Os equivocados protagonistas da Formula 1

terça-feira, 8 de dezembro de 2015 às 16:51
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Coletiva México 2015

Colaboração: Victor Manoel de Oliveira Nunes

O amante do automobilismo, não é de hoje, depara-se com alguns questionamentos; estariam corretas as montadoras, construtoras e dirigentes buscarem incessantemente os holofotes da mídia especializada? E por consequência, desviarem o foco de quem deveria ser o real protagonista? Os pilotos não deveriam ser parte intrínseca no aperfeiçoamento do esporte?

Acompanhar as notícias da Fórmula 1 ultimamente, sobre a saga dos motores, mudança (novamente) nas regras, corte de custos, calibragem dos pneus, saída de equipes, briga entre dirigentes, além de tediosas, é um verdadeiro martírio e exercício de paciência.

Indagações como esta é uma síntese do descalabro que a Fórmula 1 tornou-se. A partir do instante em que os pilotos não são mais os efetivos astros das notícias, algo está errado. Conforme mencionei na coluna “Falta um Q de Nascar na F1”, enquanto a F1 permanecer nessa incessante e entediante luta de poder, cada qual vislumbrando o melhor para a sua equipe, sem atentar para o que é melhor para o esporte, os fãs e aos pilotos, a decadência não será apenas o início do fim, mas o verdadeiro fim.

Tudo o que não precisamos é de um Ron Dennis da vida criticando o modo de ser do Lewis Hamilton, atual tricampeão, que com a liberdade ao qual não possuía em época de Mclaren, tornou-se uma pessoa/piloto mais agradável, autêntico, livre de amarras perante o público. Ou estou equivocado? Esses direcionamentos mclarianos (engessados) em transformar pilotos em robôs (antes não deveriam usar barba, cabelos longos, fazer tatuagens), é uma antítese do que nós fãs defendemos e precisamos: de pilotos com a sua identidade, de personalidade.

Ou alguém é conivente com o ambíguo Ecclestone quando afirma de modo infeliz que Sebastian Vettel não ajuda a promover a Fórmula 1 pelo seu jeito pacato e discreto de ser? Como assim? Esqueceram que pilotos são humanos? E divulgar F1 não significa estar presente em baladas midiáticas, jantares com a alta sociedade. Campeões a meu ver, fortificam a marca e conquistam a respeitabilidade, com atitudes humanizadas, condutas éticas e espírito de luta em equipe.

Como é nostálgico os tempos em que o mundo da F1, embora frio e calculista, respirava os embates entre Alonso e Hamilton; Schumacher, Hakkinen, Hill e Villeneuve; ou Senna e Prost… E que as questões técnicas, politicagem era apenas um complemento para incendiar o campeonato…

Lembro-me a alegação no final da década passada do então controverso presidente da FIA Max Mosley, no auge da disputa com a FOTA, que deixar o controle da F1 na mão das montadoras seria um perigo. Na visão dele, quando fossem decidir algo em conjunto (aspecto técnico ou esportivo), cada qual com seu interesse, emergiriam conflitos difíceis de serem dirimidos.

Que o diga a Red Bull (embora não coadune com os métodos utilizados para “denegrir” a capacidade e a vitoriosa história da Renault na F1, seja como equipe ou fabricante de motores). Ainda que o conselho das Flechas de Prata e Niki Lauda tenham aprovado o fornecimento das fantásticas unidades hibridas aos energéticos, a posição irredutível (não totalmente errada) de Toto Wolff corroborou para o desfecho até então melancólico.

E a proposta da Ferrari com os propulsores do ano anterior (2015) não o agradaram… De modo que a permanência com a Renault (Tag Heuer?) a contragosto, restou-se como única alternativa; pois a Honda, através de Ron Dennis que já sondou a Sauber para o fornecimento dos motores japoneses em 2017, vetou.

O atual estágio da categoria máxima do automobilismo mundial, com quedas expressivas de audiência em todos os continentes, é reflexo das políticas mal gerenciadas por indivíduos retrógrados que não permitem a visão de quem realmente compete. Ou vocês acham que alterar regras para 2017 irá retornar a competitividade? É necessário encontrar uma estabilidade para a posteriori, fazer ajustes pontuais. A história da F1 demonstra que mudanças densas, por vezes precipitadas e sequer inteligentes, geram uma disparidade de desempenho entre as equipes.

Estão percebendo como escrevi de maneira sucinta sobre as regras, dirigentes e pouco registrei sobre os verdadeiros protagonistas de propósito? Pois bem caro leitor, de modo intencional, resta-se evidenciado que enquanto esse disparate persistir, os pilotos (para alguns heróis, outros vilões) estarão em segundo plano; não pelos fãs, mas pelos organizadores do esporte.

