F1 – Mas o que diabos aconteceu em Silverstone?

segunda-feira, 17 de julho de 2017 às 14:42
Largada em Silverstone 2017

Largada em Silverstone 2017

Por: Adauto Silva

Em automobilismo tem um ditado que diz o seguinte: “Você é tão bom quanto a sua última corrida”. Isso pode ser verdade para os fãs, mas não devia grudar na imprensa especializada. Nós temos que analisar sem emoção e entender as razões técnicas do porque as coisas acontecem.

Hoje o que vemos são os fãs do Hamilton dizendo que a atuação dele em Silverstone foi magnífica e que a Mercedes enterrou a Ferrari de vez.

Na minha opinião, nem uma coisa nem outra…

Hamilton foi muito bem e fez o que se espera dele. A Mercedes também. Quem lê o Autoracing todos os dias sabe o quanto a equipe alemã tem trabalhado para anular a pequena vantagem que a Ferrari tem desde a pré-temporada. Mas em Silverstone, tanto Hamilton quanto a Mercedes tiveram muita ajuda da Ferrari e do Vettel para vencer com “autoridade”. Bottas também foi ótimo, mas também contou com a ajuda da Ferrari e da sorte.

Vettel começou a ajudar Hamilton no sábado errando de novo. Dessa vez ele errou no Q2 e no Q3. Destruiu tanto pneu que ficou sem um novo para “a volta” que ele tinha que dar na última tentativa no Q3 e o resultado foi largar atrás do Raikkonen. Pra mim ficou óbvio que a Ferrari também ajudou muito errando no acerto do carro – e depois explico porquê -, mas errou nos dois carros, portanto não há desculpa para largar atrás de Raikkonen, que semana passada foi inclusive ameaçado pelo presidente da Ferrari, tamanha a apatia que vem apresentando, de acordo com Marchionne.

Raikkonen não está apático. O problema é outro, ele não tem mais condições de disputar título na F1 há muitos anos. E por não ter mais essa condição a consequência é que ele não tem ritmo sequer para ficar perto de quem está disputando, por isso a Ferrari quase sempre luta com apenas um carro contra dois da Mercedes e dois da Red Bull.

Em algumas pistas – como Silverstone e Spa – Kimi ainda vai bem, tem a mão, mas na grande maioria das pistas ele não é mais piloto de ponta. Nada contra ele, pelo amor de Deus! Kimi é um cara legal, fala pouco com todo mundo, mas fala, não é arrogante nem nada. Estou apenas analisando a tocada dele, que há muito deixou de ser no limite em 80-90% das pistas. É normal, acontece com todos os pilotos. O que não é normal é a Ferrari esperar coisa melhor dele nessas alturas…

Hoje o Autoracing publicou uma notícia – que ainda é mais um rumor do que um fato – de que Marchionne ofereceu um contrato de 3 anos para Vettel, 2018 até 2020, mas que Vettel quer que Raikkonen continue sendo seu companheiro de equipe. Espero que essa segunda parte não seja verdade e se for, que Marchionne não aceite. Tudo bem que para a Ferrari – que já ganha USD 100 milhões por ano apenas por participar da F1 – o mundial de construtores não seja tão importante financeiramente quanto é para outras equipes, e por isso ela dá muito mais valor ao título de pilotos do que o de construtores.

Mas mesmo assim é lamentável, extremamente lamentável que a equipe mais famosa do mundo e que atualmente tem equipamento para fazer o campeão mundial, não tenha uma dupla à altura de suas tradições, mas sim um piloto fazendo mera figuração para o outro.

A sorte da Ferrari é que a Red Bull não tem motor, senão…

Então chegamos no domingo de corrida e o que acontece? Verstappen vai pra cima de Vettel logo na primeira volta e ultrapassa o alemão por fora na curva 3. Isso não podia acontecer. Mas tudo bem, nada que um DRS aberto na reta do Hangar não resolva. Ops!, não resolveu e a culpa é da Ferrari [já já explico]. Vettel teve que forçar a barra na freada, espalhou pra cima de Verstappen o tirando da pista na Stowe, mas o moleque é folgado e não se intimidou, voltou lado a lado com Vettel e deu o troco imediatamente na Club.

