GP do Canadá – Corrida e bastidores

quarta-feira, 13 de junho de 2018 às 12:45

Sebastian Vettel – Montreal 2018

Por: Adauto Silva

Sebastian Vettel passeou no GP do Canadá disputado no último domingo. Apesar de Lewis Hamilton ter tido um probleminha aqui, outro acolá, nem ele e nem Bottas tiveram ou teriam qualquer chance de vitória numa pista teoricamente da Mercedes.

Já é a segunda vez que isso acontece esse ano, a primeira foi na China.

O que nos resta é tentar entender o que aconteceu, ou seja, porque a Mercedes foi inteiramente dominada pela Ferrari de Vettel com UP nova.

Na minha coluna anterior publiquei ipteris litteris uma conversa que tive com uma fonte – que acabou se tornando amigo – que trabalha lá dentro. Ele me disse que esperavam que a UP nova da Ferrari tivesse 10 hp a mais que a anterior. Erraram, ele me confessou numa troca de mensagens rápida ontem a tarde.

“Adawtow, são pelo menos 15 hp ou um pouco mais e nos pegou a todos de surpresa.”

Pior que isso – para a Mercedes – é que a Ferrari conseguiu esconder isso muito bem nos treinos livres. Vettel andou pouco e quando andou nunca acelerou tudo que podia. Foi uma jogada de mestre da Ferrari e de Vettel, que estavam tão confiantes que deixaram Kimi – ainda com motor velho – testar a maior parte do acerto para então mostrarem o que tinham somente na classificação.

E isso porque o próprio Vettel disse na entrevista logo após a classificação que sua melhor volta poderia ter sido melhor, o que explica Bottas ter ficado a menos de um décimo de segundo dele no Q3.

Lewis não teve chance. Além de ter um motor mais “cansado” que o de Bottas (que tinha 2 dos 6 componentes da UP mais novos), ainda teve o azar de pegar um pássaro pelo caminho que entrou pelo duto de freio e assou lá dentro prejudicando muito as freadas desestabilizando o carro durante as mesmas.

Mas mesmo que Lewis tivesse conseguido fazer a pole, na corrida ele não resistiria. Seria ultrapassado na pista ou na parada por Vettel, que dominou e controlou a corrida como quis.

Wolff está fulo da vida. Amanhã está marcada uma reunião onde Toto cobrará uma série de melhorias no carro que haviam sido prometidas desde Barcelona e não chegaram.

A verdade é que a UP a Mercedes não faz mais o “serviço”. Em 2014, 15 e 16 a Mercedes tinha um carro excelente e disparado a melhor UP. A diferença de UP para a Ferrari era absurda, coisa de 40 a 50 hp. Em 2017 a Ferrari veio com um carro e uma UP inteiramente novos. Conseguiu equilibrar a UP, mas tinha uma aero e uma suspensão melhor, principalmente até a metade da temporada. Depois a Mercedes deu um golpe de mestre trocando seu motor antes de entrar em vigor uma diretiva da FIA que abaixava o consumo de óleo de 0.9 para 0.6. Com isso sua UP voltou a ser a melhor, por isso a segunda parte da temporada foi bem mais fácil.

Nesta temporada, a UP da Mercedes ainda estava mascarando os problemas do carro até chegar em Mônaco, pista onde a UP não faz diferença. Então só aí a Mercedes teve certeza que seu carro ainda dependia muito da UP e que sem a diferença que ela fazia, eles não passariam de terceira força no grid.

