F1 – Spa e Monza

segunda-feira, 28 de agosto de 2017 às 18:54
Fórmula 1

Fórmula 1

Por: Adauto Silva

O GP da Bélgica foi uma corrida emocionante em relação aos primeiros colocados. Assim como eu havia previsto na última coluna, Spa mostrou-se uma pista onde Ferrari e Mercedes estavam extremamente equilibradas. A prova disso foi que depois de disputarem a vitória por mais de 300 km de corrida, Hamilton recebeu a bandeirada da vitória a menos de 2,5 segundos à frente de Vettel.

Até a Red Bull surpreendeu com o fantástico Daniel Ricciardo fazendo um P3 guiando um carro com um défice de motor em relação à Ferrari e Mercedes de cerca de 50-60 hp.

A nota ruim foi que mais uma vez o fenômeno Max Verstappen abandonou a corrida com problemas – dessa vez no motor – nos privando de também vê-lo brigar pelo pódio. Ricciardo e Verstappen fazem provavelmente a atual melhor dupla da F1 e mereciam ter um equipamento mais competitivo. Mas em algum momento num futuro próximo terão, tenho certeza disso.

O clima em Spa dessa vez “decepcionou”. Tanto na classificação quanto na corrida não caiu uma gota d’água na pista, o que deixaria a coisa mais interessante ainda. Mas tivemos um safety-car devido à colisão dos companheiros de equipe Perez-Ocon que deixou alguns detritos perigosos na entrada da Eau Rouge, onde os carros passam por ali a mais de 300 kph. Culpa do Perez, óbvio. Você não pode esperar que o carro que está por dentro vá tirar o pé estando quase inteiro á sua frente para você ultrapassá-lo.

E foi um acidente temerário que podia ter acabado muito mal para ambos ou para algum deles. Em 1985 o genial alemão Stefan Bellof morreu ali num acidente muito parecido com Jacky Ickx. A diferença é que Bellof estava por dentro e não tirou o pé mesmo com Ickx já tendo praticamente o carro todo à frente. Relembre:

O safety-car provocado pela batida dos pilotos da Force India proporcionou uma grande oportunidade para Vettel ultrapassar Hamilton na relargada. Hamilton fez o de sempre, ou seja, na hora que o safety-car ia sair da pista ele foi bem devagar e acelerou repentinamente para abrir uma distância segura de Vettel. Mas com pneus muito mais lentos e com Vettel esperto atrás dele, isso não adiantou nada. Vettel encostou em Hamilton na freada da La Source e entrou na reta que leva à Eau Rouge colado em Hamilton.

Tudo levava a crer que após a Eau Rouge Vettel sairia do vácuo e ultrapassaria Hamilton sem problemas, assim como Ricciardo e Raikkonen fizeram com a Mercedes de Bottas naquele mesmo momento. Mas Lewis teve mais um momento genial e fez uma manobra de defesa fantástica para impedir Vettel de ultrapassar. Como na Eau Rouge não se freia na entrada, Hamilton tirou um pouco o pé para Vettel também ter que tirar o pé para não bater na sua traseira e ainda ter que contornar a curva totalmente no ar sujo. Hamilton cravou o pé de novo – obviamente antes de Vettel, que não tinha como saber quando Hamilton faria isso (como numa relargada atrás do SC) e com isso a ultrapassagem tornou-se impossível naquele momento. Não foi uma deficiência de Vettel, mas sim mérito de Hamilton, que mostrou mais uma vez que sabe usar a cabeça melhor do que muitos – eu inclusive – esperam.

Muitos ainda teimam em dizer que foi uma questão do motor Mercedes ser mais forte que o da Ferrari. É absolutamente impressionante que gente que curte e acompanha a Formula 1 continuar insistindo nisso. A Ferrari tinha tanta velocidade da reta Kemmel quanto a Mercedes, mas com Hamilton tirando o pé do acelerador naquele momento, é absolutamente óbvio que Vettel teve que tirar o pé mais ainda para não bater, já que estando colado em Hamilton, ele estava sendo sugado pelo vácuo em direção à traseira do Mercedes.

Não acredita na velocidade em reta da Ferrari? Olhe os prints abaixo tirados da transmissão oficial da F1. Não é necessário acreditar em mim, veja com seus próprios olhos!

Vettel mais rápido que Hamilton sem DRS e sem vácuo

Vettel mais rápido que Hamilton sem DRS e sem vácuo

 

Vettel muito mais rápido que Vettel com DRS

Vettel muito mais rápido que Hamilton com DRS

Como tem sempre gente nova lendo meus textos – o que me deixa extremamente feliz – vou repetir o que venho dizendo faz algum tempo: A eficiência aerodinâmica em alta da Mercedes é melhor que a da Ferrari. Em média velocidade essa eficiência se equivale com uma ligeira vantagem para a Ferrari e em baixa velocidade e eficiência da Ferrari é melhor.

Mas o que é “eficiência aerodinâmica”? É a equação downforce – que é força que empurra o carro para baixo – versus arrasto. No mundo ideal teríamos um carro com muito downforce sem nenhum arrasto. Mas isso é impossível, pois quanto mais downforce um carro tiver, teoricamente mais arrasto ele tem. E o arrasto prejudica a velocidade do carro nas retas, enquanto o downforce prega o carro na pista em curvas. O que os projetistas da F1 tentam fazer é um carro com o maior downforce possível que gere o menor arrasto possível.

Os projetistas da Ferrari conseguiram um equilíbrio melhor entre o downforce e o arrasto e por isso o carro de Maranello é melhor em pistas de baixa e um pouco melhor em pistas de média. Já a Mercedes optou por uma equação com um pouco menos de downforce e de arrasto, por isso seu carro anda melhor em pistas de alta velocidade, não apenas em retas, mas em curvas de alta também, pois o Mercedes precisa de velocidade para sua aero funcionar plenamente.

Para ficar mais fácil ainda, imagine um monoposto fazendo determinada curva a 80 kph sem nenhum apêndice aerodinâmico. Sem asas, sem difusor, sem entranhas no assoalho, sem bargeboards, sem nada. Apenas as quatro rodas e uma carroceria lisa. Esse carro depende apenas e tão somente da aderência mecânica dos pneus e da suspensão. Agora imagine esse mesmo monoposto com todos os apêndices aerodinâmicos do atual Mercedes F1 fazendo essa mesma curva. Ele vai conseguir contorná-la a 120 kph, enquanto o da Ferrari vai conseguir contornar a 130 kph.

Agora, conforme o angulo daquela curva que o monoposto sem nada de aero contornou a 80 kph vai aumentando, a velocidade que ele conseguirá contorná-la aumenta junto. Em algum ponto – que é impossível saber com plena exatidão, mas digamos que seja a 120 kph sem aero – a Ferrari e a Mercedes conseguirão contornar a curva na mesma velocidade. A partir daí – 120 kph no nosso exemplo – a Mercedes começa a levar vantagem, pois como ela tem menos arrasto que a Ferrari am alta, ela sofre menos nas retas antes dessas curvas, principalmente quando são longas.

Monza

Depois da explicação acima, fica fácil entender que em Monza – a pista da mais alta velocidade média do calendário da F1 – a Mercedes é a favorita. Apesar do Vettel ter dito hoje que “não tem mais pistas a temer“, em condições normais, ou seja, sem quebras, problemas variados e clima chuvoso – a Mercedes vai vencer a corrida, provavelmente fazendo dobradinha.

Adauto Silva
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