F1 – Mercedes piorou ou Ferrari melhorou?

sábado, 29 de abril de 2017 às 17:57
Sebastian Vettel - Sochi 2017

Sebastian Vettel – Sochi 2017

Por: Adauto Silva

Bem, eu venho dizendo desde a pré-temporada que a Ferrari é simplesmente um carro melhor que a Mercedes. No começo, parece que só eu e o pessoal da Ferrari acreditava nisso.

Então, as corridas começaram e mais gente passou a ver que a Ferrari realmente era um carro melhor, muito mais equilibrado em freadas, curvas e saídas de curva (tração). E isso com qualquer composto de pneus e em todos os tipos de curva, principalmente nas de alta com raio longo.

Mas a Mercedes fez as três poles das três primeiras corridas. Então começaram uma invenção – que até hoje não sei de onde partiu e nunca foi comprovada – que só a Mercedes tinha algum “mega-booster” no motor que usava só na classificação. Ora, todas as fabricantes de motores tem isso, é mais do que óbvio.

Mas, para justificar as poles da Mercedes, é muito mais fácil inventar que ela tem algum segredo impossível de ser comprovado, do que tentar analisar tudo tecnicamente e descobrir qual ou quais são seus defeitos e virtudes.

A Mercedes tinha em 2014, 2015 e 2016 duas grandes virtudes que a diferenciava das outras; o motor e a suspensão. Em 2014 a diferença do motor para o resto era impressionante chegando a incríveis 90 hp! Em 2015 essa diferença já caiu pela metade e em 2016 a Ferrari encostou, não somente na cavalaria total, mas também na maneira como entrega a potência. A entrega de potência é muito importante e deve ser a mais linear possível, pois quando ela é abrupta isso prejudica demais a dirigibilidade.

Chegamos em 2017 e os motores de Mercedes e Ferrari estão pau a pau. O da Renault ainda está um pouco atrás e o da Honda continua um horror. Isso já foi dito e escrito por mim desde os testes de pré-temporada, porque o pessoal de pista lá em Barcelona estava com alguns equipamentos que conseguem medir a potência muito aproximada dos motores em pista, principalmente um equipamento chamado audímetro.

Chegamos então naquela época à conclusão que a vantagem do motor da Mercedes tinha ido para o espaço em relação ao da Ferrari, já que os equipamentos de medição não conseguiam mais identificar alguma diferença entre esses dois motores, mas somente entre eles e o da Renault – cerca de 35 hp – e o da Honda, mais de 80 hp.

Mas e o resto? E a habilidade da Mercedes em curvas? Em 2014, 2015 e 2016 a Mercedes era melhor em curvas de todos os tipos do que a Ferrari, mas não que a Red Bull. O problema da Red Bull nesses três anos sempre foi o motor, que sempre esteve atrás do da Mercedes em mais de 50 hp. Nas partes mais sinuosas da maioria das pistas, o carro da Red Bull era tão ou mais rápido que o da Mercedes. Era só observar as parciais.

Mas na pré-temporada deste ano vimos que apesar do motor Renault ter tirado um pouco dessa diferença, o carro piorou, Newey errou a mão e a Red Bull passou a ser o pior carro em curvas das três grandes. A Mercedes ficou em segundo lugar e a Ferrari em primeiro.

Mas por que isso aconteceu? Além do motor Ferrari – já mencionado acima – ter conseguido tirar toda e qualquer diferença para o Mercedes, a Ferrari melhorou demais seu carro em todas as áreas; chassi, assoalho, suspensão, aerodinâmica e outras que ninguém pensou. Essa é a grande vantagem de um regulamento novo, alguém pensa em soluções únicas e sai na frente. Em compensação a Mercedes perdeu a suspensão que vinha usando nos anos anteriores, pois a FIA praticamente a avisou que ela seria banida após uma carta enviada pela Ferrari pedindo “esclarecimentos”.

Pesquise aqui mesmo no Autoracing e você vai encontrar várias matérias específicas falando das melhorias – algumas revolucionárias como assoalho, sidepods e estrutura de impacto – da Ferrari.

Mesmo com tudo isso, com todas essas explicações técnicas mostradas em detalhes por nós aqui do Autoracing, muita gente ainda teimava que não, que eu estava “forçando a barra” pró-Ferrari. Porque eu estaria forçando a barra não tenho a menor ideia. A Ferrari não me paga nada, não tenho nenhum parente trabalhando lá, o site não tem qualquer ligação com a Ferrari (ou qualquer outra equipe ou piloto) e portanto não havia, como não há, nenhuma razão “obscura” para vir afirmando que a Ferrari é o melhor carro desde a segunda parte dos testes de pré-temporada em Barcelona.

Eu escrevo baseado estritamente no que observo somado ao que nossas fontes de 17 anos no ramo nos dizem.

Nos treinos pós-Bahrain a Mercedes trabalhou somente no acerto de corrida, até porque o ritmo de corrida tem sido o fraco deles em comparação ao da Ferrari. Fizeram todas as configurações possíveis para o carro machucar menos os pneus, tanto mecanicamente quanto termicamente, já que esse que vinha sendo o calcanhar de Aquiles nas três primeiras corridas.

Mas chegando em Sochi eu errei. Achei que a pista russa mascararia os problemas da Mercedes – suspensão e assoalho – e minimizaria as virtudes da Ferrari. Nos treinos livres já fiquei desconfiado vendo a Ferrari ainda mais equilibrada em voltas lançadas e a Mercedes completamente perdida no acerto, principalmente no carro de Hamilton.

Imaginei que eles estavam acertando o carro para a corrida e confiando totalmente na sua capacidade de fazer uma volta lançada numa pista que não machuca os pneus. Talvez seja exatamente isso que eles tenham feito, afinal o carro melhorou em stints longos. Mas piorou em volta lançada e piorou muito.

Na quinta-feira passada eu escrevi que a Mercedes faria a pole e venceria a corrida. Não fez a pole. Hamilton foi mal e perdeu muito tempo no setor 3 da pista em todas as voltas da classificação. Errou várias vezes em curvas diferentes dos setores 2 e 3. Ele já vinha perdendo tempo nesse mesmo setor nos treinos livres e eu simplesmente não entendo como ele e seus engenheiros insistiram nesse acerto.

Como o setor 1 é sempre o melhor do Hamilton e quase sempre o melhor de todos, fica bastante claro que o carro dele está com menos arrasto e consequentemente menos downforce, o que o ajuda no rápido setor 1, mas esculhamba sua volta nos setores 2 e 3. Porque eles não mudaram o acerto tem três respostas. A primeira e talvez mais provável é que esse acerto seja o melhor para a corrida, pois desgasta menos os pneus. Mas numa pista que mal desgasta os pneus?

A segunda é que Hamilton e seus engenheiros passaram do ponto na questão do desgaste dos pneus, não vão conseguir aquecê-los adequadamente e vão tomar um passeio das Ferraris e talvez até do Bottas na corrida.

A terceira é que a Ferrari melhorou ainda mais, afinal ela é a equipe que mais tem trazido atualizações para as corridas de forma disparada até aqui.

Mas nós só vamos saber disso amanhã…

Adauto Silva
Leia e comente outras colunas do Adauto Silva

AS - www.autoracing.com.br

ATENÇÃO: Comentários com textos ininteligíveis ou que faltem com respeito ao usuário não serão aprovados pelo moderador.