Análise das equipes de F1 de 2015

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015 às 15:24
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GP do Brasil 2015

Por: Adauto Silva

Hora de fazer a análise das equipes de F1 em 2015 em relação a 2014. O que melhorou, o que piorou e o que pode acontecer em 2016!

MERCEDES
O que melhorou? Principalmente a confiabilidade. Com muito menos quebras e finalmente com o crônico problema de freio resolvido, Hamilton e Rosberg não tiveram adversários, a não ser eles mesmos.

Em matéria de performance o carro melhorou muito pouco. Na maioria das pistas seus tempos de volta foram muito próximos dos tempos que fizeram em 2014.

O que piorou? O relacionamento entre Hamilton e Rosberg azedou de vez. Mas considero isso ótimo, inclusive escrevi para a equipe Mercedes pedindo que os deixe falar o que quiserem e principalmente os deixe brigar na pista como quiserem, inclusive com estratégias diferentes. Ponderei que isso seria excelente para a F1 e também para eles, que teriam mais mídia ainda do que já tem.

Perspectivas para 2016: A Mercedes tem que melhorar. Se eles quiserem manter o domínio atual, o carro tem que ganhar pelo menos 1 segundo por volta em média em todas as pistas. Esse ano foi fácil porque a vantagem trazida de 2014 era grande demais, mas em 2016 isso não deve ser suficiente.

FERRARI
O que melhorou? Praticamente tudo melhorou em Maranello. Vettel e Arrivabene trouxeram otimismo e um ambiente muito mais leve do que o anterior. O carro melhorou demais, James Allison introduziu uma nova suspensão traseira, que trabalhou muito melhor para fazer a barra de torção trabalhar junto com os amortecedores a fim de reduzir as derrapagens e poder incrementar o torque gerado pelas unidades híbridas e melhorar muito a tração. A nova suspensão – tanto traseira quanto dianteira – é a razão principal do carro gerenciar tão bem o desgaste dos pneus.

A melhora cinemática (estudo dos movimentos dos corpos sem a preocupação com suas causas – dinâmica) na dianteira do carro foi determinante para fazer com que o chassi trabalhasse em sintonia com os pneus dianteiros, evitando superaquecimento e tornando a frente do carro muito mais precisa do que era em 2014.

Mas a grande melhoria foi na unidade de potência. Ano passado a unidade de potência e seu resfriamento foram muito prejudicados em favor da aerodinâmica. Os motores elétricos não eram capazes de gerar eletricidade vinda da turbina (MGU-H) nem perto do que o Mercedes conseguia. Por isso não conseguia carregar as baterias durante uma única volta. Mas um redesenho completo resolveu o problema. Atualmente o MGU-H gera tanta eletricidade quanto a líder Mercedes, até porque Maranello contratou vários engenheiros que estavam na Mercedes até a metade do ano passado.

O que piorou? Não vejo nada que tenha piorado. Até Raikkonen foi menos ruim em 2015 do que tinha sido em 2014. Tá certo, o carro melhorou muito, mas a surra que ele tomou de Vettel foi menor da que ele tinha tomado de Alonso.

Perspectivas para 2016: A não ser que os italianos errem completamente – o que não é impossível, mas é improvável, a Ferrari tem tudo para brigar de fato com a Mercedes, principalmente se conseguirem um pouco mais de downforce sem aumentar o arrasto e melhorarem ainda mais o sistema híbrido.

WILLIAMS
O que melhorou? Quase nada. A Williams achou uma fórmula que, se não compromete, também não possibilita alçar grandes voos. O carro é pensado para tirar o máximo do motor Mercedes, isto é, tem muito pouco arrasto, mas em compensação também tem um downforce que só funciona em pistas de alta velocidade. O resultado é que o carro anda bem em pistas de alta, mais ou menos em pistas de média, mal nas de baixa e é péssimo em pista molhada.

Frank Williams economiza tudo que pode em desenvolvimento, anda pouco nos treinos, arrisca menos ainda nas estratégias, mas vem conseguindo boas colocações no campeonato de construtores – P3 em 2014 e 2015 -, algo que a Williams não fazia há mais de uma década.

O que piorou? A pontuação de 2015 (257) foi pior que a de 2014 (320) porque a Williams não evoluiu quase nada este ano, enquanto a Ferrari melhorou bastante e lhe tirou muitos pontos.

Perspectivas para 2016: Acho difícil que eles mudem a atual fórmula a que me referi acima, pois precisariam gastar bem mais com desenvolvimento e pessoal técnico sem garantias de grandes performances imediatas.

RED BULL
O que melhorou? No início da temporada, nada. O carro e o motor começaram piores do que terminaram 2014. Mas no decorrer da temporada o chassi foi melhorando muito e ficou pau a pau com o da Mercedes, tanto que em trechos sinuosos o carro fez tempos iguais ou até melhores que os da equipe Mercedes.

O que piorou? O motor. Além de não ter tido ganho em performance, ainda piorou em confiabilidade, principalmente no início da temporada, quando a Red Bull tentou ganhos aerodinâmicos afilando a traseira e prejudicando a ventilação nos motores elétricos.

