Formula E, a próxima fronteira?

quarta-feira, 10 de setembro de 2014 às 16:43

Nelsinho Piquet

Dia 13 de setembro de 2014 será um momento marcante na história do automobilismo. A categoria de corrida composta por veículos totalmente elétricos, construída sobre a promessa de interação com os fãs e grandes corridas através das cidades mais famosas do mundo, vai estrear nas ruas de Pequim, China. Muitos estavam céticos quando a categoria foi anunciada pela primeira vez, mas a julgar pelo interesse no teste final e mais recente em Donington, a Fórmula E pode se tornar o sinal de alerta que o automobilismo precisa.

Observando os carros no circuito de Donington ficou claro o quanto é fantástico assistir esses carros. Comparados aos mais rápidos e barulhentos carros da F1 que muitas vezes parecem aparafusados ao solo, a falta de pressão aerodinâmica e a quantidade significativa de torque produzido pelos carros os tornam extremamente difíceis de pilotar. Os carros estavam indo sempre de lado na chicane e muitos pilotos tinham dificuldades na entrada e na saída do hairpin no final da volta.

Foi neste momento que ocorreu a muitos que essa categoria não deve ser considerada como uma versão elétrica mais lenta da F1 ou WEC. Se comparar, eles se assemelhavam a karts elétricos turbinados, onde a habilidade do piloto e a aderência mecânica são os fatores mais importantes. Como alguém da equipe Virgin disse, “definitivamente não é sobre aerodinâmica”.

Lucas di Grassi

Dito isto, seria tolice considerar a Formula E como uma categoria de especificações simples. Ela foi projetada para permitir aos fabricantes desenvolverem a tecnologia de bateria após a primeira temporada acabar. É aqui que as coisas começam a ficar interessantes: poderíamos ver carros que podem terminar um completo “e-prix” (sim, isso leva algum tempo para se acostumar) com uma bateria sem a necessidade do piloto trocar de carros? Talvez as baterias poderiam ficar mais leves ou poderiam, eventualmente, armazenar mais energia e descarregar mais rapidamente, permitindo o uso de motores mais potentes.

É essa evolução que pode ter um impacto real sobre a indústria do automóvel, especialmente em cidades onde os carros elétricos têm um enorme potencial. Como tal, parece adequado que todas as corridas sejam realizadas, exclusivamente em circuitos de rua. Enquanto que isso pode decepcionar alguns, especialmente aqueles que participaram dos testes em Donington, assistir carros elétricos em pistas de corrida construídas para este propósito, fará o mesmo impacto? Mesmo para aqueles com pouco conhecimento de carros de corrida, carros elétricos de corrida pelas ruas de Londres e Pequim faz todo sentido. É interessante, diferente e um tanto progressista.

Agora, você pode estar lendo isso e se perguntando sobre uma coisa que tem questionado a validade da Formula E como um verdadeiro automobilismo.

Fanboost, certo?

Se o DRS foi controverso, o fanboost certamente fez as pessoas céticas sobre a categoria. Vamos ser claros, faz uma enorme diferença, mas apenas em princípio. É um aumento de potência que vai durar por 5 segundos e certamente terá tanto efeito do que, por exemplo, o uso de DRS durante uma corrida de F1. A pergunta que todos nós queremos saber é se isso vai “arruinar” as corridas, o que é uma pergunta difícil de responder agora. Acredita-se, porém, que isso não afetará significativamente as corridas e muito menos um campeonato. Vale a pena lembrar que o piloto com o boost poderia estar 15º quando ele ativá-lo; ele não vai de repente chegar para frente. Também vale a pena lembrar que o layout dessas pistas tornam as ultrapassagens muito difíceis. Por isso, mesmo com o fanboost, um bom movimento defensivo poderia tornar o ataque inútil.

Michela Cerruti

A ideia por trás do fanboost, bem como outras ideias, como cada corrida ter uma trilha sonora ou oferecer bilhetes gratuitos  (tome nota Bernie), é simplesmente ter os fãs mais envolvidos e falando mais sobre o evento. Numa época em que a mídia social é tão poderosa e os fãs querem se comunicar uns com os outros, devemos negligenciar o conceito do fanboost e considerá-lo como mais um artifício? Numa categoria tão progressista, com equipes de todo o planeta, bem como pilotos do sexo feminino, é justo criticar uma das muitas ideias que faz a Formula E única?

A Formula E não está tentando competir com a F1 ou com o WEC porque é uma categoria completamente única, buscando uma base de fãs mais diversificada. Devemos, como experientes entusiastas do esporte motorizado, desafiar a nós mesmos e tentar enxergar a visão por trás da categoria com novos olhos?

Em longo prazo a Formula E será julgada pelas melhorias e avanços que traz para a tecnologia de baterias e para a indústria do automóvel como um todo. Para chegar tão longe, ela terá que provar ser uma categoria que vale a pena assistir e que será determinada pela interação proporcionada entre a corrida e os fãs.

As corridas de rua podem ser tanto espetaculares quanto processionais e só podemos esperar que seja muito mais a primeira do que a segunda na temporada de estreia do esporte.

As atividades em Pequim na primeira corrida da história da categoria começam na manhã deste sábado em horário chinês (noite de sexta no Brasil). A classificação está programada para 1h, com a largada às 4h. Há previsão de transmissão ao vivo para o Brasil pelo Fox Sports1.

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