Vettel, o vencedor previsível. Por Lito Cavalcanti

quarta-feira, 20 de novembro de 2013 às 12:38

Sebastian Vettel

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Tantas vitórias fizeram do alemão o vilão do ano

Pronto, ele fez de novo. E o pessoal já não aguenta mais. Mais do que um recordista sequencial, Sebastian Vettel está sendo visto como o piloto que estragou o Campeonato Mundial de Fórmula 1 de 2013.

Não interessam as características dos traçados, os tipos de pneus, nada consegue quebrar a irritante hegemonia do alemãozinho. Ele larga na frente (mesmo quando não faz a pole), some do pelotão e pronto. Vence de novo.

Neste domingo, no Grande Prêmio dos Estados Unidos, Vettel fez sua oitava pole do ano, conquistou sua oitava vitória sucessiva (quebrando mais um recorde do seu mentor Michael Schumacher) e a 12ª deste 2013. Assim não dá.

O pior é que, no domingo que vem, ele certamente vai fazer a nona pole e de lá vai chegar à nova vitória seguida e à 13ª no ano, igualando o total de primeiros lugares conquistados pelo Schummy em 2004.

E daí? Nada. Todo mundo já espera que isso aconteça. O inusitado, digno de análises e explicações, seria algum outro concorrente largar e chegar em primeiro. Mas alguém em sã consciência pode acreditar em tal desfecho?

Não dá nem para sonhar. Interlagos tem as exatas características a que a perfeitíssima, detalhada e refinada aerodinâmica dos carros da Red Bull melhor se adapta.

Não que Vettel precise disso, vem provando o contrário ao longo de todo o ano. É só para enfatizar que a pole e a vitória em Interlagos, em condições normais, já têm dono.

Não esperemos surpresas. Em vez disso, melhor nos concentrarmos em uma boa refrega pelo segundo lugar. Provavelmente uma disputa entre a Lotus de Romain Grosjean e o RB9 de Mark Webber.

Se acontecer, esta luta pode ao menos quebrar a monotonia do ano. Se bem que, lá no Circuito das Américas, Grosjean foi segundo, Webber terceiro e a tal luta não ocorreu. Terceiro no grid, Grosjean pulou para segundo e Webber sequer o ameaçou. Mesmo guiando um carro igual ao do Vettel.

Isso acaba gerando sérias dúvidas quanto a um 2014 mais animadinho. Se o Webber, que pode não ser o melhor piloto do mundo mas está longe de ser um qualquer, não consegue ameaçar a Lotus do Grosjean, pode-se concluir que a vantagem do binômio Vettel-RB9 está no piloto, não no carro.

O GP dos EUA foi mais um que possibilitou a clara conclusão que o alemãozinho é o elo mais forte dessa associação. E por mais que os carros venham a mudar de cabo a rabo no próximo ano, ele deve continuar o mesmo.

Ou pior, vai continuar a melhorar. Vettel vem evoluindo desde que chegou à F1, em 2007. Lembram-se? Foi no GP dos Estados Unidos, substituindo na BMW-Sauber o polonês Robert Kubica, que havia sofrido um forte acidente no GP do Canadá, uma semana antes.

Naquela época, guiava-se de maneira totalmente diferente na F1. Os pneus eram duros e os reabastecimentos permitidos. Os pilotos faziam de 15 a 20 voltas com as facas nos dentes, trocavam pneus, reabasteciam e voltavam à pista para mais um turno de pé no fundo.

Vettel foi o sétimo no qualify e seu companheiro na BMW-Sauber, Nick Heidfeld, foi o quinto. Na corrida, foi oitavo e marcou seu primeiro ponto ao estrear na F1. Mostrou sua enorme qualidade em uma F1 inteiramente diferente da atual. Hoje, em tempos substancialmente diferentes, ainda é a estrela mais brilhante.

Nada indica que ele será menos no próximo ano. Seria enganoso acreditar em um erro crasso do diretor técnico Adrian Newey na elaboração do RB10. Ou que Christian Horner venha a se tornar um chefe de equipe medíocre no próximo ano. Claro, é possível, mas também é altamente improvável.

O problema é que a solução para um 2014 melhor está nas mãos de equipes que, hoje, vivem do passado. Em um mundo ideal, outras equipes acertariam seus projetos e proporcionariam a Fernando Alonso, Kimi Raikkonen e Lewis Hamilton a chance de lutar de igual para igual por poles e vitórias.

Mas isso é hoje quase um sonho impossível. Ferrari e McLaren, de quem, pelo menos em teoria, se espera oposição à altura, são hoje sombras de seus passados gloriosos. A esperança maior se limita à surpreendente Lotus, caso ela não soçobre em meio à sua situação pré-falimentar.

A Ferrari cumpre seu destino de opereta, comum até a chegada de Jean Todt em meados dos anos 90. Contudo, desde a saída do dirigente francês, a Scuderia Rossa voltou à sua rotina de erros e consequentes dramalhões. Por isso é hoje a quarta ou a quinta na hierarquia da F1.

O segundo lugar no Mundial de Construtores já está quase perdido para a Mercedes. E segundo sua única estrela, o espanhol Alonso, é preciso cuidado para não perder também o terceiro para a Lotus.

