F1 – Rescaldo de Monza

sexta-feira, 7 de setembro de 2018 às 13:28

Monza

Colaboração: Carlos Alberto Goldani

As insistentes vaias a Lewis Hamilton na premiação do último GP da Itália nem de longe caracterizam um fato incomum na história das competições esportivas. O atual ídolo da torcida italiana, Sebastian Vettel, já sofreu uma pesada vaia em Monza no GP de 2003 quando venceu a Ferrari de Fernando Alonso conduzindo uma Red Bull.

Os italianos são passionais, não admitem aplaudir um vencedor que tenha disputado uma prova sem estar pilotando um dos carros vermelhos. A palavra “Tifosi”, embora tenha um sentido mais abrangente, é utilizada para indicar os italianos adeptos dos esportes motorizados reconhecidos por sua paixão pela Ferrari. Os tifosi criam imagens impressionantes, verdadeiros mares vermelhos quando ocupam as arquibancadas em circuitos onde são realizados GPs da F1, especialmente em Monza. Uma “assinatura” dos tifosi é a exibição de uma enorme bandeira da Ferrari nas arquibancadas de cada autódromo durante os fins de semana de Fórmula 1, com grandes contingentes de adeptos comparecendo nas provas disputadas na Itália ou em circuitos europeus. Não é incomum para os tifosi incluir em suas preferências pilotos “oriundi” (com ascendência) ou não italianos quando estão pilotando uma Ferrari. No GP de San Marino em 1983, por exemplo, os espectadores vibraram intensamente quando Ricardo Patrese se acidentou enquanto estava na liderança com uma Brabham, cedendo a vitória para o francês Patrick Tambay com uma Ferrari.

Um dos pilotos mais lembrados na Itália é um obscuro francês, Jean-Louis Schelesser, cujo único feito digno de nota na F1 foi provocar um acidente involuntário faltando duas voltas para o final do GP de Monza em 1988. O evento tirou da prova o então líder Ayrton Senna e entregou a vitória para Gerhard Berger seguido de Michelle Alboreto, ambos com Ferrari. Além de uma dobradinha da equipe do cavalinho rampante, foi a única prova da temporada que não foi vencida por uma McLaren-Honda.

O comportamento dos espectadores em vaiar pilotos não é exclusivo dos tifosi ou dos italianos na Fórmula 1. O público que prestigiou o GP de motovelocidade da Catalunha em 2011, constituído majoritariamente de espanhóis, vaiou intensamente Marco Simoncelli. O italiano havia protagonizado um incidente com Dani Pedrosa na etapa anterior na França, que obrigou o afastamento do piloto da Repsol-Honda nas três etapas seguintes do mundial.

Este tipo de ocorrências ficou mais frequente na MotoGP depois que Valentino Rossi tentou desestabilizar Jorge Lorenzo nas últimas provas de 2015, denunciando um complô espanhol, que incluiria o campeão Marc Márquez, para impedir seu décimo campeonato mundial. Desde então as premiações de vitórias de Lorenzo e Márquez passaram a conviver com apupos mais ou menos intensos com origem na enorme legião de torcedores de Rossi. Os italianos também não aceitam o que consideram como falta de lealdade, Por não ter cedido a posição para o colega de equipe e então aspirante ao título na última prova de 2017, os últimos sucessos de Jorge Lorenzo com a Ducati foram saudados com torcedores gritando o nome de Dovizioso.

Manifestações de desagrado por parte do público presente aos circuitos podem ocorrer por diversas razões, em 2005 uma inadequação dos pneus Michelin impediu a participação de 7 equipes no GP de Indianápolis. Na época não havia um fornecedor exclusivo e apesar de todos participarem da volta de apresentação, para cumprir cláusulas contratuais, apenas as três equipes equipadas com Bridgestone participaram da prova, fraudando os espectadores que pagaram pelos ingressos. Grande parte dos presentes extravasou a sua frustração vaiando os participantes e exigindo o reembolso do valor das credenciais de acesso.

A maior vaia jamais ouvida em um evento esportivo ocorreu no GP de F1 da Áustria em 2002. Atendendo a uma orientação expressa do box da Ferrari, Rubens Barrichello cedeu a vitória para Michael Schumacher a poucos metros da linha final. O modo ostensivo como a ordem foi cumprida explicitando a falta de esportividade e de respeito dos gestores da equipe vermelha resultou em manifestações de desagrado por praticamente todas as pessoas presentes no circuito, com exceção apenas de uns poucos integrantes da equipe italiana. A reação do público foi de tal monta que Schumacher recusou-se a ocupar o ponto mais alto do pódio. Foi uma das poucas oportunidades, se não a única, que a imprensa italiana não apoiou incondicionalmente a Ferrari.

Carlos Alberto Goldani
Porto Alegre – RS

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