os 280 kph, o que denota um torque melhor que o resto. Mas não foi mais rápida em todas as curvas, o que já indicava que a mudança na aero para refrigerar melhor seu motor, tinha tido esse “efeito colateral”.

Nesse meio tempo entre a corrida do Bahrain e a da China, a Ferrari trocou o controle eletrônico, não só de seus carros, mas também nos da Haas. E como esse controle eletrônico controla centenas de funções, é muito difícil cravar o que estava errado nele. Uma forte indicação é que ele mudou de posição no carro de 2018 para o de 2019. Antes ele estava posicionado mais perto da entrada principal de ar. No carro deste ano da Ferrari e da Haas ele foi colocado bem mais para trás. Outra indicação é que uma das funções do controle eletrônico é justamente controlar a “potência” dos radiadores, problema que a Haas detectou até antes da Ferrari.

Componentes UPs até a China

Então chegamos na China e a expectativa do paddock era que finalmente a Ferrari tinha resolvido seus problemas de refrigeração na UP, mesmo gerando um pouco mais de arrasto no carro do que eles gostariam. Mesmo assim, no TL1 Vettel fez o melhor tempo e a Ferrari continuou mais rápida de reta.

A Mercedes, por outro lado, antes do TL1 tirou um pouco de downforce de seus carros e mexeu no software para conseguir mais alguns burritos, cerca de 7 deles, como consegui apurar. O carro deu uma boa melhorada de reta, mas ficou solto demais nas curvas. Tão solto que demorava a aquecer os pneus e tanto Bottas quanto Hamilton rodaram logo após saírem do box em curvas de baixa. E houve a asa nova, que mesmo com a pequena modificação que a FIA mandou fazer, ajudou a melhorar o W10.

Então, para o TL2, a Mercedes mexeu nos carros. Num deles, no de Bottas, foi colocado o downforce que eles imaginavam como o certo para Xangai, enquanto no de Hamilton mexeram na suspensão e em alguns apêndices aerodinâmicos. Dois caminhos diferentes para ver qual deles seguir. Bottas então fez o melhor tempo do TL2, por muito pouco – apenas 27 milésimos de segundo -, mas fez. Hamilton disse que o carro também ficou mais rápido, mas demais arisco e muito difícil de pilotar no limite, tanto que ele confessou ter cometido erros nas duas voltas voadoras que tentou no TL2.

De qualquer maneira, isso deu o caminho para o carro de Bottas e no TL3 foi colocado mais downforce ainda no carro do finlandês. Hamilton e seu pessoal não estavam convencidos ainda deste caminho para a corrida, uma vez que com mais downforce e arrasto, se as Ferraris largassem na frente, a Mercedes não ia conseguir ultrapassá-las na pista, mesmo talvez sendo um pouco mais rápida no geral. Mas o caminho de Bottas e sua turma provou-se realmente melhor no TL3, quando o finlandês meteu 4 décimos nas duas Ferraris e quase 9 décimos em Hamilton.

Isso foi o bastante para Hamilton e sua turma se convencerem que o caminho certo era o outro, o que Bottas e a turma dele estavam seguindo. Assim, nas duas horas que separam o TL3 da classificação, foi decidido que ambos os carros iriam com o acerto que Bottas tinha seguido e ainda colocando um pouco mais de downforce confiando no “modo festa” da UP para o Q3. O problema para Hamilton é que ele iria guiar o carro com mais downforce pela primeira vez justamente na classificação. E o problema para a Mercedes é que o acerto escolhido praticamente os obrigava a largar na frente das Ferraris.

Enquanto isso na Ferrari Leclerc parecia satisfeito com o acerto. Tinham perdido para Bottas no TL3, mas ambos os pilotos tinham errado suas voltas voadoras, assim como Hamilton havia errado no TL2. Vettel reclamou que a traseira estava um pouco solta para o gosto dele, mas colocar mais asa traseira não era uma opção para os engenheiros da Ferrari.

Dito tudo isso, conclui-se que Mercedes e Ferrari seguiram caminhos distintos na China, Enquanto a Ferrari apostou nas duas retas, uma delas enorme, a Mercedes apostou nas freadas e curvas. A Ferrari foi para a corrida com menos downforce do que podia e a Mercedes com todo o downforce possível. Quem acertou? Obviamente a Mercedes, que fez outra dobradinha. A Ferrari simplesmente errou no acerto de carro.

Velocidades máximas na classificação:

Pos  Piloto 
 Km/h 
1 Sebastian Vettel 327.1
2 Charles Leclerc 326.1
7 Valtteri Bottas 322.0
14 Lewis Hamilton 319.3

Ferrari x Ferrari
Além de estar perdendo para a Mercedes por todos os motivos acima, a Ferrari está perdendo para ela mesma. Essa teimosia em privilegiar Sebastian Vettel desde a primeira corrida do campeonato está se mostrando um tiro de 12 com cano cerrado no próprio peito!

