GP da China e o marketing da F1

quarta-feira, 18 de abril de 2018 às 13:36

Largada GP da China de 2018

Por: Adauto Silva

A principal razão da Formula 1 ser a categoria máxima do automobilismo mundial é seu marketing. É em razão do excelente marketing global que a F1 faz, que montadoras, patrocinadores, os melhores pilotos, os melhores engenheiros e etc. objetivam estar na F1 e melhor ainda, ser bem sucedido lá dentro.

É o marketing espetacular da F1 que faz rolar as quantidades superlativas de dinheiro que a categoria movimenta. A conta é simples: Quanto você como montadora ou patrocinador precisaria gastar em mídia mundial para aparecer na imprensa o mesmo tanto que aparece estando na F1? Geralmente a resposta para essa pergunta é o triplo, muitas vezes o quádruplo.

Lógico que não é só o marketing. Você precisa ter muito conhecimento e acesso à tecnologia de ponta para poder participar. E participando você atrai patrocinadores. E se for bem sucedido você atrai ainda mais patrocinadores, ganha prêmios e seu marketing positivo aumenta em progressão geométrica. Tudo isso somado forma o lucro de estar na Formula 1.

O primeiro a entender isso foi Bernie Ecclestone. Quando ele chegou lá a F1 já existia, a tecnologia já era de vanguarda, os carros já eram os mais rápidos em circuitos de estrada e os pilotos já eram os melhores do mundo. Mas quase ninguém sabia. O que Ecclestone fez foi convidar jornalistas – até pagar para alguns cobrirem – a assistir as corridas e depois falar sobre elas nos veículos de comunicação nos quais eles trabalhavam. Começou a convidar celebridades e artistas famosos da Europa e de Hollywood para criar glamour e dar uma aura diferente e chic para a categoria.

Ecclestone nunca entendeu nada de corridas, nada da parte técnica, mas sempre foi um grande vendedor, negociador e principalmente um “alimentador” da imprensa, o maior marqueteiro que o automobilismo já viu.

E assim a F1 vive e se mantém até hoje. Marketing.

Você é tão bom quanto sua última corrida e o mesmo vale para você ser ruim. Se você vai mal em duas ou três corridas seguidas, pronto, você está praticamente acabado. Se ganha três seguidas é o contrário, você provavelmente está entre os melhores da história. O detalhe é que essas definições são todas momentâneas, efêmeras. Sim, ganhe três seguidas e você é o máximo, mas naquele momento. Perca as próximas três e você estará no inferno apenas 20 ou 30 dias depois de ter conhecido o céu.

É exatamente isso que está acontecendo com Max Verstappen e Lewis Hamilton neste momento. As notícias sobre ambos são as mais absurdas do mundo. “Hamilton em crise”, Hamilton vai sair da Mercedes”, “Verstappen não é o que se pensava”, “Max tem que mudar tudo”. “Red Bull agora quer continuar com Ricciardo” e assim por diante.

O caso é que nada disso é real, é marketing, que a F1 e seus membros sabem fazer melhor que ninguém. É do “jogo” Jacques Villeneuve fazer declarações bombásticas. É bom pra ele – que mantém seu emprego com todo mundo falando sobre ele – e é bom para a F1, que se mantém em evidência.

Veja, dei Jacques como exemplo, mas serve para praticamente todos na F1, principalmente chefes de equipe, já que faz parte do trabalho deles manter não apenas suas equipes em evidência na imprensa, mas a própria Formula 1.

Todo mundo tem alguma declaração exagerada a fazer. O papel da imprensa é veicular todas essas declarações e cada fã que entenda como quiser.

É assim que funciona e é por isso que a F1 gera tanta notícia, tanta informação e nunca sai da mídia. Nenhuma outra categoria gera 10% das notícias da F1 e portanto tanto dinheiro.

“Falem bem ou falem mal, mas falem sempre de nós”, é o mantra do negócio Formula 1.

Vamos pegar o exemplo de Hamilton e Mercedes. Tivemos três corridas até agora. Ele andou maravilhosamente bem na primeira – chegando a colocar quase 0.7s na classificação sobre o P2 em Melbourne, mas depois caiu nas duas corridas seguintes. Andou atrás do companheiro de equipe tanto no Bahrain quanto na China. Na China ele poderia até ter vencido a corrida mesmo andando mal, mas vamos falar sobre isso depois.

O que importa agora é que com apenas duas corridas abaixo do esperado, o marketing o colocou no limbo da F1. Tudo que ele e a Mercedes fizeram juntos nos últimos 4 anos – uma soma de 7 títulos mundiais – foi colocado em cheque. Será que ele está tão puto com a Mercedes a ponto de querer sair de lá? Será que a Mercedes ficou tão decepcionada com duas atuações fracas dele que ele não serve mais?

Ora, claro que não. Nem uma coisa nem outra.