Vettel x Verstappen - Silverstone 2017

Vettel x Verstappen – Silverstone 2017

E daí em diante a corrida acabou para o Vettel. Sem conseguir ultrapassar Verstappen na pista [de novo culpa da Ferrari] mesmo tendo um motor com cerca de 50 hp a mais numa pista veloz como Silverstone, só restou à Ferrari fazer o undercut parando Vettel muito antes da hora para ultrapassar Verstappen no box. Lógico que parando naquela hora, Vettel ficaria sem pneus muito antes do fim da corrida, era óbvio…

E como Kimi não tem ritmo para acompanhar quem luta pelo título, ficou óbvio também que Hamilton só perderia a corrida se seu carro quebrasse. Ele passeou da metade para o final sem precisar forçar motor, câmbio e pneus. Até marcou a volta mais rápida num momento improvável – o que prova que ele vinha economizando tudo – para fazer um ‘grand slam’, que é pole, vitória, todas as voltas na liderança e VMR numa mesma corrida. Foi o quinto grand slam de Hamilton na carreira e o primeiro dele em Silverstone.

E Bottas, como passou Vettel tão fácil? Óbvio também, os pneus de Vettel acabaram muito antes do tempo – em razão da troca muito precoce e de mais uma coisinha que já vou falar – e ele não tinha como se defender com os pneus em frangalhos. Tanto que logo depois que foi ultrapassado, seu pneu dianteiro esquerdo dechapou.

Mas por que eu disse que a Ferrari errou no acerto? Ora, ela teve seus dois carros dechapando o mesmo pneu praticamente no mesmo momento da corrida, ou seja, faltando apenas 2 e 3 voltas para o final. Justamente a Ferrari, a equipe que cuida melhor dos pneus desde a primeira corrida na Austrália. Pior, ela foi a única que teve esse tipo de problema nessa corrida. Sabe o que deve ter acontecido? Downforce demais. A Ferrari é o carro que mais produz downforce na F1 atual independente da angulação das asas, por isso seu carro é tão bom, tão equilibrado em freadas, contornos e saída de curva.

Mas Silverstone é uma pista onde a velocidade média é tão alta que você não precisa de tanto downforce. Aliás, você não quer muito downforce, pois isso vai te tirar velocidade em retas e nas curvas de altíssima e ainda pode detonar seus pneus. Quanto mais downforce – que nada mais é do que a pressão do ar exercendo força de toneladas para baixo, mais peso sobre os pneus. Por isso Vettel teve tanta dificuldade com Verstappen e na corrida de modo geral.

Além dessa possibilidade de ter errado no acerto – que é a mais provável -, existe outra. Pode ter acontecido – e isso só vamos saber na Hungria – da Ferrari ter errado nas atualizações para Silverstone, assim como a Williams errou nas dela na Áustria e o carro piorou muito. No caso da Williams, o carro piorou tanto que eles foram muito mal em duas de suas melhores pistas nos últimos anos: Red Bull Ring e Silverstone.

Se o caso for esse, ou seja, a Ferrari ter errado nas atualizações, a coisa pode ficar ruim pra eles. Com o carro que eles tinham até a Áustria, eles seriam franco favoritos para dar o troco na próxima corrida, que será no estreito e sinuoso circuito de Hungaroring, perfeito para um carro menor, mais ágil, mais leve e com muito downforce como a Ferrari.

A Williams insistiu no erro mantendo as atualizações da Áustria na Inglaterra e se deu mal. Será que a Ferrari vai fazer a mesma coisa? Ou será que foi só uma questão de acerto? De qualquer maneira, um carro com downforce exagerado funciona maravilhosamente bem em Hungaroring, mas já não tanto nas corridas seguintes, Spa e Monza.

Se a Ferrari perder na Hungria, o título provavelmente já era, mesmo lá sendo mais uma “pista Hamilton”. E mesmo que eles ganhem, a gente ainda não vai ter certeza absoluta se o erro de Silverstone foi de acerto ou de atualizações erradas. Essa certeza só teremos depois em Spa e Monza.

Eu aposto que foi um erro de acerto de carro, mas aposta não é certeza, portanto eu digo que o campeonato neste momento está como o diabo gosta, aberto.

Adauto Silva
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