O duplo erro de Montezemolo. Por Adauto Silva

Luca di Montezemolo

A Ferrari errou ao mandar Felipe Massa embora e errou ao contratar Kimi Raikkonen para seu lugar.

Errou ao mandar Felipe embora porque ele fazia perfeitamente o papel de segundo piloto. São muito poucos os pilotos bons, experientes e rápidos como ele que aceitam fazer o papel de segundo piloto. Felipe é um jogador de equipe dentro da Ferrari, ajuda sempre, não reclama, não faz política, testa peças novas para o carro, dá passagem para Alonso quando a equipe manda, dá vácuo em treino, aceita perder lugar no grid para favorecer Alonso, aceita ter sempre a pior estratégia e mesmo assim sempre defende a equipe.

Ele faz isso porque é bonzinho? Não, ele faz por um monte de razões, inclusive por se sentir um profissional realizado pilotando para a Ferrari, uma equipe que o acolheu em 2006 e principalmente depois de seu acidente em 2009 na Hungria. Além disso, ele sempre foi muito bem pago lá para fazer esse papel.

Mas a Ferrari cedeu à pressão da imprensa e da torcida sempre em busca de culpados pelas derrotas. A culpa é da própria Ferrari, de sua política e principalmente de seu corpo técnico incompetente para apoiar tal política.

A política de ter um piloto claramente número 1 – política essa que não concordo e não adotaria em minha equipe – só funciona quando você tem um carro capaz de lutar por poles e vitórias constantemente, vide Red Bull nos últimos quatro anos e a própria Ferrari de 2000 a 2004. Quando você tem um carro “meia boca” como os que a Ferrari vem produzindo nos últimos anos, ter um piloto claramente número 1 só destrói ainda mais as chances do piloto número 2 conseguir mais pontos e melhorar a colocação da equipe no campeonato.

Tal política somada a carros “meia boca” só piora a condição do segundo piloto e faz com que ele pareça muito pior do que realmente é, o que leva a conclusões e tentativas de correções erradas.

Para completar a desgraça ferrarista, eles erraram novamente ao contratar um piloto como Raikkonen para o lugar de Massa. Existem duas explicações para a Ferrari ter escolhido Raikkonen.

A primeira é a mais improvável, ou seja, que Raikkonen fará o papel de segundo piloto. Lógico que ele não fará. Nunca fez e isso não é de seu feitio. Raikkonen é ótimo, um grande cara, tem tiradas sensacionais, não dá bola para política e não esquenta o clima. Mas não é um jogador de equipe. É um cara que quer saber dele, quer ganhar e só vai pensar na equipe quando e se não tiver mais chances matemáticas no campeonato.

O que nos leva a segunda explicação do porque a Ferrari ter escolhido o homem de gelo. Mudança de política afrontando o Alonso ao colocar um piloto considerado “muito forte” como seu rival dentro da equipe. Todo mundo sabe que Alonso tem um poder enorme dentro da Ferrari e todas as suas vontades são feitas. Schumacher também era assim e a equipe fazia tudo o que ele queria, mas com uma diferença fundamental; naquela época a Ferrari tinha o melhor carro e portanto Schumacher vencia.

Hoje a Ferrari está longe de ter o melhor carro, mas mesmo assim Alonso é o “galo” lá dentro. Manda mais que Domenicali e rivaliza com quem não poderia, Luca di Montezemolo. Luca não está no dia a dia da Ferrari, mas manda a distância e ele, acima de todos, não suporta ter outro galo no seu galinheiro, especialmente em tempos de seca. Se a Ferrari estivesse vencendo títulos com Alonso, Luca não se importaria.

A contratação de Raikkonen, portanto diminuiria o poder de Alonso. Eu digo “diminuiria” porque acho que vai acontecer justamente o contrário. O tiro vai sair pela culatra. Alonso vai aplicar uma surra em Raikkonen nas seis ou sete primeiras corridas de 2014 e seu poder vai aumentar ainda mais.

Se a Ferrari queria alguém para desafiar Alonso tinha que ter contratado Vettel ou Hamilton. E se queria alguém para ser o segundo de Alonso devia ter chamado Jules Bianchi ou no máximo – com um contrato bem amarradinho -, Nico Hulkenberg.

Com Raikkonen eles não têm nem uma coisa, nem outra.

Adauto Silva

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