O mesmo serve para Verstappen. O garoto começou mal este ano. Três erros em três corridas e ele tem “só” 18 pontos no campeonato. Todo mundo massacrando o moleque. O que queriam? Que ele não cometesse nenhum erro andando sempre na borda do limite? Isso não existe. Todo piloto “estilo” Verstappen está sujeito a cometer mais erros que pilotos mais “calmos”. É só ele andar mais devagar – 2 míseros décimos por volta, por exemplo – que ele para de cometer erros. Mas é isso que quem curte F1 quer?

Será que antes de criticarem o Verstappen desse jeito lembraram do Senna, do Schumacher e do Hamilton, por exemplo? Sim, eles cometeram muitos erros assim por bastante tempo, principalmente quando não tinham o melhor carro, ou – no caso de Senna – tinham um companheiro de equipe entre os melhores da história. Lembro de Senna perder uma corrida aqui em Interlagos de McLaren porque bateu atabalhoadamente em Satoru Nakajima no Bico de Pato. Lembro Senna batendo sozinho na entrada do túnel de Monaco estando 1 minuto à frente do segundo colocado. Schumacher e Hamilton também e só não vou listar aqui porque o texto ficaria enorme. Lembre o ano de 2011 de Hamilton e os 5 primeiros anos de Schumacher na F1.

Não adianta. Andar na borda do limite e ser extremamente agressivo em quase todas as manobras está no DNA de alguns pilotos. E esses pilotos – que geralmente andam na frente de seus companheiros de equipe – estão sempre muito mais sujeitos a cometer erros do que aqueles que andam um tiquinho mais devagar.

Lógico, alguma coisa Verstappen tem para melhorar. Ele tem só 20 anos e ninguém está no auge da carreira aos 20 anos em praticamente nenhuma profissão. Até pilotos bem mais velhos que ele ainda vão melhorar. Mas são melhoras pontuais, uma coisinha aqui, outra ali. Max é um fenômeno e não deixou de ser por causa de três erros seguidos. Só espero que ele seja forte o suficiente para não se deixar levar pelo massacre mental que vem sofrendo dos adversários, imprensa e fãs. Que ele ajuste alguma coisa na sua tocada e aprimore seu senso de julgamento, mas nada além disso.

Daniel Ricciardo

O GP da China
Numa pista “totalmente Mercedes” que desde 2012 tinha nada menos que 5 vitórias, nada mais surpreendente do que os alemães não terem conseguido sequer colocar um carro na primeira fila na classificação, que ficou todinha com a Ferrari, Vettel em P1 e Kimi P2, ambos a mais de meio segundo das duas Mercedes que, com pneus ultra macios, não são páreo para a Ferrari até agora nesse ano.

Tem gente falando que o problema da Mercedes é o motor, que a Ferrari teria conseguido melhorar o dela e a Mercedes não. Pra mim isso é papo furado. Se você mede a velocidade no início das retas esse ano, principalmente com pneus mais macios, vê que a Ferrari entra mais forte na reta. Os carros de Maranello contornam as curvas anteriores às retas mais rápidos que a Mercedes e portanto já entram nelas com mais velocidade. Por causa disso a Ferrari atinge sua velocidade máxima antes da Mercedes (tudo isso sem DRS, lógico), que só vai atingir a sua máxima 20 ou 30 metros depois.

Aí você faz essa mesma medição com os pneus macios ou médios e vê que a vantagem da Ferrari some. Ambas entram nas retas com velocidades muito parecidas e Ferrari e Mercedes atingem suas máximas mais ou menos no mesmo lugar nas retas, o que mostra que o problema não é motor, mas sim curva. A Ferrari tanto no Bahrain quanto na China estava melhor de curva do que a Mercedes com os pneus mais macios. Isso só não aconteceu na Austrália e eu desconfio agora que foi um problema de acerto da Ferrari.

E isso obviamente nos leva à suspensão da Mercedes, cujo problema desde o ano passado não foi devidamente solucionado. A Mercedes tinha a opção de mudar o carro todo ou a suspensão. Foi pelo caminho mais fácil, que até agora está se mostrando uma decisão equivocada.

A Ferrari mudou o carro todo, aumentou o entre-eixos, mudou a aero e manteve sua suspensão, que já era excelente em 2017 e continua se mostrando melhor que a da Mercedes, já que o carro até agora funcionou muito bem no calor do deserto, na pista abrasiva do Bahrain, no frio (classificação) e depois numa temperatura mais alta na China (corrida).

Hamilton? Não, ele não andou bem na China. Apanhou do Bottas desde a classificação. Por que? Muito difícil entender, afinal ele sempre andou muito bem na China, principalmente nos últimos anos. Acerto errado é uma possibilidade, mas o que levou ao acerto errado é o que pode estar pegando. Eu soube que Hamilton e seus engenheiros discordaram um pouco do acerto final do carro no TL3. Lewis queria um acerto que os engenheiros disseram que acabaria mais rápido com os pneus. Ele acabou sendo convencido a usar o acerto dos engenheiros quando combinaram que iriam fazer apenas uma parada na corrida, pois seria a única chance de tentar vencer a Ferrari. A Red Bull sequer foi considerada.