Uma luz vermelha foi acesa em Brackley e Wolff exigiu aquelas melhorias no carro, tanto na suspensão quanto na aero. Essa é a razão de James Allison – e você deve ter reparado – ter sumido do mapa nas últimas semanas. Mas o tempo é exíguo e o trabalho hercúleo. E quer saber de uma coisa? Eu já não tenho mais tanta certeza que Allison seja capaz de melhorar muito esse carro…

Foi então que o departamento de motores descobriu que podia acrescentar mais potência na UP nova que ia estrear no Canadá. Ao invés de 8 hp, a UP nova teria 14 hp a mais. Isso salvaria a Mercedes no Canadá? Depois dessa info que a UP nova da Ferrari tem no mínimo 15 hp a mais que a anterior, sinceramente esses 14 hp a mais da Mercedes agora me parecem pouco…

Sobre a corrida não há muito a dizer. Vettel foi o melhor do final de semana, Bottas foi muito bem, Max está voltando ao normal e Leclerc mostrando mais a cada corrida. Lewis não foi aquele Lewis que conhecemos. Apesar do pássaro na classificação e do motor cansado demais na corrida, ficou aquela sensação – racional ou não – que ele podia ter feito mais.

O que a F1 precisa fazer urgentemente é entender exatamente o que mudar nos carros para 2019. Em Mônaco ainda é “desculpável” você ter corridas enfadonhas, mas em Montreal? O circuito é ótimo, sempre proporcionou corridas muito boas, mas dessa vez deu medo. Nada de disputas em praticamente todo o grid. E isso é muito preocupante.

Carros muito dependentes de downforce tem esse problema, ou seja, precisam de ar limpo para funcionar. Com ar “sujo” o piloto que está atrás não consegue se aproximar o bastante para fazer a ultrapassagem no da frente. Não adianta mudar as pistas, tem que mudar os carros. A receita é tirar aderência aerodinâmica (downforce) e acrescentar aderência mecânica (pneus). Ou partir para a solução definitiva: efeito-solo.

Kimi Raikkonen
Com essa diferença na UP nova da Ferrari, Kimi deveria forçar a barra para trocar a sua em Paul Ricard, mesmo que isso signifique largar em último. Com essa UP que ele está usando, suas chances são nulas – até mesmo de acompanhar Vettel – nas próximas cinco corridas, que teoricamente seria quando ele trocaria para a UP nova.

Williams
Escrevo desde o ano passado, precisamente a partir do GP da Áustria, que Paddy Lowe é o principal responsável pela queda da equipe. A Williams tinha desde 2014 uma “formulazinha” simples e eficiente. Carro com downforce abaixo da média, mas em compensação pouquíssimo arrasto, o que o deixava um míssil de reta fazendo-o razoavelmente competitivo em pistas de média e competitivo nas de alta.

Lowe quis mudar isso e estragou o carro de 2017 no GP da Áustria. Teve novamente a chance em 2018 e simplesmente veio com o pior carro do grid, que tem um arrasto gigante e não tem pressão aerodinâmica. A suspensão também não presta, já que o carro não consegue colocar os pneus na temperatura certa nunca. O resultado disso é um carro ruim de reta e de curva.

Os pilotos são fracos? São. Não considero Stroll sequer um piloto de F1. A ansiedade dele no volante o entrega, poucas vezes vi um piloto de F1 brigar tanto com o volante como ele. O acidente que ele provocou na primeira volta da corrida foi simplesmente bizarro. E não, não foi confirmado que o pneu dele estava furado antes da batida. O russo é menos pior. Mas o carro é horrível. Tão horrível que Kubica tem feito zero pressão para assumir um lugar de titular.

Red Bull
A Red Bull está num dilema terrível. Troca sua UP para Honda ou continua com Renault? Neste momento é uma aposta no futuro que eles tem que fazer. A UP da Honda melhorou, está quase lá com a Renault, mas ainda atrás. E com essa atualização do Canadá, seria prudente esperar mais algumas corridas para ver se a confiabilidade não foi comprometida.

É uma escolha muito difícil. Eu acho que a Red Bull devia empurrar com a barriga o quanto puder até decidir.

McLaren
Alonso quebrou e Vandoorne tomou duas voltas. O carro tem tanto arrasto que é como se a asa dianteira fosse uma parede tentando penetrar o ar. Eu já havia escrito algumas corridas atrás que o carro não tinha reta. Não tem mesmo e nem terá, precisa fazer outro carro, assim como a Williams. Para os admiradores da McLaren, que estavam otimistas porque acreditaram que o problema era só da Honda, essa vai ser mais uma temporada muito sofrida…

Adauto Silva
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