Incrivelmente onde há competitividade, há rivalidade e há emoção. E a estabilidade das regras demonstra isso. Vejamos os últimos acontecimentos na Moto GP. A formiga atômica #93 em 03 (três) temporadas já se indispôs com Lorenzo pela escorada na ultima volta em Jerez 2013; ou contra Pedrosa em 2013 no GP de Aragón, ou na Holanda, Malásia 2015 contra o Doutor).

Enquanto na Nascar presenciamos enrosco entre #24 Jeff Gordon e #15 Clint Bowyer Phoenix 2012, ou #22 Logano e #20 Matt Kenseth em Martinsville; fora as inúmeras outras rivalidades criadas, dentre elas: #4 Kevin Harvick contra #48 Jimmie Johnson, #2 Brad Keselowski.

E a Fórmula 1 neste período? (#44 Hamilton x #6 Rosberg; #14 Alonso x #5 Vettel?; #77 Bottas x #7 Raikkonen?). Alguns irão questionar que a Moto GP (motociclismo) e a Nascar são esportes com mais contatos, com propostas distintas. Todavia, se não houvesse competitividade (disputa nas pistas), alguém duvidaria que essas rivalidades estivessem evidenciadas nos meios de comunicação, entre os torcedores e bem acaloradas?

Nestes esportes, o piloto é o responsável pelos seus atos. Ele é autêntico, possui os seus valores e isso é determinante para o crescimento da legião de fãs. É o verdadeiro “show man.” do espetáculo. Percebo que alguns não gostam de adjetivar a Fórmula 1 como show business, todavia é um entretenimento que deve estar em consonância com os desejos do público.

Até hoje não entendo a dificuldade dos fãs poderem transitar pelo paddock, conhecendo e interagindo mais próximo dos seus ídolos. Infelizmente essa acessibilidade é para poucos e denota uma Fórmula antiquada de política amadora e elitista.

Recentemente, Toto declarou que a possível tensão entre Hamilton e Rosberg em 2016, poderá levar a Mercedes AMG a trocar seus pilotos. Ora, justamente essa divergência de ideias, a liberdade (depende) e igualdade entre os pilotos… que a maioria dos fãs sentem falta. E não uma Fórmula 1 padronizada.

Agora, por outro lado, por estar atrelada a uma montadora com a respeitabilidade e do nível das flechas de prata, os pilotos devem acima de tudo, colocar o interesse da equipe sobre os seus: isto é, ganhamos e perdemos juntos. Não expor a equipe a situações de falta de confiança, ou não assumir erros em conjunto; trabalhar em equipe e com foco é essencial.

Sopesar na balança, eis a questão? Mas se a Mclaren e a Williams sobreviveram e foram campeãs com tamanha rivalidade interna, porque a Mercedes iria restringir? Tenho a nítida sensação que as disputas serão permitidas e não a velha máxima da Ferrari de “trazer as crianças para casa”. É apenas uma advertência que “roupa suja, lava-se em casa”.

Os acontecimentos no decorrer da temporada de 2015 foram um indício e alerta que algo deve ser modificado. Por consequência, o nível do poder das montadoras nas decisões futuras do esporte e o direito ao veto pela Ferrari precisam ser revistos. Que comissão é essa que não leva em consideração os pleitos daqueles que deveriam ser os verdadeiros astros? Ou permitem a prática da distribuição de receitas de modo injusto e prejudicial entre as equipes?

Enquanto isso desvia o foco proibindo os pilotos de escolherem a pintura do seu capacete; fazendo questionários aos fãs sobre como melhorar a F1, sendo que até agora, não sei qual resultado pratico terá; ou modificando regras do decorrer da temporada concernente ao rádio ou procedimento de largada.

Por fim, conclamar uma Fórmula 1 menos politicamente correta, mais uniforme e acessível aos anseios dos fãs e liberta de toda e qualquer padronização que proíba os protagonistas de serem eles mesmos, não é utópico; Instrumentos hábeis? Há. Falta o diálogo e humildade em reconhecer que a sobrevivência do esporte passa necessariamente por uma restruturação completa que incida desde a saída de dirigentes antiquados do comando; ao fim da liberdade, autonomia e privilégios desenfreados que algumas equipes possuem.

Ademais, por mais cenas como o bronzeado de Alonso, a audácia de Verstappen, a forma de levar a vida de Hamilton e a quebra de paradigmas (levar capacete, bandeira ao pódio) de Vettel. É isso que precisamos. Também!

Victor Manoel de Oliveira Nunes
Natal – RN

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