MotoGP – Temporada 2017, Jerez de la Frontera

terça-feira, 9 de maio de 2017 às 21:01
Dani Pedrosa

Dani Pedrosa

Colaboração: Carlos Alberto Goldani

Jerez de la Frontera é um município da província de Cádis na comunidade autônoma da Andaluzia, Espanha, está localizado no trecho do litoral voltado para o Atlântico. É uma cidade com população em torno de 250 mil habitantes, conhecida pela qualidade de seus vinhos (xerez), pelos centros de adestramento de cavalos, por sua cultura musical (flamenco) e por seu autódromo.

O Circuito Permanente de Jerez hospeda uma das quatro etapas da temporada 2017 da MotoGP programadas para serem realizadas na Espanha, o atual traçado tem 4.428 metros e começou a ser utilizado em 1986. A pista de Jerez já sediou cinco GPs da Espanha de Fórmula 1, de 1986 até 1990, e recepcionou duas vezes como Grande Prêmio da Europa em 1994 e 1997. Nelson Piquet obteve sua última pole da F1 em Jerez, em 1987. Atualmente a pista faz parte do calendário para a abertura da temporada europeia do mundial de motovelocidade, a pista também é um dos locais escolhidos para testes por equipes da MotoGP e F1.

O sucesso ou fracasso em uma prova da MotoGP é decidido pela atenção aos detalhes, por exemplo, temperatura ambiente e do piso na hora da prova, aderência e escolha de pneus. O primeiro dos quatro GPs programados para o território espanhol colocou à prova a capacidade de pilotos e equipes, houve uma diferença de 20° C entre o último ajuste dos pilotos no ‘warm up’ da manhã e a hora da largada, algum aumento de temperatura era esperado, talvez não tão significativo. Os pilotos que fixaram os parâmetros do setup e escolheram os pneus de suas máquinas nesta sessão foram surpreendidos condições diversas na corrida.

Os principais fatores que influenciaram o resultado da prova foram a alta temperatura do ambiente e a aderência da pista, as equipes que souberam trabalhar melhor com estas variáveis foram beneficiadas. O piso da pista de Jerez não apresenta falhas ou (muitas) ondulações, mas tem 14 anos de idade, foi recapeado pela última vez em 2003, significa que a aderência é menor que outros circuitos e é complicado para manter a temperatura dos pneus na janela ideal.

Baixa aderência é uma condição conhecida, máquinas evoluem e pneus são modificados para administrar estas mudanças, as técnicas de condução dos protótipos permitem que alguns pilotos encontrem grip onde outros são prejudicados. O somatório de condições da prova de Jerez privilegiou pilotos com uma tocada suave como Pedrosa e Lorenzo, o segundo colocado Márquez não se enquadra neste perfil, porém seu histórico indica que ele não costuma respeitar muito as leis da física tradicional.

A vitória de Pedrosa foi indiscutível e ele nunca andou no limite da capacidade da Repsol-Honda, consistência e ritmo foram fatores decisivos e desde a largada sua liderança não foi ameaçada, seu mais próximo competidor, o colega de equipe Marc Márquez utilizou a sua estratégia habitual, não permitir ao líder distanciar muito e tentar um ataque nas voltas finais, só que seus pneus acabaram antes. Com a vitória Dani Pedrosa obteve um recorde notável, é o primeiro piloto da história a vencer pelo menos uma corrida em 16 temporadas consecutivas. Os pilotos da Honda explicaram que a moto não evoluiu muito desde a última temporada, mas os técnicos conseguiram manter as características do equipamento estáveis e eles tem mais confiança para explorar mais seus pontos fortes e aprender com seus erros. O ponto de interrogação ainda está nos pneus, a Michelin ainda não consolidou um padrão.

O box da Ducati revelou depois da prova uma euforia contida, euforia pelo primeiro pódio de Lorenzo com a nova equipe e contida pelos quase quinze segundos que o separaram do vencedor. O piloto que tem o mais alto salário no grid está se adaptando à moto, a fábrica, por sua sugestão alterou a posição do condutor para obter uma condição mais confortável e instalou o acionamento do freio traseiro pelo polegar esquerdo, os resultados estão começando a aparecer.

Johann Zarco tem sido o nome mais citado destas primeiras quatro etapas do mundial de MotoGP. Sofreu uma queda enquanto liderava a primeira prova da temporada no Catar e classificou-se entre os 5 primeiros nas outras três etapas. Em Jerez conduziu uma Yamaha M1 versão 2016 de uma equipe satélite para a quarta colocação, à frente dos dois pilotos da equipe da fábrica, Rossi e Vinales. Zarco, bicampeão de Moto2 em 2015/2016, estava negociando no ano passado um assento na equipe oficial da Suzuki para ser companheiro de Andrea Iannone e foi preterido em favor de Alex Rins. O piloto francês já havia testado a Suzuki e ficou tão irritado que cancelou a sua participação como piloto de uma das motos do fabricante na icônica prova de resistência 8 horas de Suzuka. Johann Zarco classificou-se para o grid com a sexta posição, fechou a primeira volta em 5°, a segunda em 3° e por instantes andou na frente de Márquez na quarta volta, posteriormente foi ultrapassado por Lorenzo na 11ª, seu quarto lugar foi a melhor posição das motos Yamaha na prova. Zarco, da equipe Monster Tech 3, lidera o campeonato de pilotos independentes, seguido por Cal Crutchlow da LCR Honda.

O clima não foi legal nos boxes da Movistar-Yamaha depois da corrida. Maverick Vinales, que insiste que não cometeu erro nenhum em sua queda nos EUA, não gostou da 6ª colocação. Valentino Rossi alegou que sua moto vibrava tanto que parecia estar pilotando uma britadeira nas últimas voltas e pediu a volta da sua antiga M1. Depois de apenas quatro etapas e apesar de seus dois pilotos liderarem o mundial, o ambiente na Yamaha não é mais só alegria. Nada é dito em público, porém em conversas ‘off the record’ os pilotos manifestam profundo desagrado com o comportamento dos pneus Michelin.
A prova de Jerez chamou a atenção por três fatos inusitados, o primeiro foi o acidente durante o ‘warm up’ com o ‘safety car‘ pilotado por Franco Uncini, campeão da classe 500cc em 1982 e um dos inspetores de segurança da FIM. O seu BMW perdeu o controle e bateu forte contra as barreiras de proteção durante uma volta de vistoria na pista. Uncini sofreu algumas contusões e o outro passageiro, Sito Pons, ex-campeão do mundo das 250cc em 88 e 89, quebrou um braço. O segundo foi a intervenção de alguns partidos políticos da Espanha que pediram maior austeridade no modo de vestir das ‘grid-girls’, elas foram bem mais discretas que o habitual, no entanto esta onda de moralidade relativa não surtiu grande efeito nas ‘pit-babes’ que circulavam pelo ‘pit lane’. Por último um daqueles fatos que a mídia costuma classificar de ‘incidentes lamentáveis”, Jack Miller perdeu a cabeça e empurrou Álvaro Bautista após um incidente na pista que causou a queda de ambos.

A MotoGP nesta temporada lembra um antigo comercial de um bonequinho de brinquedo chamado Falcon, “Cada dia uma nova aventura”.

Carlos Alberto Goldani
Porto Alegre – RS

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