MotoGP – Fatos e versões

terça-feira, 19 de julho de 2016 às 17:02
Marc Marquez em Sachsenring

Marc Marquez em Sachsenring

Colaboração: Carlos Alberto Goldani

Na política existe a premissa de que a maneira como um fato é contado é mais importante que o que realmente aconteceu, este conceito pode ser portado para as manchetes esportivas dos diversos veículos de divulgação. Depois da extraordinária vitória de Marc Márquez no GP da Alemanha em Sachsenring, a mídia especializada não poupou elogios à tática brilhante da equipe Honda, que antecipou a troca de motos e devolveu para a pista o piloto com um equipamento calçado com pneus slick. Sem dúvida este foi um fator determinante da vitória de MM#93, entretanto tudo indica que foi mais necessidade que estratégia. A Honda apostou, baseada no conhecimento das nuances do clima local, que o tempo melhoraria durante a prova e que dificilmente voltaria a garoar ou chover, por isto as motos reserva foram equipadas com pneus para pista seca.

Marc Márquez fez uma escolha errada e iniciou a prova com um pneu dianteiro extra macio, inadequado para o conjunto de condições do piso molhado, configuração da moto e sua técnica de condução. Além de gradativamente perder posições, ainda errou na curva oito da décima volta e e foi obrigado a um longo passeio pela brita. Na décima oitava volta, faltando ainda 40% da prova, o pneu extra-macio deteriorou de vez e não houve outra alternativa que não fosse trocar de moto. Nenhuma sacada genial, apenas uma necessidade.

Encerrou a obra do destino e surgiram o talento e a técnica do piloto, conduzir uma moto que desenvolve mais de 240 HPs em uma estreita trilha de asfalto ainda úmido é assustador, ainda mais com pneus slicks frios. Loris Baz havia tentado duas voltas antes e voltou apavorado aos boxes para tocar pelos intermediários. Este foi o cenário que Márquez encontrou, e utilizou seu extenso arsenal de recursos para tirar proveito da situação, aplicando acelerador e freios com intensidade para gerar calor e aumentar a aderência. Sua capacidade de pilotar no fio da navalha foi essencial para a vitória.

A ambiente da Repsol Honda esteve conturbado nos dias que antecederam o GP da Alemanha. Dani Pedrosa, que está na equipe desde 2006, reclamou acintosamente que o motor, cuja especificação está congelada para a temporada, contempla exclusivamente a técnica de condução agressiva do companheiro de equipe. A RC213V é muito complicada de pilotar para ele e para as equipes satélites. Sua reclamação perdeu um pouco de consistência depois do segundo lugar de Crutchlow, entretanto houve quem identificasse neste episódio uma reedição da Síndrome Stoner-Ducati. Na segunda metade da década passada só o estilo do australiano, cultivado em pistas de terra, era adequado para as motos da fábrica italiana, entre 2007 e 2010 Stoner obteve 23 das 24 vitórias da equipe.

As Yamaha e o clima não se entenderam durante todo o final de semana e Valentino Rossi perdeu qualquer chance de uma boa colocação na prova depois de retardar demais a troca da moto, a reserva estava equipada com pneus que não eram eficientes em uma pista quase seca. A opção pelos intermediários na segunda moto não foi gratuita, nas sessões de treinos com baixa temperatura, os pilotos da equipe não encontraram uma maneira de obter calor suficiente no pneu dianteiro. Com o comportamento caprichoso do clima, a escolha de intermediários foi uma questão de lógica e não pode ser creditada como um erro dele ou da equipe.

Se os resultados de Sachsenring foram desastrosos para Rossi, para a autoestima de Lorenzo foram catastróficos. Além de um mísero ponto pela décima quinta colocação, em um único fim de semana ele contabilizou três quedas, o mesmo número de todo o campeonato passado. O atual campeão do mundo tem uma notória aversão por piso molhado e compartilha com Rossi a dificuldade em aquecer o pneu dianteiro em temperaturas baixas, como foram as duas últimas provas.

Carlos Alberto Goldani
Porto Alegre – RS

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