F1 -Os 25 anos da morte de Manfred Winkelhock

terça-feira, 30 de novembro de 2010 às 14:00

Há 25 anos atrás, Manfred Winkelhock morria em um hospital de Toronto, no Canadá, após uma violenta batida no dia anterior, durante os 1000 km de Mosport, válidos pelo Campeonato Mundial de Protótipos da FIA. Apenas três semanas depois do acidente de Winkelhock, outro grande piloto alemão perdia a vida em mais um triste acidente, também a bordo de um Porsche 956 do Grupo C de protótipos: Stefan Bellof.

Em duas tristes coincidências, a Alemanha perdia duas grandes estrelas em acidentes acontecidos fora da Fórmula 1.

Bellof é merecidamente lembrado como um grande talento perdido, o piloto que poderia conquistar um título mundial para a Alemanha bem antes de Michael Schumacher. Stefan praticamente já tinha contrato assinado para correr pela Ferrari em 1986, curiosamente a equipe onde Schumacher conquistaria a maioria dos seus títulos.

Winkelhock infelizmente não é tão lembrado quanto o seu compatriota. Os mais novos conhecem o alemão apenas por um famoso video de Manfred levantando vôo com o seu March de Fórmula 2, em Nurburgring-Nordschleife no ano de 1980.

As estatísticas da Fórmula 1, como de costume, também não fazem jus ao reconhecimento que Manfred realmente merecia. Em quatro temporadas, ele teve 47 largadas e marcou apenas dois pontos, correndo em três equipes: ATS, RAM e até fez breve participação em uma das grandes da época, a Brabham-BMW.

Mesmo com 2 pontos marcados na carreira e os mesmos sendo provenientes da desclassificação de dois carros que chegaram na frente de Winkelhock, os seus contemporâneos dizem que Manfred era um piloto rápido, espetacular e que merece ser respeitado pelas gerações mais novas:

“Manfred sempre foi rápido e esforçado”, relembra Hans Stuck. “E ele sempre estava pronto para ultrapassar! Ele foi um cara com quem você podia se divertir, mas também sempre foi focado em seu trabalho. Ele também tinha um bom caráter e era sempre bom ter ele ao seu lado”, disse o duas vezes vencedor das 24 horas de Le Mans, que foi grande amigo de Winkelhock.

“Ele era um cara em quem você podia confiar, não era um falador de bosta. Na minha carreira muitas pessoas são legais e amigáveis com você e depois chutam a sua bunda. Manfred era direto e isso que era bom nele”, finalizou Stuck.

Outro alemão contemporânero de Winkelhock, Christian Danner, também demonstra a sua admiração e respeito quando fala sobre o saudoso alemão: “Manfred sempre foi uma `rocha´ no automobilismo de base alemão. Se eu considerava ele um super piloto ou não, é uma outra questão, mas eu sempre o admirei por estar lá e por ser muito forte. Ele era muito corajoso e eu realmente o admirava”.

Winkelhock veio de uma modesta família em Stuttgart. Começou a trilhar o seu caminho como mecânico na pequena oficina de seu pai e iniciou a sua carreira no automobilismo correndo com um NSU em categorias de clubes. Manfred começou a fazer o seu nome na Copa Scirocco em 1976. Uma vez mostrando bons desempenhos, Manfred chamou a atenção de Jochen Neerpasch, diretor de competições da BMW na época. Assim, Winkelhock se juntou ao programa de talentos juniores da BMW, junto com nomes como Eddie Cheever e Marc Surer, na competitiva Fórmula 2 e nas corridas de turismo com o BMW 320.

Mesmo tendo aprendido a competir em carros de turismo, Manfred, apesar de “apanhar” um pouco nas primeiras tentativas nos carros de fórmula, demonstrou bons resultados logo na sua primeira temporada na Fórmula 2 em 1978: Mesmo batido pelos seus companheiros mais experientes, Bruno Giacomelli e Marc Surer, o alemão conquistou um quinto lugar na sua primeira corrida de Fórmula 2, em Thruxton e um pódio com o terceiro lugar em Hockenheim.

