F1 – Mercedes nem tão perfeita?

quarta-feira, 25 de junho de 2014 às 16:13
GP da Áustria 2014

GP da Áustria 2014

A Formula 1 voltou para a Áustria depois de 11 anos. Após os problemas inesperados no Canadá, a Mercedes fez mais uma dobradinha, mas sem aquela facilidade de outrora. Pela primeira vez, a Williams brilhou ao longo de um fim de semana de corrida, e Massa conquistou a pole position no sábado.

Atrás da equipe de Grove, a Ferrari finalmente conseguiu correr com seu último pacote, mas o F14-T nunca pareceu rápido o suficiente para competir contra a Mercedes e a Williams, sendo que a diferença de quase 20 segundos no final da corrida sugere que ainda há muito a fazer. McLaren e Force India mostraram desempenho melhor, graças às mais recentes atualizações introduzidas na Áustria.

O GP da Áustria também serviu para trazer mais preocupações para os fabricantes de motores, que mais uma vez viram os carros equipados com motor Mercedes dominarem a corrida. Entre os 11 primeiros colocados, 8 deles tinham o motor alemão. Ricciardo foi o único representante da Renault que terminou a corrida no top 10.

Com os abandonos de um carro da Red Bull e dos dois da Toro Rosso, os outros carros com motor Renault terminaram a corrida pelo menos uma volta atrás. Se a Renault tinha mostrado algum progresso nas corridas anteriores, não há dúvida de que neste momento há muitas preocupações em Viry Chatillon sobre a confiabilidade e o desempenho de suas unidades de potência.

O traçado de Red Bull Ring é muito curto com apenas 9 curvas e devido à menor demanda de consumo de combustível, fez com que o grid ficasse bastante nivelado. Por isso, a corrida foi decidida pela estratégia.

Mais uma vez o primeiro stint foi crucial e foi onde tanto a Williams quanto a Mercedes construíram a diferença, com um tempo médio de voltas pelo menos meio segundo mais rápido. Olhando para os tempos do stint (clique na imagem acima para ampliá-la), podemos dizer que um pódio para Alonso era possível. Com efeito, durante o primeiro stint com pneus super macios, tanto Alonso quanto Raikkonen perderam muito tempo.

O que torna inexplicável a Ferrari ter deixado Alonso e Raikkonen com pneus super macios por quinze voltas – uma escolha infeliz, que possivelmente custou a Alonso uma chance real de lutar com Massa e Bottas. Isso também impediu a Kimi a chance de marcar mais pontos – visto que ele estava em P6 antes de parar, mas devido à estratégia de pit, ele perdeu oito posições para adversários que tinham parado na 10ª volta.

A Mercedes não é perfeita?

Apesar de mais uma vitória, pela primeira vez na temporada a Mercedes pareceu incapaz de explorar o seu verdadeiro potencial. Embora a vantagem dos alemães seja tal – que pareça muito difícil ser superada nesta temporada – , na Áustria, o W05 mostrou algumas fraquezas num carro que parece quase perfeito.

Após as questões relacionadas com o ERS em Montreal, os engenheiros preferiram não correr riscos, por isso eles fizeram uma escolha aerodinâmica mais conservadora. Isto ficou claro pela tampa do motor muito mais aberta, ao invés da tampa “estilo Red Bull”, que garante uma gestão de fluxo de ar mais limpo.

Mesmo assim, Hamilton teve problemas de freios tanto na classificação, quando inexplicavelmente suas rodas traseiras travaram abruptamente na freada para a curva 2, quanto na corrida, quando os freios novamente superaqueceram.

Comparação das tampas do motor do Mercedes W05

Em Brackley eles sabem que têm vantagem suficiente para sacrificar alguma performance em prol de mais confiabilidade, mas as coisas vão se tornar muito interessante no resto da temporada, quando Hamilton e Rosberg lutarão ponto a ponto pelo título.

Williams: a primeira vitória do FW36 parece suficientemente perto?

Desde os primeiros testes de pré-temporada a Williams impressionou a todos e agora, depois de algumas corridas com estratégias pobres ou com seus pilotos envolvidos em problemas de corrida, o FW36, finalmente assumiu o papel de primeiro desafiante da Mercedes. Mas, apesar de muitas pessoas acreditarem que isso tudo é devido à vantagem do PU106, a verdade é que o desenvolvimento está dando frutos.

Um destes desenvolvimentos veio à tona neste final de semana na Áustria. Eles instalaram o intercooler do turbo imediatamente atrás do cockpit, o que lhes permite ter tanques laterais (sidepods) menores e mais aerodinâmicos, com radiadores muito mais eficientes. Os carros com unidade de potência Ferrari e Renault não podem usar essa disposição, uma vez que turbo e compressor são unidos na parte traseira do motor.

Mesmo assim, algumas pistas como Canadá e Áustria privilegiam o FW36, que tem muita velocidade em retas devido ao baixo arrasto aerodinâmico, mas ainda não é tão eficiente em curvas de raio médio e longo.

