MotoGP – Ainda o software unificado

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016 às 16:43
Aprilia

Aprilia

Colaboração: Carlos Alberto Goldani

Os promotores do mundial de MotoGP não são entidades beneficentes e sabem que um “gap” tecnológico muito grande entre as equipes torna as corridas monótonas, sem atrativos, como tem acontecido nas últimas provas da Fórmula 1 com a hegemonia da Mercedes. Menor competitividade resulta em menor audiência, menor exposição para os patrocinadores, menores lucros. Desde o GP da Austrália em 2010 o monopólio dos vencedores é das equipes oficiais das fábricas Yamaha e Honda, não por acaso as que administram os maiores orçamentos.

Para obter um ambiente de maior competitividade nas pistas só existem duas opções, dotar as equipes menores com recursos para que também possam investir pesado em desenvolvimento ou nivelar por baixo, utilizar um regulamento que impeça o uso de tecnologia de ponta. A Dorna e a FIM, ao introduzir no regulamento a obrigatoriedade do uso do pacote eletrônico unificado, escolheram a segunda opção. Nestes termos é compreensível o desabafo do vice-presidente da HRC, Shuhei Nakamoto, que declarou durante os testes de Sepang que “O software unificado é semelhante ao que utilizamos dez anos atrás”. O escopo da HRC de desenvolver tecnologia para ser portada para as motos de linha foi temporariamente suspenso para ajustar a potência e o comportamento da RC213V de 2016 às limitações do software unificado.

Muita coisa mudou, exigindo muito mais dos pilotos. MotoGP, independente de toda a estrutura de apoio, é um esporte solitário. Uma vez apagadas as luzes que autorizam a largada, a sinergia entre piloto e moto é única, os recursos de telemetria servem apenas para amostrar comportamento de componentes para serem analisados mais tarde. As instruções que nos habituamos a ouvir nas coberturas de Fórmula 1, dos boxes solicitando aos pilotos para “adotarem o plano B” ou “cuidarem da temperatura dos freios” não existem na MotoGP, pilotos não tem comunicação com engenheiros durante as provas.

O procedimento de ajustar a moto durante a competição era realizado pelo software dos fabricantes. Até a temporada passada os equipamentos eram equipados com sistemas de GPS que forneciam em tempo real a posição da moto na pista e a eletrônica determinava o comportamento mais eficiente do controle de tração e entrega de torque. As estratégias eram adaptadas durante a corrida considerando fatores como consumo de combustível e degradação de pneus. Para 2016 os GPSs foram banidos e o software da Magneti Marelli é muito limitado.

O software unificado endereça a mudança de comportamento da moto durante uma corrida, na medida em que os pneus perdem aderência, de uma maneira simplista, permite que o piloto selecione entre mapas pré-definidos com as características da pista. Até 2015 a preocupação do piloto era como contornar uma curva e as condições ideais de comportamento do equipamento eram administradas pela eletrônica, agora ele deve fazer durante a corrida a melhor opção entre mapas específicos para cada ocasião.

O software da Magneti Marelli pode administrar ajustes curva por curva durante uma volta, o que ele não faz é se auto ajustar. A aderência de uma pista não é uniforme e o software contempla condutas diferentes em cada curva porque o coeficiente de atrito pode ser diferente, porém são comportamentos pré-definidos, não adaptativos.

Sem o auxílio do GPS, que foram banidos pelo regulamento, as balizas que limitam os setores de cronometragem são utilizadas para estimar a posição da moto na pista. Ao passar por uma destas balizas o software sincroniza e passa a contar as rotações da roda, calculando a distância percorrida para estimar onde a moto está na pista e adequar os ajustes pré-definidos no mapa escolhido pelo piloto. Este procedimento implica em dois problemas, (1) ao passar pela baliza o mapa é sincronizado e qualquer variação da trilha ideal introduz erro crescente que só será corrigido no próximo ponto de amostragem, (2) se inadvertidamente sair da pista, o comportamento da moto fica totalmente prejudicado até ser “zerado” no ponto seguinte.

Não há nenhuma garantia que o chamado “Pacote de Redução de Custos” consiga equilibrar a competitividade na MotoGP. Com certeza vai haver um período de adaptação antes de surgir um indicativo claro se os objetivos dos promotores, FIM e Dorna, foram ou não alcançados.

No Grande Prêmio de Motegi, em 2015 com pista molhada, as Yamaha de Jorge Lorenzo e Valentino Rossi dispararam na frente do início da corrida, o líder abriu mais de 8 segundos de vantagem sobre a Honda de Dani Pedrosa. Quando o desgaste dos pneus começou a ficar evidenciado as duas Yamaha perderam consistência e foram ultrapassadas por Pedrosa, que venceu a competição com 8,5 segundos de vantagem sobre Lorenzo. As condições de pista eram iguais, os tipos de pneus iguais, nesta prova venceu o gerenciamento eletrônica da Honda. Com certeza uma reação destas seria improvável com o software unificado.

Carlos Alberto Goldani
Porto Alegre – RS

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