O problema é que a Ferrari também resolveu ir para uma parada. Andando na frente desde a largada e conseguindo abrir pouco a pouco de Bottas – que estava em P2 – a corrida parecia, mas só parecia, garantida mais uma vez para Vettel. Kimi vinha em P3, mas da maneira absurda que a Ferrari trata seu piloto número 2, ele não teria a menor chance de fazer nada melhor. Quem explica a Ferrari deixá-lo na pista com pneus estraçalhados voltas e voltas a fio virando de 2 a 3 segundos mais lento enquanto todo mundo já tinha borracha nova? No fim ele chegou em P3 por pura circunstância, porque se fosse pela estratégia “brilhante” que fizeram para ele, sua colocação seria P5 ou P6 com Vettel ganhando mais uma.

A Ferrari nesse quesito é simplesmente uma vergonha. Nenhuma outra equipe consegue chegar perto do absurdo que os italianos de Maranello fazem com seus segundos pilotos desde sempre. Será que Ricciardo quer o lugar do Kimi? E Verstappen? Vão se sujeitar a esse tipo de humilhação? Acho bem pouco provável… Talvez só no final de carreira – como Kimi está faz tempo – para ganhar um dinheiro que não ganhariam em nenhuma outra equipe.

Bem, mas as paradas começaram a acontecer lá pela volta 19 e a Mercedes conseguiu fazer um undercut na Ferrari. Pararam o Bottas duas voltas antes do previsto e a Ferrari não reagiu imediatamente com o Vettel. O resultado foi que quando Vettel parou, ele voltou atrás de Bottas e teria que ultrapassá-lo na pista, pois ambos teoricamente não parariam mais.

Enquanto isso as Red Bulls faziam corridas diferentes. Max fez uma super primeira volta e ultrapassou Hamilton e Kimi para se posicionar em P3. Ricciardo não conseguiu ultrapassar ninguém e permaneceu onde largou, em P6. E em P6 ele ficou esquecido lá…

Esquecido também – mas pela própria Ferrari – ficou Kimi, que de P1 caiu para P6 mais de 11 segundos atrás de Ricciardo depois de sua parada tardia na volta 28, ou seja, sua corrida foi destruída pela Ferrari.

Mas chegamos na volta 30 e tudo começou a mudar. As duas Toro Rossos “se encontram” no grampo no final do retão e deixam um monte de detritos na pista. O safety-car é acionado e então a Red Bull dá o pulo do gato, pára seus dois pilotos para pneus novos e mais macios, os recolocando na pista em situação extremamente vantajosa, tão vantajosa que ficou claro a partir dali que Max teria tudo para ganhar a corrida e Ricciardo seria o P2.

Bottas e Vettel não poderiam ter feito isso porque já haviam passado a entrada do pitlane quando o safety-car foi acionado. Mas Hamilton não, ou seja, a Mercedes bobeou novamente com ele, mais ou menos como havia acontecido na Austrália, mas dessa vez com mais culpa no cartório por não ter tido a mesma agilidade da rival Red Bull. E pior, Hamilton tinha os pneus mais velhos de todos os ponteiros naquele momento.

O SC demorou um pouco para sair, mas quando o fez os carros da Red Bull começaram a voar para cima dos adversários que, com pneus mais velhos e mais duros, não tinham como se defender. Então Max cometeu seu erro fatal. Tentou ultrapassar Vettel quando ainda não tinha ação para isso – era só esperar mais uma volta – e bateu no alemão. Com isso ele jogou Vettel e ele mesmo para trás em posições muito difíceis de serem recuperadas. Ele ainda conseguiu recuperar algumas usando seus pneus mais rápidos, mas Vettel não. O alemão acabou em P8, uma posição melancólica, ainda mais para quem controlava a corrida até a Ferrari ter bobeado em sua troca.

E com isso Ricciardo mostrou mais uma vez que é o maior “ladrão de vitórias” da F1 ultrapassando todo mundo com seus mergulhos impressionantes em freadas improváveis até se posicionar na liderança.

A verdade é que foi uma corridaça, obviamente com grande colaboração do safety-car na volta 30 que ajudou a embolar bastante o campeonato.

O curioso é que das três corridas disputadas até agora, somente em uma delas venceu o mais rápido. Em Melbourne Lewis era o mais rápido, mas o SC deu a vitória a Vettel. Em Sakhir Vettel era mesmo o mais rápido. E em Xangai Vettel era de novo o mais rápido, mas o SC deu a vitória a Daniel Ricciardo.

A Red Bull como sempre tem o estrategista mais rápido, a Mercedes o mais lento e na Ferrari a coisa é randômica.

Em Baku certamente teremos safety-car, provavelmente mais de um. Temos que prestar atenção agora também nos estrategistas.

Essa é a Formula 1. Complexa e fascinante como sempre.

Adoro.

Adauto Silva
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