F1 – É bom ter paciência

segunda-feira, 21 de outubro de 2019 às 12:43

Red Bull-Honda

Por: Bruno Aleixo

Na última semana, Max Verstappen afirmou em entrevista a alguns sites, que acredita que será campeão com o pacote RedBull Honda. Pode parecer um pouco otimista demais, principalmente porque a Honda, de volta à F1 desde 2015, somente agora começa a apresentar um desempenho aceitável. Pensando nisso, acabei me lembrando de uma história que pode mostrar à equipe que o melhor caminho é ter paciência com os japoneses. Paciência que a McLaren, por diversas circunstâncias, não teve.

Depois de deixar a Fórmula 1 no final de 92, após anos de uma parceria vitoriosa com a mesma McLaren, a Honda voltou seus olhos para uma categoria que vinha crescendo exponencialmente, inclusive para fora dos EUA: a Fórmula Indy.  E para entrar lá foram logo atrás de uma equipe de enorme estrutura, a Rahal Hogan, cujo dono e piloto principal era Bobby Rahal, tricampeão da Indy, uma das lendas do automobilismo norte-americano. A expectativa era enorme.

Infelizmente, a entrada da Honda na Fórmula Indy não poderia ter sido um fiasco maior. O motor japonês simplesmente não tinha potência para acompanhar os Ford e, principalmente, os Ilmor, que levaram a Penske a dominar a temporada. O auge do vexame aconteceu justamente em Indianapolis: sem conseguir se classificar, Bobby apelou para Roger Penske, que lhe emprestou dois motores Ilmor para que ele pudesse colocar seu carro e o do outro piloto da equipe, Mike Groff, no grid. Conseguiram e optaram por correr com os Ilmor, deixando a Honda de fora da mais tradicional corrida de automóveis do mundo.

Rahal Hogan Lola Honda T94

Ao final do campeonato, Rahal terminou com apenas 59 pontos na tabela, em décimo lugar. Com o saco cheio depois de tantas quebras e decepções, o velho Bobby pôs os japoneses para correr, e fechou contrato com a Mercedes-Benz para 95.

Mas a Honda não queria, e nem podia, desistir do investimento e foi atrás de uma estrutura mais modesta para continuar o desenvolvimento do seu motor. E encontrou o que precisava na Tasman, equipe que estrearia na Indy naquele ano, com um carro pilotado pelo também estreante André Ribeiro. O veterano Scott Goodyear pilotaria um segundo carro, em algumas provas.

E começou a virada. Acoplado a um chassi Reynard, e calçando pneus Firestone, o motor Honda formaria o embrião do conjunto que seria sensação da Indy pelos próximos anos. E, já em 95, a Tasman quase venceu em Indianapolis, um ano após não se classificar. Só não conseguiu a vitória, porque Scott Goodyear cometeu um erro de principiante na última relargada, ultrapassando o Pace Car antes que este tomasse o caminho dos boxes (veja no vídeo abaixo). O canadense recebeu bandeira preta, a 20 voltas do final, deixando a vitória no colo de Jacques Villeneuve. Em Michigan, outro super oval, André Ribeiro esteve perto da vitória, mas foi traído pelo câmbio de seu Reynard e abandonou quando liderava com folga.

A primeira vitória viria com o brasileiro, no finalzinho da temporada, no oval curto de New England. No final do ano, uma fila de dirigentes formou-se em frente à sede da Honda, todos querendo ver seus carros empurrados pelo propulsor japonês na temporada seguinte.

E foi a partir de 96, que a Honda disparou na Indy. Equipando os Reynard da Chip Ganassi, os japoneses faturaram os campeonatos de 1996 até 1999, com Jimmy Vasser, Alessandro Zanardi (2 vezes) e Juan Pablo Montoya. A partir de 2000, a Honda juntou-se a Penske e levou Gil de Ferran ao bi-campeonato da categoria.

E a história da Honda na Indy dura até hoje, com diversos títulos e vitórias nas 500 milhas. Ao passo que Bobby Rahal, aquele que desprezou os japoneses, aposentou-se em 1998, sendo que venceu sua última corrida em 1992.

Se a RedBull der uma olhada nessa história, vai entender rapidinho que o melhor é dar tempo para que os japoneses trabalhem. Eles não costumam falhar.

Bruno Aleixo
São Paulo – SP

AS - www.autoracing.com.br

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