Braço de suspensão do FW36

A imagem acima mostra o braço de suspensão, que por sua proximidade com os dutos de freio, toma a forma de um flap (aba) que limpa o fluxo de ar numa área muito importante do carro e gera downforce extra. As atualizações recebidas da Mercedes também deram impulsos que permitiu ao FW36 ser tão competitivo no Canadá e na Áustria.

Ferrari ainda precisa mais

Na Áustria a Ferrari finalmente correu com o novo pacote aerodinâmico que tinha sido introduzido no Canadá. O F14-T mostrou um ritmo melhor durante todo o fim de semana, e sem levar em conta o 5º lugar obtido por Alonso, é preciso sublinhar alguns fatos.

Primeiro, a Ferrari lutou no início de tanque cheio, independentemente de qual composto a Pirelli traga para os fins de semana de corrida. Isso é fácil de decifrar quando damos uma olhada no tempo médio do primeiro stint.

Segundo: Uma diferença de 18,5 segundos para o vencedor – em uma pista de como a da Áustria – é uma eternidade. Houve erros cometidos com a estratégia, mas essencialmente a Ferrari nunca pareceu ser capaz de diminuir a diferença uma vez que os carros de ponta tiveram ar limpo à frente. Dito isto, é inegável que o novo pacote aerodinâmico deu ao carro um impulso que permite ao F14-T ser capaz de lutar pelas posições logo abaixo do pódio.

Ferrari F14 com tampa de motor sem persianas (Áustria)

Tampa do motor do F14-T com persianas (Canadá)

Além das atualizações que vimos no Canadá, a Ferrari introduziu outras atualizações durante o fim de semana austríaco, como uma versão diferente da tampa do motor sem persianas sobre a coluna para maximizar a gestão do fluxo de ar na parte traseira.

Também foram testadas novas palhetas sob o chassi e nos tanques laterais

Palhetas do F14-T

Palhetas dos tanques laterais

Como já foi dito, as atualizações pareceram restaurar a vitalidade do F14-T, mas precisam ser testadas em uma pista mais exigente – como Silverstone, por exemplo – para confirmar se a Ferrari pode objetivar alguns pódios ou não, mesmo que as palavras de Mattiacci pareceram ter colocado um fim no desenvolvimento do F14-T.

Force India e McLaren: O PU106 não é suficiente

Já falamos bastante sobre as grandes vantagens da unidade de potência Mercedes, e a maioria das pessoas acredita que isto já é o suficiente para ser muito competitivo. Obviamente não é verdade, como a McLaren e a Force India têm provado.

Apesar do ótimo início de temporada na Austrália, é difícil dizer por que a McLaren está com tantas dificuldades. O MP4-29 com sua suspensão traseira revolucionária não entrega desempenho, apesar das atualizações introduzidas no carro.

Novos dutos de freio do McLaren MP4/29

Palhetas sob o chassi

Nova asa dianteira

Podemos dizer quase as mesmas coisas sobre o Force India VJM07, que alterna entre bons e maus desempenhos, mas ao contrário da McLaren, o VJM07 parece estar se aproximando da luz no fim do túnel. Depois de uma boa corrida no Canadá – arruinada pelo erro final de Perez – eles repetiram uma boa atuação, na Áustria, onde introduziram um novo nariz para forçar mais ar sob o carro para alimentar o difusor

Novo nariz do Force India VJM07

E uma nova tampa de motor mais apertada, para gerenciar melhor o fluxo de ar na extremidade traseira

Nova tampa do motor

Mais uma vez, o VJM07 provou gastar menos pneu do que os outros, o que lhes permitiu fazer um stint mais longo para compensar suas performances não tão satisfatórias na classificação.

Red Bull: Crise com a Renault

Esperava-se ver a Red Bull lutar contra a Mercedes na Áustria, seu GP em casa, mas depois do enorme progresso alcançado com a Renault nas corridas anteriores – o que permitiu a Ricciardo conquistar sua primeira vitória – aqui estamos nós de novo, falando sobre a fragilidade da unidade de potência francesa com um sinal de alerta que obrigou Vettel a abandonar a corrida, a fim de salvar quilometragem da unidade de potência.

Não vai ser fácil terminar a temporada sem evitar punições (por usar mais motores que o permitido) provando ser uma um duro golpe para a Red Bull e Renault. Os engenheiros em Viry Chatillon terão que trabalhar muito duro a fim de corrigir os problemas para a próxima temporada.

Silverstone

Depois de duas pistas cheias de esquinas, a F1 volta para uma pista de verdade. Silverstone será uma pista muito desafiadora para os carros; não só para o motor, mas também do ponto de vista aerodinâmico. Também será um grande desafio para os pneus, depois do festival de estouros na temporada passada.

Será uma boa chance para que as equipes testem suas últimas atualizações. Vamos ver se a Mercedes arruma seus pontos fracos, se a Williams continuará a nos surpreender, se a Ferrari realmente fez algum progresso, e se a Renault pode dar um fim de semana livre de problemas para a Red Bull.

 

AS - www.autoracing.com.br

Tags
, , , , , , ,

ATENÇÃO: Comentários com textos ininteligíveis ou que faltem com respeito ao usuário não serão aprovados pelo moderador.