MotoGP – Depois de Phillip Island

terça-feira, 25 de outubro de 2016 às 13:51
Cal Crutchlow vence em Phillip Island

Cal Crutchlow vence em Phillip Island

Colaboração: Carlos Alberto Goldani

Em 2009 Colin Edwards autoproclamou-se campeão da MotoGP. Na verdade ele ficou em quinto na temporada, mas segundo seu raciocínio, os desempenhos de Rossi, Lorenzo, Pedrosa e Stoner eram tão superiores que eles competiam em uma outra categoria. Desde 2008, quando Lorenzo fez a sua estreia na MotoGP, as vitórias foram divididas exclusivamente entre os “Top Four”, com Marc Márquez assumindo o lugar de Stoner em 2013. Dovizioso em Donington, 2009, e Spies em Assen, 2011, foram as únicas exceções, ambas em provas realizadas com condições de pista incomuns.

A vitória de Cal Crutchlow na Austrália, a terceira do ano de um piloto independente, identifica 2016 como uma temporada diferente, não necessariamente mais competitiva. Não há como caracterizar um campeonato que tem seu vencedor assegurado faltando três etapas como muito disputado.

Oito pilotos diferentes já venceram este ano, a rigor, entre os pilotos de fábrica da Yamaha e Honda, só Márquez alcançou um número expressivo de vitórias, cinco ao todo, o mesmo que Rossi e Lorenzo somados. Nas outras provas sempre houve algum fato atípico, Jack Miller ganhou com muita chuva, onde qualquer ousadia era penalizada por queda, Iannone obteve seu sucesso em uma pista que parece ter sido desenhada à régua especialmente para as Ducati, a primeira vitória de Crutchlow foi mais por uma escolha feliz na loteria de pneus. Maverick Vinales, com a Suzuki, destoa deste script, venceu em Silverstone com bom tempo e pista seca.

Na Austrália mais uma vez o protagonista foi o clima, e a escolha errada da hora de entrar na pista durante os treinos livres jogou Crutchlow, Lorenzo, Rossi e Vinales para o Q1. Rossi ainda obteve um ótimo tempo, mas não foi validado porque o piloto excedeu o limite de segurança do número de voltas com um composto macio. Crutchlow e Lorenzo passaram para o Q2, Rossi foi relegado para a décima quinta posição no grid.

Márquez conseguiu a pole, a número 65 de sua carreira em 148 provas, ultrapassando Rossi e Lorenzo com 64 cada. O início da prova foi caracterizado pela brilhante performance de Rossi, que na décima volta, ajudado pela queda do até então líder Márquez, já estava em segundo lugar. O esperado, um ataque de Valentino à Honda de Crutchlow não existiu, o britânico impôs um ritmo de corrida alucinante e até a volta 23 abriu 6,5 segundos.

A vitória do britânico Crutchlow em pista seca da Austrália é para ser comemorada. Cal, um piloto não fábrica, iguala o número de vitórias de Rossi na temporada, ele e Márquez foram os únicos que optaram pelo pneu dianteiro duro, a queda de Marc, juntamente com a placa dos boxes indicando que Rossi estava em sua caça não o intranquilizou, o piloto da LCR Honda manteve seu ritmo inalterado.

O campeonato conquistado na prova anterior do Japão coroou a estratégia de Márquez, escolher provas em que poderia ganhar e marcar pontos nas outras. Escolher um circuito para correr por só por pontos é uma opção difícil para o espanhol de 23 anos, que já venceu em todas as pistas de MotoGP do atual campeonato, com exceção da Áustria. Para Rossi faltam Austin, Aragon e Áustria, Lorenzo ganhou em todos os lugares, exceto Argentina, Austin, Sachsenring e Sepang, Pedrosa já venceu em 11 dos 18 palcos do mundial de MotoGP.

Vencer duas corridas no mesmo ano, com piso seco ou molhado, além de comprovar o incrível talento de Crutchlow, também confirma que as regras restritivas de desenvolvimento de tecnologia dos organizadores (FIM & Dorna), o pacote eletrônico único e o novo fornecedor de pneus abrem oportunidades para o progresso das equipes independentes. Apenas para efeitos de comparação, se o campeonato tivesse começado em Sachsenring, Marc Márquez teria 128 pontos, Valentino Rossi 113, Jorge Lorenzo 71 e Cal Crutchlow 121 pontos. Traduzindo, considerando a prova da Alemanha como ponto de partida, o campeão antecipado da temporada e piloto da equipe de fábrica da Honda conquistou sete pontos mais que o da equipe satélite. Crutchlow estaria em segundo lugar, apenas sete pontos atrás Márquez.

Com o pódio de Vinales em Phillip Island, a Suzuki já conseguiu uma vitória e três terceiros lugares em 2016, pontuação suficiente para a fábrica perder seus privilégios de concessões na próxima temporada. Em 2017 a fábrica terá a limitação de sete em vez de nove motores no ano, concepção do propulsor congelada a partir da primeira corrida e cinco dias de testes privados com os pilotos de fábrica. Embora a ausência de concessões possa ser considerado um passaporte para as grandes equipes, é uma má notícia para Andrea Iannone e Alex Rins, os novos contratados, afinal mais testes ajudam a conhecer melhor a moto.

A MotoGP é um negócio com muitos interesses envolvidos, é um absurdo imaginar que uma equipe deliberadamente boicote um de seus pilotos, portanto deve haver uma explicação para os crônicos problemas enfrentados por Jorge Lorenzo depois do recesso de verão. Enquanto na Austrália Rossi pilotou com segurança e classificou-se em segundo lugar, o espartano cruzou a linha em sexto, 20 segundos – uma eternidade – atrás de Crutchlow, um final medíocre para um fim de semana sombrio. Lorenzo havia feito uma pré-temporada perfeita, então, em função dos problemas com Baz e Redding, a Michelin mudou o pneu traseiro para um composto mais rígido. Houve uma curva de aprendizado e, quando as coisas estavam entrando nos eixos, a fábrica trocou a consistência do componente em Brno, na República Tcheca.

O estilo de pilotagem de Lorenzo exige mais aderência dianteira e traseira, em pistas com maior grip como Motegi ele foi muito competitivo. Por causa de seu modo de condução suave, ele não consegue gerar calor no pneu dianteiro como outros pilotos, um problema que divide com Dani Pedrosa, e sem a temperatura adequada, não há como exigir o máximo do equipamento.

Os problemas de Lorenzo, por extensão também de Rossi, são agravados pela falta de progresso da Yamaha com a eletrônica. Os recursos de hardware e software são os mesmos, mas Honda e Suzuki conseguem mapear melhor as pistas e obter vantagens. O campeão do ano passado indica que falta confiança na entrada de curvas velozes porque o freio motor não tem a eficiência necessária. Lorenzo espera não ter tantos problemas nas provas de Sepang e Valência, em pleno verão tropical. Com pneus aquecidos, os problemas da eletrônica podem ser contornados.

A Ducati está esperançosa que em 2017 a Michelin ofereça pneus mais maleáveis, que aqueçam mais fácil e proporcionem maior aderência, condições necessárias para Lorenzo exercer toda a sua capacidade na moto italiana.

Um último rescaldo da prova da Austrália, Scott Redding cruzou a linha de chegada na frente de seu companheiro da Pramac Ducati, Danilo Petrucci. Os dois estão envolvidos em uma disputa pela única GP17 que deve ser utilizada pela equipe no próximo ano.

Carlos Alberto Goldani
Porto Alegre – RS

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