IndyCar & F1 – Último domingo de maio

quinta-feira, 17 de maio de 2018 às 18:04
Vencendo as 500 milhas de Indianapolis pela segunda vez em 1993

Emerson vencendo as 500 milhas de Indianapolis pela segunda vez em 1993

Colaboração: Carlos Alberto Goldani

A mídia e as agências de propaganda escolhem datas específicas para promover campanhas publicitárias direcionadas para estimular o comércio. Alinhado com esta prática o mês de maio é conhecido como o mês das mães ou mês das noivas, conforme o nicho de mercado que deve ser estimulado. Para os que gostam de automobilismo o último domingo de maio tem um significado especial, é a data programada para a realização de duas das principais provas de automobilismo esportivo que, junto com as 24 Horas de Le Mans, fazem parte do que se convencionou chamar de “Tríplice Coroa”, as icônicas 500 Milhas de Indianapolis e o GP de Mônaco de Fórmula 1.

A edição nº 102 das 500 milhas de Indianapolis será disputada dia 27 de maio como a sexta etapa do calendário de 2018 da IndyCar Series. Será realizada no tradicional circuito oval Indianapolis Motor Speedway, localizado em Speedway, um enclave de Indianapolis no estado de Indiana, USA. O novo pacote aerodinâmico universal e a redução nos custos implementados este ano resultaram em um número de inscritos que excede a capacidade da pista (33) exigindo a realização do chamado Bump Day, que classifica os carros mais velozes e elimina os excedentes. O regulamento da Indy 500 qualifica o carro, não o piloto, e não é raro que um condutor na classificação seja substituído para competir na prova.

As 500 Milhas têm um apelo especial para o público tupiniquim, inexistente na Fórmula 1, a presença de pilotos brasileiros no grid de largada. O baiano Tony Kanaan e o gaúcho Matheus Leist estão inscritos pela equipe A.J. Foyt, o paulista Hélio Castroneves compete pela Penske. Pietro Fittipaldi foi inscrito para correr pela equipe Dale Coyne, porém seu acidente nos testes que antecederam a corrida de Endurance em Spa o afastou temporariamente das pistas. A bandeira do Brasil já tremulou no ponto mais alto do pódio do Indianapolis Speedway em 7 oportunidades, a primeira e m 1989 com Emerson Fittipaldi e a última em 2013 com Tony Kanaan. Hélio Castroneves é o brasileiro com maior número de vitórias, conquistadas nas edições de 2001, 2002 e 2009, Emerson venceu duas vezes (1989 e 1993), Kanaan (2013) e Gil de Ferran (2003) uma vez cada.

As 500 milhas têm na presença de pilotos do sexo feminino, outra característica ausente na F1. Este ano estão inscritas a norte-americana Danica Patrick e a britânica Pippa Man. Danica, de 36 anos, estreou na 89º edição Indy em 2005 e, ao classificar-se em 4º lugar, conquistou o prêmio de Rookie do Ano. Nesta mesma edição, após 19 das 200 voltas, ela se tornou a primeira mulher a liderar uma prova no oval de Indianapolis. Em 2008 ela obteve a sua primeira vitória na IndyCar Series, no Indy Japan 300 e no ano seguinte foi o primeiro piloto do sexo feminino a subir no pódio nas 500 Milhas, completou a corrida em terceiro lugar. Nos últimos anos passou a disputar paralelamente a NASCAR Nationwide Series.

Philippa Mann, mais conhecida como Pippa Man, é uma londrina de 34 anos que fez carreira a partir de 2003 pilotando na Fórmula Renault britânica, passou para a Indy Lights em 2009 e desde 2011 compete na IndyCar series. Já contabiliza 7 participações em edições das 500 Milhas. Seu desempenho na prova nunca foi espetacular, a melhor colocação em todos estes anos foi na última prova (2017) quando se classificou em 17º lugar.

Glamour é a definição mais apropriada para o GP de Mônaco de Fórmula 1. O traçado do circuito, utilizando as vias urbanas do principado de Mônaco é anacrônico, não comporta um GP de F1 e só sobrevive na história graças à tradição, seu irresistível charme e poderosos interesses econômicos.

Uma rara combinação de condução precisa, excelência técnica e muita coragem são as características necessárias para vencer em Monte Carlo, detalhes que acentuam a diferença entre bons pilotos e os gênios da Fórmula 1. O circuito não deixa nenhuma margem de erro, exige muito dos freios e demanda uma concentração sem paralelo em outras pistas da categoria. As ultrapassagens são virtualmente impossíveis, a posição de largada é a mais crítica entre todos os outros circuitos. O lendário Ayrton Senna é o maior vencedor em Monte Carlo com 6 vitórias.

Talvez a imagem mais representativa do GP de Mônaco possa ser espelhada na prova de 1992, a Williams de Nigel Mansell tinha um desempenho nitidamente superior à McLaren de Ayrton Senna e, durante a prova conseguiu abrir uma diferença de mais de 30 segundos. A análise comparativa do desempenho dos dois pilotos podia ser visualizada nas câmeras onboard, o brasileiro tinha um trabalho insano para manter seu carro na pista e o inglês uma condução tão tranquila que parecia estar em um passeio dominical. A classificação do campeonato era uma prova inconteste da superioridade do britânico, cinco vitórias, enquanto o representante tupiniquim registrava apenas dois terceiros lugares.

Na classificação para o grid de largada as duas Williams ficaram naturalmente com a primeira fila e Senna com a terceira colocação. Na largada Senna conseguiu ultrapassar a Williams de Ricardo Patrese, ficando atrás de Mansell. O britânico desapareceu na frente e já festejava a vitória quando o imponderável aconteceu, na volta 70 o pneu traseiro esquerdo da Williams esvaziou, Mansell foi para os boxes e Senna assumiu a liderança. Pilotando como um alucinado o britânico encostou na traseira da McLaren faltando cinco voltas. Ele tentou ultrapassar Senna em todas as 18 curvas do circuito tentando induzir o líder a um erro, porque Mônaco simplesmente não tem pontos de ultrapassagem. Ayrton Senna conquistou sua quinta vitória em Monte Carlo com um carro que jamais teria condições de vencer aquela prova. Após o término da prova, Mansell declarou as repórteres que cobriam a corrida que nunca conseguiria ultrapassar Senna se ele não errasse, e Senna não errou.

O último domingo de maio deste ano promete uma disputa acirrada no oval de Indianapolis, as emoções da Fórmula 1 devem ficar restritas aos artificialismos introduzidos para facilitar a troca de posições na pista como as mudanças obrigatórias de pneus ou a inconstância do clima. Em condições normais não devem surgir ultrapassagens entre os líderes na pista em Mônaco.

Carlos Alberto Goldani
Porto Alegre – RS

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