Perspectivas para 2016: Uma incógnita ainda. O chassi certamente será dos melhores, mas o desenvolvimento do motor Renault batizado de TAG Heuer ainda não está claro quem vai desenvolver; se a Renault ou a própria Red Bull. Em certo momento de novembro deste ano, parecia certo que a Red Bull partiria para um desenvolvimento próprio, juntamente com Mario Illien. Mas depois soube-se que a Renault contratou a Ilmor para desenvolver seu motor. Teremos que aguardar para ver…

FORCE INDIA
O que melhorou? O carro novo a partir de Silverstone, o “Spec B” foi um carro muito melhor do que aquele que começou a temporada e que era quase igual ao de 2014. Para uma equipe com um orçamento modesto, mas muito bem organizada e com dois pilotos muito bons – Perez melhorou muito nesta temporada, principalmente na segunda metade – foi um trabalho muito “decente”, digamos assim.

O que piorou? Assim como a Ferrari, nada parece ter piorado na Force India, ao contrário, fala-se com bastante ênfase que a Aston Martin pode assumir boa parte da equipe para 2016.

Perspectivas para 2016: Se a Aston Martin assumir mesmo, muito dinheiro pode entrar e a equipe pode mudar de patamar em 2016, principalmente se souberem usar esse dinheiro em desenvolvimento, pessoal técnico e estrutura de modo geral. Se continuar sendo apenas Force India, a disputa da equipe será no meio do pelotão.

LOTUS
O que melhorou? Basicamente o motor. Em 2014 a Lotus correu com motor Renault e marcou minguados 10 pontos no campeonato. Agora em 2015 marcaram 78 pontos avançado duas posições na tabela.

O que piorou? Dinheiro. A equipe passou a temporada toda com grana mínima para participar das corridas. Aliás, só conseguiu alinhar seus carros nas últimas 5 corridas graças a recursos judiciais e ajuda financeira de Bernie Ecclestone. Tudo isso fez com que o carro recebesse muito pouco desenvolvimento durante o ano, portanto é quase um milagre que tenham conseguido essa pontuação e ainda um pódio de Grosjean na Bélgica!

Perspectivas para 2016: Com a compra finalmente confirmada da equipe pela Renault, suas perspectivas para 2016 são muito melhores. Apesar da Renault não ter ainda um motor à altura para disputar as primeiras posições, o estreitamento das relações dos franceses com a Ilmor pode render frutos de maneira rápida e a Lotus pode avançar bastante na próxima temporada, ainda mais com a revelação de que a equipe terá recursos financeiros a altura da Mercedes e Ferrari.

Quanto aos pilotos para 2016, a Lotus revelou que já assinou com Pastor Maldonado e Jolyon Palmer. Isso foi antes da confirmação de compra da equipe, mas o CEO da Lotus Matthew Carter disse que obteve a anuência da Renault para assinar. A equipe ainda não tem um terceiro piloto, que provavelmente será um francês. O mais cotado é Jean-Eric Vergne.

TORO ROSSO
O que melhorou? Tudo, menos o motor. O carro começou o ano “dando calor” na equipe-mãe Red Bull e até chegando na frente dela em algumas ocasiões. James Key, excelente projetista do carro, forçou Adrian Newey a se envolver novamente em tempo integral na Red Bull para melhorar seu chassi, senão a equipe-mãe corria o risco de apanhar dos garotos da Toro o ano todo.

Falando em garotos, Verstappen e Sainz foram as sensações deste ano. Dois pilotos muito jovens – Verstappen então parece uma criança ainda – mas absolutamente rápidos, focados e inteligentes. A baixa pontuação de Sainz pode passar a falsa impressão que ele tomou um vareio de Verstappen, mas não foi bem assim. Sainz teve muito azar e seu carro quebrou muito mais que o de Verstappen, em exatas 7 corridas que o impediram de marcar pontos.

Mas Sainz foi capaz de mostrar o quanto é rápido batendo Verstappen nas disputas de grid por 10 x 9.

O que piorou? O motor e a confiabilidade. Muitas quebras impediram que a equipe terminasse à frente da Lotus e talvez até da Force India.

Perspectivas para 2016: Muito boas. Além de seus pilotos entrarem na próxima temporada conhecendo bem o carro, todas as pistas e mais maduros, a Toro Rosso correrá com o motor Ferrari. Tudo bem que será um motor de 2015, uma vez que é muito melhor que o atual Renault que eles usaram este ano. Existe a grande probabilidade de eles andarem na frente da Red Bull, principalmente na primeira metade da temporada. Vamos ver…

SAUBER
O que melhorou? Bem, a Sauber tinha feito zero pontos em 2014, portanto marcar 36 pontos esse ano pode ser considerado um avanço. Mas foi pouco, esperava-se muito mais da equipe suíça.

