Xuxu já vai tarde!

domingo, 9 de janeiro de 2011 às 4:34

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Xuxu já vai tarde!

Diferentemente da grande imprensa, completamente abobalhada pelos números de Schumacher, eu não choro pela despedida do piloto alemão. Ao contrário, digo que a Formula 1 finalmente se livrou de seu maior chato, peso, um verdadeiro mala. Michael Schumacher foi um dos responsáveis pela maior crise que a F1 já enfrentou.

Crise? Sim, crise de competitividade, esportividade e emoção. Nos últimos 12 anos, se tivemos duas ou três temporadas verdadeiramente emocionantes foi muito. O resto foi previsível, modorrento e por vezes lamentável.

Mas onde Schumacher entra aí? Entra porque aceitou fazer parte do projeto de construção de um ídolo para a categoria, já que a mesma perdeu todos os seus – a saber, Piquet, Prost, Mansell e Senna, num curtíssimo espaço de tempo. Em 1994, logo após a morte de Senna, a categoria se viu órfã de um grande piloto, alguém que arrastasse e ancorasse a enorme audiência que crescia no mundo todo.

Na verdade, não vejo nada demais na tentativa de se construir um ídolo. Em todo tipo de arte, e esporte é uma delas, sempre se fez isso. Pega-se um cara bom, que seja acima da média, fornece-lhe o que houver de melhor em matéria de staff, equipamento e faz-se um grande marketing em cima dele. Costuma dar certo. O problema é quando você quebra todas as regras para dar vantagens exclusivas e imorais para o seu escolhido. Foi isso que aconteceu com Schumacher desde seu primeiro título, conquistado em 1994 com um carro comprovadamente fora das especificações e, pior que isso, jogando seu adversário para fora da pista na última corrida da temporada. Como o establishment permitiu que ele ganhasse seu primeiro título assim, Schumacher não teve dúvidas, repetiu a dose em 1997 jogando seu carro novamente contra Jacques Villeneuve. Daquela vez não deu certo, mas ele não se acanhou e desde então, percebendo que as regras para ele eram diferentes, mais amenas, mais brandas, às vezes valendo tudo, passou a se portar como se a categoria fosse dele. Durante anos, aliás, até este ano, com as punições absurdas contra a Renault e Alonso, ele e sua equipe mandaram prender e soltar qualquer um que ousasse cruzar seus caminhos.

Eu até entendo a imprensa glorificar Schumacher, mesmo porque grande parte destes jornalistas que o glorificam dependem da Formula 1, precisam que ela seja notícia todos os dias. São enviados às corridas, escrevem em jornais, falam em rádios e aparecem na televisão graças a Formula 1, enfim, dependem dela. Seus empregos estão em risco. Patrocinadores colocam milhões para linkar suas imagens e esperam retorno.

O que eu não entendo – mas até me diverte – é essa adoração asquerosa de alguns. Tudo bem, falem de Schumacher, falem todos os dias, mas pelo menos tentem fazer sentido, afinal nem todo fã é completamente leigo e aceita qualquer barbaridade.

A maioria dos jornalistas que se dizem “especializados” são ruins, muito ruins. Na época do GP Brasil então a coisa fica tenebrosa. Entendidos no assunto pipocam pra todo lado e você ouve ou lê uma pérola a cada minuto. Sexta-feira passada a noite me ligou o cara que mais entende de F1 que eu conheço:

– Fala Adauto, meu querido, tudo bem?
– Grande amigo, como está?
– Com os ouvidos doendo e com a cabeça inchada.
– Imagino…
– Sabe como é, a idade vai chegando e a gente vai ficando meio esquecido.
– Você tá melhor que eu, apesar de bem mais velho, muito mais velho!
– Me diz uma coisa: você sabe que ando meio por fora do regulamento atual da F1, não acompanho mais como antes, mas hoje ouvi uma que doeu demais os ouvidos e queria me certificar que ainda não enlouqueci.
– Pode mandar, mas olha, vai devagar porque não sou um expert em regulamento. Se a dúvida for saber qual o tamanho do parafuso posterior do mini-aerofólio localizado do lado direito da parte central do carro, eu não vou saber agora…
– Hahaha, não, é bem mais simples!
– Então manda!
– Carro de F1 não tem mais marcha-ré?
– Lógico que tem!
– Antes era obrigatório, engatava-se a ré e a roda traseira tinha que dar pelo menos meia volta para trás.
– Ainda é, a não ser que mudaram o regulamento ontem!
– Ouvi hoje no rádio dois entendidos afirmando que F1 não tem ré, nunca teve. Falavam isso e davam risada de quem “não sabia”.
– Que rádio era? Lá de Quixeramubim?
– Não, era aqui de São Paulo mesmo, aquela que tem a maior audiência. Não agüento mais…
– Vamos fugir para as colinas!!

Ah! Mas finalmente acabou a babação quase homossexual para cima do Xuxu. Acabou? Será mesmo? Ou na primeira besteira que o Kimi fizer na pista ano que vem já vamos ouvir um “Que saudades do Xumi!” como se o ‘Xumi’ nunca tivesse feito uma? Que tal essa que ouvimos no GP Brasil: “Olha que piloto esse Xumi” Troque “piloto” por “homem” e veja como a frase fica ainda mais engraçada… Eu quase aposto que o narrador oficial ficará mais insuportável ainda ano que vem, ainda mais se o Kubica – ou seria ‘Kubitza’? (sic) botar pra quebrar numa corrida ou noutra!

Fico imaginando quem será o “escolhido” agora, tanto pelo establishment quanto pela mídia. Kimi? Alonso? Kubica ou algum outro? A mídia brazuca já escolheu o seu, pelo menos por enquanto. É o pobre Felipe Massa. Pobre por ser o escolhido da mídia, não por ser o piloto que é. Felipe é ótimo e melhora a cada corrida, mas a cambada não vai aceitar uma derrota para o também ótimo Kimi Raikkonen ano que vem. Se perder, qualquer coisa que Felipe disser será usada contra ele, por isso ele deveria usar o seu direito de ficar calado.

De qualquer maneira a F1 tem tudo para ser empolgante em 2007. Vários novos pilotos com pinta de fenômenos, muitas trocas de equipes, Kimi finalmente num carro inquebrável, Alonso tentando botar ordem no caos da Mclaren, Felipe com status elevado na Ferrari e Nelsinho Piquet com boas chances de substituir o ‘sem moral’ Fisichella no meio da temporada.

Até a próxima!

Adauto Silva
adauto@autoracing.com.br

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