Ele tem razão. Nos EUA, a Casa de Maranello conseguiu apenas 10 pontos com o quinto posto de Alonso; a Lotus fez 18 com o segundo de Grosjean; a Mercedes fez 14 com o quarto de Lewis Hamilton e o oitavo de Nico Rosberg.

É a dura verdade. Os carros da Ferrari já não lutam com os da Lotus nem com os da Mercedes. Seus adversários mais próximos na pista agora são os da McLaren, que vive seu pior ano desde tempos imemoriais.

De onde pode então vir a esperança de um 2014 mais competitivo, mais disputado? Difícil dizer. As equipes médias mostram certa competência e algumas já superam Ferrari e McLaren – mas hoje isso não significa muito.

A Sauber poderia ser uma boa candidata a repetir no próximo ano o que a Lotus fez neste, mas a verdade é que a alardeada verba russa que resgataria a casa suíça de uma ainda possível falência chega em doses homeopáticas.

Para piorar, alguns investidores, inconformados com a gestão de Monisha Kalternborn à frente da equipe fundada por Peter Sauber, exigem a cabeça dela em troca da continuidade de seu apoio. Sauber prefere mantê-la, e o impasse se intensifica.

Por incrível que possa parecer, um raio de esperança vem da Williams, que começa a dar sinais de se recuperar desta caricatura de si mesma em que se tornou nos últimos anos.

Para isso, aposta na experiência do engenheiro Pat Symonds. Sim, é aquele mesmo que planejou com o famigerado Flavio Briatore, a batida proposital de Nelsinho Piquet no GP de Cingapura de 2008. A Renault havia avisado que se não tivesse uma vitória, fecharia a equipe no fim do ano. O resto é história.

A Williams não parece se importar com a vida pregressa de Symonds. Como não se importou com a de seu antecessor Mike Coughlan, que recebia na McLaren os segredos por Nigel Stepney, o mecânico-chefe da Ferrari.

Symonds, ao contrário de Coughlan, não é projetista, mas é considerado o melhor organizador da F1. Ele chegou à nova casa em agosto, e aponta a falta de método como a maior carência da equipe. O resto, diz ele, está lá: dinheiro, equipamentos e cérebros. Só falta método de trabalho.

Mal ou bem, há duas corridas a Williams vem mostrando uma evolução que não se podia sequer imaginar. Ela decorre da desistência definitiva de usar o sistema de escapamento de gases como gerador de pressão aerodinâmica através do difusor.

Symonds já aboliu o uso do difusor soprado, já que seus engenheiros não conseguiram aperfeiçoar o efeito Coanda. É este fenômeno aerodinâmico que direciona os gases do escapamento para o difusor. Sem a indispensável precisão, os gases se desviavam da trajetória ideal e o carro perdia estabilidade nas desacelerações, freadas e entradas de curvas.

Abolido o difusor, o finlandês Valteri Bottas brilhou nos EUA: foi oitavo e marcou quatro pontos ao cruzar a linha de chegada. Até então, a Williams havia marcado um único ponto com o 10º lugar de Maldonado na Hungria.

Outra boa decisão foi deixar de tentar trocar os pneus rápido demais – o que levou Maldonado a perder uma roda em duas ocasiões, nos GPs do Japão e de da Índia, quando ele voltava dos boxes para a pista.

Estas falhas renderam duas pesadíssimas multas, cada uma no valor de 60 mil euros. O recorde de troca de pneus, quebrado domingo passado pela Red Bull, é de 2s1; a Williams hoje demora cerca de 4s5 para fazer suas trocas, mas as rodas deixaram de se soltar e a equipe parou de desperdiçar dinheiro.

Ainda é pouco ainda para Sir Frank Williams e sua filha Claire se sentirem otimistas, mas já se vê bom senso nas decisões. Outra medida implementada por Symonds foi o restabelecimento da comunicação entre o pessoal da fábrica e o de pista, o que não ocorria até bem pouco.

Symonds já começou a reforçar o time, que tem entre seus recursos dois túneis de vento, ambos comprovadamente eficientes. Para tirar partido deles, foram contratados especialistas em aerodinâmica. Outro bom reforço será o inglês Rob Smedley, o engenheiro de pista de Felipe Massa.

Smedley começou na Ferrari como membro da equipe de testes e hoje acumula experiência valiosa. Caberá a ele coordenar todos os departamentos que trabalham na concepção dos carros, unindo a equipe aerodinâmica à de engenharia interna e a de pista.

Talvez seja isso que Felipe Massa tenha visto na Williams quando decidiu a ela ligar seu futuro. Somando sua experiência como piloto de testes na Ferrari, que lhe permite identificar falhas e eficiências, o brasileiro pode adicionar mais qualidade à Williams. E a Williams pode proporcionar melhores resultados à carreira do brasileiro.

Pelo menos, é nisso que ele e a equipe apostas. Sim, é bom ter em mente que há o potencial em ambos, mas por enquanto a aventura de Felipe Massa junto à antes gloriosa e vitoriosa Williams é apenas isso, uma aposta.

De certo mesmo, só temos a enorme qualidade da Red Bull. E o talento ainda maior de Sebastian Vettel. Que venha 2014. E que venha melhor do que este 2013 das vitórias monotonamente previsíveis de Sebastian Vettel.

Não que ele não as mereça. Mas isso ninguém merece…

Lito Cavalcanti

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