F1 – Choradeira irritante

quinta-feira, 5 de abril de 2018 às 16:45

GP da Austrália 2018

Por: Adauto Silva

As pessoas reclamam demais. Até já me acostumei, mas às vezes cansa.

Agora está uma chiadeira de novo porque a Mercedes parece estar na frente das outras equipes… de novo.

Aí o Alonso diz pra um repórter que a F1 é previsível, mesmo a Mercedes tendo perdido a primeira corrida do ano para a Ferrari. Mas como o espanhol não é bobo nem nada, ele completa dizendo que a F1 sempre foi previsível e que isso é uma pena.

Uma pena? A Formula 1 é uma categoria previsível desde que ela foi criada devido a sua natureza. Se você tem o melhor piloto no melhor carro – e essa é a tendência em 90% das vezes – é evidente que a chance daquele carro com aquele piloto ganhar frequentemente é enorme. Chega a ser quase uma questão matemática.

O regulamento é igual para todos e é só isso que importa. Quem trabalhar melhor para fazer o melhor carro dentro daquele regulamento e conseguir ter o(s) melhor(es) piloto vai perder? Aí não seria esporte, seria jogo de azar, casino.

A Formula 1 não serve, nem nunca serviu para o tipo de “emoção principal” que alguns procuram, que é a emoção de quem vai ganhar. Lógico que quem vai ganhar é um dos atrativos, mas não pode ser o principal, porque se for a pessoa vai ficar sempre frustrada (a menos que torça para quem está ganhando) e francamente devia escolher outras categorias – principalmente as monomarcas – para acompanhar.

Nos monopostos a Indy é uma categoria com mais diversidade de vencedores de corrida. Mas não de títulos, já que somente três equipes (Penske, Chip Ganassi e Andretti) venceram os últimos 15 títulos. Na F1 foi o dobro, ou seja, seis equipes (Ferrari, Renault, McLaren, Brawn, Red Bull e Mercedes) venceram os últimos 15 títulos.

A “principal emoção” na F1, além dos carros mais rápidos e difíceis de guiar do mundo com a mais avançada tecnologia disponível, é curtir entendendo como o favorito ganhou, de quem ele ganhou ou se ele conseguiu perder e por quê. É entender porque um piloto ganha USD 40 milhões por ano enquanto outros pagam para correr, é entender o porque da dificuldade em ultrapassar e valorizar muito quando ela acontece mesmo com o DRS.

É entender que cada equipe constrói seu próprio carro e apesar de eles parecerem muito iguais externamente, as mínimas diferenças – que precisam ser pesquisadas e entendidas – é que fazem “a diferença”.

É entender que três décimos de segundo – um lapso de tempo quase irrisório para o olho humano – é a diferença entre um piloto fenomenal para outro apenas bom. É entender que esses mesmos três décimos de segundo, é a diferença que um piloto pode fazer para ganhar um (ou mais) título contra outro que não tem esses três décimos.

É entender que apenas três motores por temporada é o desafio que faz com que as montadoras invistam bilhões de dólares na F1 – e portanto façam a roda girar – para conseguir que os motores mais potentes da maior categoria do mundo, possam também se mostrarem duráveis e confiáveis para seus consumidores de rua, que saem daqueles que acompanham e curtem a Formula 1.

Um Senna x Prost na mesma equipe é difícil demais se repetir. Prost só aceitou Senna na McLaren em 1988 porque o francês não fazia ideia do que ia enfrentar. Anos depois vetou o brasileiro na Williams. Hoje o Helmut Marko disse que tanto Vettel quanto Verstappen foram convidados para correr na Mercedes ao lado de Hamilton. Não aceitaram. Não me parecem bobos.

Enfim, a Formula 1 não é para qualquer um. É um esporte-negócio extremamente complexo que exige muita informação de qualidade e raciocínio aprofundado para ser admirado.

Existem outros esportes-negócios que são bem fáceis de entender e têm resultados randômicos. Não muito, mas existe. Futebol é um deles.

Formula 1 não é futebol.

Adauto Silva
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