O que piorou? Basicamente dinheiro. O ano começou muito mal quando a equipe quase não alinhou em Melbourne devido a um processo movido pelo piloto Giedo van der Garde. O holandês tinha um contrato para correr pela equipe em 2015, contrato este que foi solenemente ignorado pela Sauber. O resultado é que a equipe teve que pagar uma grana alta estimada em mais de USD 30 milhões para van der Garde aceitar um acordo e desistir do processo.

Com isso, o carro não teve qualquer desenvolvimento até a metade da temporada, além de problemas absurdos – principalmente nos freios – no carro do brasileiro Felipe Nasr, que o impediu de mostrar todo seu potencial e marcar pelo menos o dobro de pontos (27) que marcou.

Perspectivas para 2016: Vai depender muito dos recursos financeiros que a Sauber conseguir. Com pouco dinheiro não se faz nada na F1. A Sauber vai receber uma premiação que não teve em 2014, além de não ter que pagar multa para algum piloto que a equipe tenha “esquecido” estar sob contrato. Será? Esperemos que sim…

MCLAREN
O que melhorou? Francamente? Nada. O motor Honda foi um fracasso histórico e o chassi também não ajudou muito. O resultado é que a equipe teve uma temporada absolutamente bisonha. Só chegou à frente da Manor, o que nem dá para considerar…

O que piorou? Tudo. O motor nem merece mais comentários, o chassi começou muito mal e depois deu uma melhorada. O gerenciamento da equipe foi bem abaixo de sua média histórica e a perda de vários patrocinadores foi preocupante.

A McLaren não faz um bom carro desde 2012 quando Hamilton ainda estava na equipe e podia ter sido campeão, se o carro não quebrasse tanto. Em 2013 o carro já piorou bastante e em 2014 – mesmo com o motor híbrido da Mercedes – a equipe lutou para ficar à frente da Force India. 2015 foi um desastre completo, mesmo com a equipe contando com os serviços de dois dos melhores pilotos da F1; Alonso e Button.

Perspectivas para 2016: Só pode melhorar. Depois de chegar ao fundo do poço, tanto a McLaren quanto a Honda vem declarando repetidas vezes que sabem exatamente o que está errado e deve ser totalmente mudado.

O motor Honda tem vários problemas, mas o principal deles é no armazenamento de energia. O problema fundamental é que seu MGU-H não consegue colher potência suficiente para implantar por toda uma reta longa. Isso significa que Alonso e Button andam sem potência híbrida – uma perda imediata de pelo menos 160 hp – em parte das retas mais longas. Isto explica por que seus rivais os ultrapassavam como se eles estivessem parados em pistas como Monza, Spa, Suzuka e várias outras.

Alonso disse que a equipe precisa “encontrar” no mínimo 2,5 segundos por volta para ser competitiva. 2,5 segundos por volta de um ano para outro não é fácil, poucas equipes conseguiram isso na história, ainda mais quando praticamente não há mudanças no regulamento.

E não é só performance. O carro e o motor – principalmente – precisam melhorar tremendamente a confiabilidade. Um carro rápido que quebra não adianta absolutamente nada.

Eu duvido que o Alonso passe o ano de 2016 praticamente fechando o grid de novo junto com Button. Se o carro não apresentar melhoras muito significativas na pré-temporada ou na primeira corrida em Melbourne, acho muito provável que Alonso diga um “Adios Muchachos” e vá pra casa. E eu o entenderia perfeitamente se ele fizesse isso…

MANOR
Muito difícil dizer o que melhorou e o que piorou. A equipe participa do campeonato com as “calças nas mãos”. A falta de dinheiro é latente. O ponto positivo foi que Alexander Rossi – que comprou o lugar em algumas corridas finais da temporada – sentou no carro e já mostrou que é melhor que os dois titulares que estavam lá, Roberto Merhi e Will Stevens.

Perspectivas para 2016: O dono da Manor, Stephen Fitzpatrick, conseguiu garantir os motores Mercedes, que pode dar um alento à equipe. Os pilotos ainda são uma incógnita. Boatos dizem que cada assento titular na equipe está custando USD 10 milhões, o que me parece muito para a Manor e inviabiliza que o protegido da Mercedes, Pascal Wehrlein, assuma um deles. Toto Wolff já disse que eles tem um orçamento para isso, “mas não nesta escala.”

Caso Fitzpatrick resolva cobrar um pouco menos, digamos uns USD 6.5 milhões, sua dupla de pilotos poderá ser Pascal Wehrlein e Alexander Rossi.

HAAS
Perspectivas para 2016: A equipe de Gene Haas tem tudo para fazer um bom ano de estreia. O carro terá tudo que o regulamento permite ser igual a outro, portanto será quase uma “Ferrari B” na pista. Gene Haas não é um aventureiro, muito pelo contrário, tem larga experiência em automobilismo, quase toda vinda da Nascar.

Os pilotos serão Romain Grosjean e Esteban Gutierrez. O francês já mostrou que é bom piloto e consegue extrair bastante do equipamento. Gutierrez não é lá essas coisas, mas tem forte apoio financeiro de um dos homens mais ricos do mundo, o que torna o piloto mexicano “especial” para uma equipe que está começando!

Adauto Silva

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