MotoGP – Tempos Interessantes

quarta-feira, 14 de junho de 2017 às 13:50
Pneus Michelin MotoGP

Pneus Michelin MotoGP

Colaboração: Carlos Alberto Goldani

A MotoGP foi caracterizada nos últimos anos como uma disputa entre excelência de equipamentos e técnicas de pilotagem. Não é novidade que as máquinas da Honda são configuradas para atacar curvas com frenagens agressivas e mudar de trajetória em espaços muito curtos, para permitir levantar a moto rapidamente e retomar a velocidade. Outros equipamentos são mais eficientes com abordagens mais fluidas, utilizando um traçado com um raio maior para contornar os cantos, mantendo a mesma velocidade angular em ambas as rodas na frenagem e na retomada. Uma das técnicas privilegia a aproximação mais veloz, rápida desaceleração e retomada mais cedo, a outra mantém maior velocidade no meio da curva.

As temporadas de 2016 e, principalmente, 2017 acrescentaram um importante fator adicional para a disputa, a sensibilidade dos pilotos ao gerenciamento dos pneus. Não é apenas acelerar o máximo possível, é necessário que o equipamento esteja nas melhores condições, leia-se com aderência, até o final da prova. Com sete das dezoito provas realizadas, os resultados indicam que os que selecionam o composto mais adequado e identificam melhor como administrar o desgaste dos pneus em relação às condições de aderência das pistas são recompensados. Um exemplo didático foi o GP da Catalunha em Barcelona, a análise dos resultados indica entre os quatro primeiros colocados três pilotos muito experientes, com idades acima de trinta anos, e um tricampeão mundial, todos inteligentes, pilotam para equipes de fábrica e contam com pessoal de apoio muito experiente. Andrea Dovizioso, Marc Márquez, Dani Pedrosa e Jorge Lorenzo fizeram o melhor possível para as condições da prova, controlaram o desgaste de pneus com a alta temperatura do piso e obtiveram as melhores colocações. Lorenzo chegou a ocupar o oitavo lugar a poucas voltas do final, com o equipamento mais conservado recuperou-se nas últimas voltas e chegou em quarto.

A Michelin tem sido a única unanimidade nos bastidores da MotoGP, e não de forma elogiosa. O comportamento dos pneus da fabricante francesa lembra um comercial antigo de um bonequinho imitando um fuzileiro naval americano, “Cada dia uma nova aventura”. Nunca a disputa esteve tão indefinida, é impossível indicar um favorito para a próxima prova. O que já é consenso é que o Michelin tem uma janela operacional muito estreita, que fica ainda mais crítica em determinadas pistas. A prova de Jerez foi definida pelo gerenciamento de pneus em uma pista com baixa aderência, condições agravadas em Barcelona pelo desgaste extremamente alto. Um raciocínio simples indica que desgaste e aderência estão relacionados, maior desgaste implica em menor aderência, porém este comportamento não é linear com os pneus franceses.

Dois pilotos que estão no topo da tabela apresentaram posturas diametralmente opostas para administrar o conjunto moto/pneus em Barcelona. Marc Márquez, conhecido por seu estilo agressivo, foi o campeão de quedas nos dias que antecederam o GP procurando identificar o limite de aderência na pista. Maverick Vinales, que lidera a pontuação geral no campeonato, estava perplexo, “Honestamente, é um drama, não sei o que estou fazendo de errado. Estou pilotando como no Qatar, Argentina e em outras provas. Não tenho ideia do que está acontecendo. A moto funciona em algumas corridas e em outras não”. Alguns arriscam uma explicação simplista que o chassi 2016 da Yamaha, que equipa a satélite Tech3 (Johan Zarco & Jonas Folger) com alguns resultados melhores que os da equipe oficial, tem um desempenho melhor que o chassi 2017. Esta ideia é contestada por Vinales e Rossi, Valentino explica que em retomadas de aceleração a versão 2017 depende mais do pneu traseiro, que em algumas condições ainda não suficientemente explicadas, não é o ideal.

Quando a fornecedora exclusiva de pneus era a Bridgestone, com um comportamento mais previsível e janela de operação mais ampla, os maiores orçamentos eram privilegiados, por aplicarem mais recursos no desenvolvimento do equipamento e em análise de dados, buscando uma combinação perfeita. Engenheiros e pilotos tinham uma noção exata do que esperar dos pneus nas pistas e entre 2011 e 2015 as equipes oficiais da Honda e Yamaha venceram todas as provas disputadas na MotoGP. Havia pouco espaço para a improvisação, para adaptar-se às circunstâncias, para o elemento de surpresa. O caminho da Bridgestone, previsível e preciso, ou o modo Michelin que exige a capacidade de rápida adaptação às condições de contorno definem o que esperar de uma competição. Em termos de espetáculo, as corridas da era Michelin são mais divertidas.

No desarme do circo em Barcelona o chefe da Honda Livio Suppo comentou que estamos vivendo tempos interessantes, fabricantes diferentes apresentando desempenhos surpreendentes. O pêndulo oscila entre uma e outra equipe, motos antigas com performance superior que as mais modernas, uma equipe específica ou uma determinada fábrica sobressai quando obtém o máximo desempenho com os pneus. Na próxima corrida é um circuito diferente, um piloto diferente, uma moto diferente, uma equipe diferente. A crítica de Suppo, como responsável por uma das equipes que mais investe na MotoGP, é que esta insegurança prejudica a obtenção de recursos para as próximas temporadas. Regras claras e condições iguais para todos é não só aceitável, como desejável. Complicado é trabalhar na base da adivinhação.

Carlos Alberto Goldani
Porto Alegre – RS

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