O primeiro contato de Winkelhock com um Fórmula 1 em um evento oficial, foi no fim de semana do Grande Prêmio da Itália de 1980, quando Manfred foi chamado pela Arrows para substituir o seu compatriota Jochen Mass, que havia se machucado. Infelizmente Manfred não conseguiu se classificar.

Após mais um ano na Fórmula 2, Manfred voltaria para a Fórmula 1 através da equipe ATS e conquistaria um sétimo lugar na segunda corrida da temporada de 1982, realizada em Jacarépagua, no Rio de Janeiro. Este sétimo lugar se transformaria em um quinto, devido uma desclassificação de Nelson Piquet e Keke Rosberg, dando assim ao alemão os seus dois pontos marcados em toda a carreira na Fórmula 1.

Entre 1983 e 1984, a ATS teria um carro melhor, equipado com o potente motor BMW M12 4 cilindros turbo e o revolucionário chassi com monocoque de fibra de carbono em peça única, que mais tarde se tornaria um padrão na construção de carros de Fórmula 1. Infelizmente um melhor carro não conseguiu dar para o alemão a oportunidade de pontuar mais vezes. No fim de 1984, Manfred seria substituído na ATS por Gerhard Berger, mas este acontecimento proporcionaria ao alemão a oportunidade de dirigir o melhor carro de Fórmula 1 de toda a sua carreira: A Brabham-BMW, onde Winkelhock conquistaria um décimo lugar na penúltima corrida daquela temporada, realizada em Portugal no circuito do Estoril.

Em 1985 Manfred assinou com a pequena RAM, estando assim pela primeira vez em sua carreira, fora do apadrinhamento da BMW. O fato da RAM ser uma equipe fraca, fez com que o alemão pudesse se concentrar também nas corridas do Grupo C do Mundial de Protótipos, categoria muito prestigiada nos anos 80.

E foi correndo em um Porsche 956 do Grupo C, que tristemente Manfred viria a falecer no dia 12 de Agosto de 1985.

Marc Surer diz considerar Manfred o seu único amigo de verdade em toda a sua carreira no automobilismo. Segundo o suíço, talvez o fato de uma adaptação mal feita no Porsche de Winkelhock, tenha sido a causa de sua morte: “Eu penso que o Porsche foi construído para Stuck (Hans Stuck tinha alta estatura, mais de 1,90m). Para um piloto menor você tinha que mover o banco para frente. Manfred e eu tinhamos o mesmo tamanho, então tinhamos que guiar na mesma posição. Sentávamos muito perto da gaiola de proteção e na batida de Manfred, ele bateu o seu capacete na barra da gaiola”.

Vale lembrar que mesmo com a morte de Manfred, o legado de sua família não terminou no automobilismo. O seu irmão Joachim Winkelhock, tentou correr na Fórmula 1 mas sem conseguir se classificar, mesmo assim conseguiu sucesso no automobilismo, ao vencer o antigo STW (Campeonato Alemão de Superturismo) com um BMW 318i em 1995 e as 24 horas de Le Mans de 1999, com o famoso protótipo BMW V12 LMR.

O filho de Manfred, Markus Winkelhock, participou de uma única corrida na Fórmula 1, o Grande Prêmio de Nurburgring de 2007. Correndo pela Spyker, Markus foi o único a largar com pneus de chuva, na iminência de uma forte chuva que iria atingir o circuito. Assim que a água veio, vários carros rodaram ou tiveram que se arrastar até os boxes e Markus incrivelmente conquistou a ponta, mas quando a maioria do pelotão já estava com os pneus de chuva, o filho de Manfred ficou para trás. Atualmente Markus disputa o DTM com um Audi.

Fabio Henrique – 13/08/10
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