Tivemos três corridas e nas três Leclerc recebeu ordens da equipe. Todas elas para ficar atrás de Sebastian Vettel quando em todas essas oportunidades ele era mais rápido. Na China, não satisfeita em mandar o garoto abrir para Vettel justamente na hora que ele começou a ser mais rápido que o alemão, a Ferrari simplesmente destruiu a corrida dele o deixando na pista com pneus em frangalhos. Qual o sentido disso? Mostrar que quem manda é a equipe? Mas e os resultados?

Leclerc está 1 ponto atrás de Vettel quando poderia estar vários à frente. Na Austrália ele foi P5 quando poderia ser P4 ou até P3. Perdeu 5 pontos. No Bahrain ele teve que desobedecer a equipe para marcar mais pontos que Vettel. E na China ele foi P5 quando poderia ter sido P3 de novo. Mais 5 pontos. Ele hoje está em P5 na tabela com 36 pontos quando podia estar em P3 com 46 pontos.

Quanta estupidez de Mattia Binotto! Eu, que o elogiei tanto quando ele foi colocado no lugar de Maurizio Arrivabene, agora estou profundamente decepcionado com sua conduta, tanto técnica quanto de gestão dos pilotos. Espero que ele tenha inteligência e sensibilidade para ver o quanto já errou nas 3 corridas que chefiou a equipe e reveja seus conceitos furados. Ou senão vai tomar um canudo histórico da Mercedes, que até agora obteve todos os pontos possíveis no campeonato de construtores, com exceção da volta mais rápida em duas corridas.

Impressionante a diferença de Toto Wolff para todos os chefes de equipe da Ferrari nos últimos 5 anos!

Dizem que Hamilton vai para os Vermelhos em 2021. Estou começando a duvidar muito disso…

Red Bull-Honda
Horner fez uma declaração ontem aparentemente caindo na real. Não tem chassi e nem motor para disputar contra Mercedes e Ferrari. Mas dá pra acreditar nisso, ou ele segue a escola de Toto sempre mandando a turma pra um lado e indo para o outro?

Na verdade o chassi/aero da Red Bull tem problemas realmente. Gasly, um piloto longe de ser medíocre, simplesmente não consegue guiar o carro de maneira rápida sequer por uma volta voadora. Max vem fazendo das tripas coração para se manter razoavelmente perto das Ferraris e aproveita toda e qualquer oportunidade – e os Vermelhos dão muitas – para chegar à frente de alguma Ferrari.

O motor Honda está bem em termos de confiabilidade, mas ainda está 40 hp atrás dos melhores. Mas a Red Bull resolveu não culpar a Honda, apesar de mostrarem um desempenho quase idêntico ao das temporadas anteriores com a Renault. Mas se eles brigarem com os japoneses, ficarão sem motor na F1. Simples assim.

Por outro lado, quem duvida que Adrian Newey conserta essa aero até Barcelona e continua melhorando até o final do ano? Eu não duvido, já que não sou louco…

E o motor? Tenho uma informação que a Honda vai colocar mais 20 hp no carro já em Baku! Foi Marko quem deixou escapar essa info. É verdade? Francamente não sei, não consegui confirmar. Mas se for, o déficit para Mercedes e Ferrari ficará em 20 hp.

E “só” com 20 hp a menos somados a resolução dos problemas de chassi, pode ter certeza que a Red Bull entra na briga mesmo!

GP da China
A corrida foi morna, muito mais morna do que eu esperava. Hamilton só teve oportunidade de “pegar a mão” do acerto do carro na classificação, largou melhor que Bottas, venceu a milésima corrida da Formula 1 e se aproxima rapidamente de poder pendurar o capacete como estatisticamente o maior piloto que já existiu – com outra performance impecável ao conquistar pela sexta vez o GP da China, a 75ª vitória de sua carreira, unindo-se apenas a Michael Schumacher, com mais de 4.000 voltas lideradas.

A Renault mais uma vez teve um de seus carros com problemas, mas pelo menos foi a melhor do resto com Ricciardo, que chegou 1 volta atrás. O motor é fraco, tem baixa confiabilidade e o carro também não ajuda em nada. Muito difícil de guiar, sai de traseira em algumas curvas e de frente em outras, o que o faz desgastar os pneus muito mais que as equipes de ponta.

Precisa melhorar muito para não ser atropelada por outras equipes do segundo pelotão, o que seria a humilhação suprema para uma equipe de fábrica!

Merece destaque (negativo) o Kvyat, que conseguiu em apenas uma manobra estragar a corrida da McLaren inteira e Alexander Albon, um novato que ninguém dava nada (a não ser o meu chapa Fabio Campos), mas vem fazendo um trabalho impressionante na Toro Rosso. E não apenas por largar do pitlane e chegar em P10 na China, mas também por estar com mais pontos e ter já ter feito 2×1 em disputas de grid no companheiro de equipe Kvyat, muito mais experiente e considerado um bom piloto, apesar das lambanças que faz às vezes!

Ah, já ia me esquecendo! Houve aquela bonita disputa de Vettel x Verstappen na curva 14. E dessa vez o alemão foi bem dando um X por trás em Max!

Adauto Silva
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