F-RENAULT: Uma categoria escola que virou universidade

sexta-feira, 19 de novembro de 2010 às 13:27

Largada em Vitória

Não é exagero quando o locutor Luciano do Valle diz que a Fórmula Renault Brasil se transformou numa universidade do automobilismo para os pilotos brasileiros. Trazida neste ano para o país de maior tradição em automobilismo do mundo, pelo ex-piloto de Fórmula 1 Pedro Paulo Diniz, a categoria vêm encantando o público, pilotos e patrocinadores. Só no último Grande Prêmio nas ruas de Vitória, a categoria levou cerca de 70 mil pessoas às ruas de Vitória, onde foi montado um circuito em plena Enseada do Suá.

O sucesso da categoria escola em todo mundo é tamanho que antes mesmo do início desta temporada de estréia em Curitiba, no mês de abril, os promotores do evento tiveram que encomendar mais seis chassis, formando um grid com nada menos que trinta carros. Aos olhos do amante por automobilismo tudo parece mais fácil do que realmente é, mas o promotor do evento comenta que não foi fácil juntar todas as peças do xadrez. “Foi complicado, exigiu bastante trabalho por estar envolvendo tantas empresas junto assim, mas a categoria está de pé. A gente tem muito que melhorar ainda e tenho certeza que no ano que vem estará ainda melhor”, diz Pedro Paulo Diniz, referindo-se às empresas presentes da F-1 como Renault e Michelin.

Para ajudar na produção da competição e estruturar a categoria no Brasil, o ex-piloto contratou a Brunoro e Cocco Sport Bussines. “O Pedro Paulo Diniz tinha vontade de estar ajudando o automobilismo brasileiro, principalmente os pilotos mais jovens e queria deixar plantada não só a ajuda para pilotos, mas também para o automobilismo brasileiro alguma coisa que fosse profissional e tivesse uma cara de organização”, explica o empresário José Carlos Brunoro, que teve, junto com o ex-piloto, menos de um ano para colocar os carros nas pistas. “Conseguimos fazer tudo isso em tempo recorde, com toda experiência do Pedro, a nossa também e com a colaboração grande da Renault”, afirma.

O empresário destaca também as características da categoria que a coloca dentre as mais atraentes em termos publicitário e de corrida em virtude da grande competitividade. “A maior característica dessa fórmula é que os carros são exatamente iguais, dá para se mexer pouco no carro e depende muito da qualidade dos pilotos. Então, a competição é muito gostosa de ver. Na parte de organização, a gente mostrou para o Brasil que o brasileiro tem condição de fazer uma coisa bem feita, organizada e planejada. Para isso, contamos com a confiança das equipes porque não é fácil montar um evento que nunca foi feito e ver muitas inscrições de cara”, diz.

Largada no Rio

Com os investimentos garantidos por cinco anos, Brunoro comenta ainda que a temporada de estréia está servindo como laboratório e, para a felicidade do amante de automobilismo, muita coisa ainda irá melhorará. “Essa primeira parte do campeonato a gente solidificou a parte de organização e daqui para frente vamos pensar no ano que vem. A nossa idéia é reavaliar os lugares, a possibilidade de ter mais corridas ou não e quais foram os pontos positivos e negativos”, explica Brunoro, que comemora o sucesso da categoria. “A competição já é uma marca dentro do automobilismo brasileiro e estamos muito feliz com tudo”, comenta.

<<O carro da Fórmula Renault>>

Pedro Araújo

A categoria mono-marca tem seus carros montados sob o chassi italiano Tatuus, modelo FR2000, o mesmo que disputa os campeonatos Europeu, Italiano, Inglês e Francês da Fórmula Renault. O motor é igual ao de um carro da montadora francesa, o Renault Clio, mas com preparação para corrida, que gera 180 cavalos de potência e câmbio seqüenciail de seis marchas. Em termos de categoria escola, a F-Renault é a que tem custo mais baixo e serve de acesso para os kartistas.

Para explicar como é e como funciona um carro da Fórmula Renault Brasileira, o site AutoRacing entrevistou o engenheiro José Eduardo Avallone, que trabalhou na Fórmula 1 durante os anos 90 na equipe Jordan. “O F-Renault é mais leve que um F-1, mas se você analisar ele é mais pesado porque as dimensões são menores que de um F-1. Além disso, um Fórmula 1 tem um motor muito maior e que pesa muito menos do que nós temos aqui. O material empregado num F-1 é mais nobre e tem que durar a corrida. Esse caro da F-Renault já é mais comercial porque é um monoposto feito para durar, para ser barato e ter pouca manutenção. O motor da F-Renault é um motor que dura muito também. O objetivo da F-Renault é ter um carro mais barato e que dure mais para que as equipes não gastarem tanto e os pilotos desenvolverem seus monopostos”, comenta o chefe das equipes Avallone Petrobras e Avallone Birel.

Allan Khodair

A eletrônica também está presente nos carros da F-Renault. Os monopostos contam com dois componentes eletrônicos importantes. Um é o Engenie Control Unite (CU), desenvolvido pela Fórmula 1 para o gerenciamento do motor e o outro é uma aquisição de dados que ajuda a mostrar ao piloto onde ele está errando e auxilia as equipes para fazerem o melhor acerto do monoposto. “O CU lê a temperatura da água, vê como o motor está se comportando, vê a pressão do óleo, gerência quanto de combustível está sendo enviado para o motor e o ponto de queima. Para os pilotos e as equipes analisarem o que está se passando dentro da pista, nós temos um outro equipamento que muitos chamam de telemetria, mas não é de fato isto porque nós não temos os dados diretos da pista para o box como na F-1. Na verdade, é uma aquisição de dados. Quando o carro pára, são descarregados os dados e você consegue ver a velocidade, quanto o piloto está virando o volante, entre outros”, explica Avallone.

