O dilema brasileiro no mundial de F1

quinta-feira, 24 de novembro de 2016 às 13:04
Sauber e Nasr comemoram colocação no GP do Brasil

Sauber e Nasr comemoram colocação no GP do Brasil

Colaboração: Victor Manoel de Oliveira Nunes

A inércia hoje refletirá na mediocridade do amanhã. Parafraseando Flávio Augusto da Silva, “um bom projeto, quando apresentado com perseverança e competência, irá gerar uma fila de investidores que desejarão associar-se na empreitada”. Infelizmente, a instituição que deveria ser o alicerce e pautada no exemplo aos pilotos, não está cumprindo as devidas obrigações. Quem, em sã consciência, gostaria de unir-se a algo retrógrado, sem visão, tão pouco competente e envolvida em escândalos?

O descaso instaurado e a pouca atenção dada no intuito de fomentar categorias de base, contribuíram incessantemente neste momento delicado, previsível e porque não decisivo na (provável) ausência de representante tupiniquim no Grid 2017 do Mundial de Fórmula 1? Não adianta agora apenas criticarmos. A realidade é essa; e com ela, devemos levar de aprendizado;

Deixo aqui registrado o apelo a Rubens Barrichello, Felipe Massa, Cacá Bueno, Ingo Hoffmann, Lucas Di Grassi, Nelson Piquet… Os senhores, dotados de credibilidade, experiência, know-how, são a esperança e salvação do automobilismo nacional. Possuem propriedade e percepção holística do esporte. Precisamos disso, de gestores aptos e corajosos que saibam colocar boas ideias em prática; com o discernimento “de sempre poder haver evolução”. Roberto Justus, líder inconteste e trajetória profissional exemplar, aduz “Você precisa melhorar o tempo todo. Você precisa buscar não o que te faz bom, mas o que pode te fazer muito melhor. É o seu empenho nessa busca que vai acabar determinando se irá crescer ou estacionar”.

Isto posto, a terceira nação mais vitoriosa na F1 – 101 (cento e uma) vitórias, a derradeira no GP da Itália 2009 (Rubinho), 772 Grands Prix, 126 pole positions, 88 voltas mais rápidas, 293 pódios e 31 pilotos (de Chico Landi GP Itália 1951 a Massa/Nasr Abu Dhabi 2016) e 08 (oito) títulos mundiais, merece ter a história respeitada e continuada. Desde 1970 (Emmo), possuímos “embaixadores”. Antes, o nosso maior hiato foi entre 1960 e 1969. O último piloto em questão era Frédérico “Fritz” D’Orey. Competiu 03 GPs. 02 (dois) na Maserati e 01 (um) pela italiana Tec Mec em 1959.

Não esqueçamos que vencemos ainda o Campeonato da F-E e etapas da Nascar Xfinity Series e Camping World Truck Series (Nelsinho Piquet Jr).; 07 (sete) vitórias nas 500 (quinhentas) milhas de Indianápolis; títulos de Kanaan – Indy, Da Matta, Gil de Ferran e Emerson Fittipaldi na extinta CART; conquistas no WEC (Di Grassi); Na DTM e WTCC (Augusto Farfus); F-3 Inglesa… Enfim, tantas glórias que peço desculpas por não elencar todas. Contudo…

A aposentadoria do Massa surpreendeu muitos torcedores. Tendo em vista a idade e os exemplos incontáveis de atletas que competem em alto nível aos 37, 38 anos… (Tom Brady – 39; Valentino Rossi – 37; Jimmie Johnson – 41; Kimi Raikkonen – 37; Kelly Slater – 44; Gianluigi Buffon – 38…), imaginava-se algumas temporadas pela frente. Do anúncio em Monza ao prezado minuto, fincamos a nossa única e última expectativa ao Nasr.

O Brasiliense de origem Libanesa, melhor estreante brasileiro na F1 – 5º (quinto) no GP da Austrália 2015, conquistou na sua carreira, determinados títulos, dentre eles: F-3 Inglesa – 2011 e Fórmula BMW Europeia – 2009. Na GP2 em 2014 foi terceiro colocado. A velha máxima da F1 de “você é tão bom quanto a sua última corrida”, ajudou a desmistificar que o #12, apesar dos resultados aquém do desejado, comparado ao sueco Ericsson em 2016, possui talento nato. Pilotar (ponta dos dedos) naquelas condições climáticas com aquele bólido; segurar Alonso, Ricciardo e ainda pontuar… Habilidade há. Ausente é oportunidade e gerenciamento adequado na carreira.

A qualidade e atuação nas pistas propiciaram a Felipe o suporte do Banco do Brasil. Antes de qualquer debate, insta esclarecer que a instituição financeira é Sociedade de Economia Mista (S.E.M), possuindo a União 68,7% de participação. Entende-se que S.E.M. é pessoa jurídica criada através de autorização legal, com viés de Direito Privado, mas submetido a alguns regramentos especiais. Portanto, banco estatal.

Tenho para mim que o Estado pode e deve contribuir no desenvolvimento do esporte nacional, desde que haja isonomia no aproveitamento dos recursos. Embora a crise seja sinônimo de “oportunidade e investimentos”, despender 50 milhões de reais em patrocínio master na pior equipe do Grid seria inadmissível e injusto. Recordam a propaganda do BB, #TorcidaBrasil pela Sauber e Felipe Nasr?

É do nosso conhecimento que o Banco está reestruturando-se e consequentemente, houve mudanças de estratégias. Recentemente, diminuíram 10 milhões anuais no “auxílio” a Confederação Brasileira de Vôlei – CBV para os próximos 04 (quatro) anos. Nessa semana, surpreendidos fomos quando anunciaram que fecharão mais de 400 agências (ao longo dos 12 meses seguintes), assim como o plano de incentivo para até 18 mil empregados aposentar-se.

Diante dos fatos apresentados, somada a constante carência de apoio do Estado (leia-se, União, Estados e Municípios) aos nossos esportistas; muitas vezes a bolsa atleta/pódio é insuficiente, a decisão do BB na presumível não renovação do patrocínio nos termos atuais é o mais prudente e correto a fazer. O medalhista olímpico na Rio2016, Isaquias Queiroz é o exemplo. Logo, investimento estatal é na base e para todos.

A visibilidade é importante e a aplicação de capitais na equipe Suíça pode ter gerado retorno ao “olhar do publicitário”. Todavia, convenhamos e sejamos francos, alguém abriu/abriria conta no BB por causa da Sauber ou Felipe Nasr? Se fosse obrigado escolher financeira tendo como origem exclusivamente “Team and Driver” da F1, não optaria pela brasileira; Mas a atrelada a “Scuderia di Maranello” vencedora e icônica. Entretanto, não havendo essa “obrigatoriedade vinculada”, a minha modesta opinião torna-se irrelevante…

A sensatez é necessária. A ocasião demonstra que o investimento deve ser em médio prazo. Isto é, na formação de pilotos (categoria de base). É vantajoso ter brasileiro como figura decorativa, apenas fazendo número? Acreditar que despejar milhões do contribuinte, no intento de não deixar o Brasil sem competidor, é um bem que se faz…

Não possuo lhufas contra Nasr. Porém, devemos ser mais racionais, menos emocionais neste tema. Ademais, difícil compreender a nação Brasiliana. Tantos empresários bilionários, qual dificuldade em patrocina-lo? Foco da empresa diferente? Deficiência de maior cobertura televisiva? Staff do #12 é fraco? Custo x benefício não vale a pena? Várias indagações que ainda não podemos decifrar. Quiçá Carlos Slim possa ajudar.

É forçoso constatar que a força política do Toto Wolff em quase metade dos times (Manor, Force India, Renault, Williams), acrescentada aos milhões de euros privados de grandes corporações, contribui na dura e porque não desleal concorrência?

Futuro promissor? Complexo prever. Se for à Sauber então… Comandada por Monisha Kaltenborn, a Team Principal colecionadora de desafetos pelas condutas controversas; ao vender, exemplificando, vaga do cockpit a diversos pilotos… Na transmissão do SporTV, jornalistas afirmaram que na venda para investidores, Peter impôs a permanência dela. Os resultados refletem o modo de gestão. Falar em reestruturação correta, ao contratarem o ex-engenheiro do Verstappen, Xevi Pujolar; o ex-chefe técnico da Audi e um dos criadores da inesquecível Brawn GP, Jörg Zander e utilizarem em 2017 motores Ferrari defasados, soa contraditório.

Esse lado negativo, acrescentado pelos indícios de sabotagem, ao qual não acredito, contribuiu para o clima nada amistoso junto ao #12. Mídia atesta que o relacionamento da indiana com Almir Nasr é péssimo. Desdenhar o P9 em Interlagos, vislumbrar milhões de euros germânicos não é bom presságio.

Espero estar equivocado. O tempo, às vezes, clarifica. No entanto, a escolha pela família Robertson pode ter sido decisiva para Felipe. Recusar proposta dos energéticos – “Red Bull Junior Team” sepultou perspectivas que provavelmente, não voltarão a acontecer.

Sobreviver no meio automobilístico é complicado. Você deve estar preparado para disputar com os melhores. As dificuldades fazem parte do amadurecimento. O imponderável está presente a todo instante. Decisões são tomadas em milésimos de segundos. Talvez o caminho a seguir seja outro. Mas quando ainda há possibilidade, há esperança. A torcida é por mais brasileiros na Fórmula 1. Se não der, paciência. Existe vida fora dela. A Nascar, Fórmula E, WEC demonstram que também é possível divertir-se em alto desempenho por muito menos. Basta querer e correr atrás.

Victor Manoel de Oliveira Nunes
Natal – RN

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