Assim como os chassis, os pneus da Fórmula Renault Brasileira são os mesmos utilizados na Europa, os Michelin. Os compostos franceses utilizados por todos os pilotos chegam a durar 400 voltas e são produzidos na mesma fábrica onde são confeccionados os pneus para a Fórmula 1. “O comportamento do pneu está bom e tem uma constância boa”, comenta Avallone.

Chassi: Monocoque em fibra de carbono
Motor: Renault Clio RS 2 litros Renault F4 RS
4 cilindros / 16 válvulas /1.998 cm3
Potência máxima: 183 hp a 6.300 rpm
Torque máximo: 213 nm a 5.300 rpm
Tanque de combustível: 38 litros
Carenagem: Fibra de vidro
Transmissão: Cambio seqüencial de 6 marchas, diferencial autoblocante
Rodas: Em alumínio
Dianteiras e traseiras: 8 x 13 polegadas
Freios: Dianteiros e traseiros a disco ventilados
Pneu: Michelin
Suspensões Dianteira: push-rod com um amortecedor
Traseira: push-rod com dois amortecedores
Dimensões Entre-eixos: 2.645 mm
Eixo dianteiro: 1.434 mm
Eixo traseiro: 1.318 mm
Velocidade máxima Cerca de 230 km/h

<<As diferenças entre a categoria e a Fórmula 3 Sul-Americana>>

Marcello Thomaz

A Fórmula Renault Brasileira é, em essência, uma categoria escola, que ambienta um piloto vindo do kart a um monoposto, enquanto a Fórmula 3 Sul-Americana é uma categoria que apura melhor a técnica do piloto e não deixa de ser uma escola, mas serve como formadora de pilotos para o Brasil exportar e como último estágio em termos de Brasil e América do Sul. Pilotos brasileiros, como Cristiano Da Matta, Bruno Junqueira, Christian Fittipaldi, Ricardo Zonta e Rubens Barrichello, saíram da F-3 e outros como o finlandês Kimi Raikkonen partiu para a Fórmula 1 somente com a experiência da F-Renault.

Para Amir Nasr, dono das equipes que levam seu nome tanto na F-3 quanto na F-Renault, as duas categorias são diferentes, mas juntas, são importantes para o automobilismo nacional. “A Fórmula Renault é uma categoria ideal para o piloto que vem do kart já para ter um primeiro contato com um carro. Com suspensão, asa, a aerodinâmica fazendo efeito e uma série de coisas que um kart não tem. Depois, o próximo passo seria a Fórmula 3, com um carro muito mais técnico, com mais recursos, com um regulamento mais aberto e é uma categoria multimarca, tanto de chassi quanto de motor, onde o aprendizado técnico se afina mais e aí dá uma lapidada melhor no piloto”, comenta.

Thiago Medeiros

Sabendo que as duas categorias são as que mais formam pilotos no mundo, Amir explica a importância da F-Renault como ponta-pé inicial na carreira de um piloto campeão. “Nós estávamos pegando os pilotos muito crus vindo do kart ou até da extinta Fórmula Chevrolet e o passo para a Fórmula 3 estava muito grande. Os pilotos que vinham da F-Chevrolet vinham com vícios ruins e os eram do kart vinham crus demais para um carro tão técnico. Então, o maior motivo foi criar um degrau para que os pilotos possam se adaptar gradativamente sem querer dar um passo maior que a perna e aí o piloto que vem da F-Renault para a F-3 tem uma facilidade maior de se adaptar. Então, virou um degrau necessário e veio na medita certa. O piloto passa mais tempo na equipe, já sabe o ritmo de trabalho e vem crescendo junto com o time”, explica.

O engenheiro Avallone comenta ainda que o regulamento da F-Renault foi inspirado na F-3. “As dimensões do chassi e o projeto em si são exatamente um igual ao outro. Mas a visão da F-Renault é ter uma categoria mais econômica e não custa o que custa um F-3. O monoposto da F-Renault é um carro mais barato em alguns itens e uma boa opção de categoria para acesso para os meninos que estão saindo do kart para ter esse primeiro contato. Mas o carro visualmente parece um F-3”, afirma Avallone, que também tem equipes nas duas categorias. Atualmente, uma temporada na F-Renault custa em torno de 150 mil dólares, enquanto na F-3 esse orçamento pode ultrapassar a casa dos US$ 300 mil.

Patrick Rocha

Uma diferença notável entre as categorias é o formato dos campeonatos. A Fórmula Renault é como a Fórmula 1. Há treinos livres na sexta-feira, no sábado, treino de classificação no sábado e uma corrida no domingo, enquanto na F-3 são disputados dois Grandes Prêmios num único fim de semana, tomada de tempo na sexta, uma corrida no sábado e outra no domingo. “É uma coisa compatível porque na F-Renault os pilotos ainda estão aprendendo, precisando de mais tempo e é uma categoria que treina menos que a F-3 para conter os custos. Na F-3 o piloto tem que ter um desempenho quase que imediato, mas também é um piloto que tem mais horas em cima de um carro. Então, cada formato preenche bem a necessidade de campeonato”, acredita Avallone, que comparou também os pneus das duas categorias. “O Pirelli usado na F-3 é um composto mole. E, por isso, o carro de F-3 é muito mais aderente. Já o F-Renault é mais solto, só que a durabilidade do pneu é muito maior”, afirma.

O piloto Sérgio Jimenez e os gêmeos Alexandre e Gustavo Foizer tiveram experiência com os dois carros e contam agora quais as diferenças entre os comportamentos dos monopostos da F-3 e da F-Renault. “O F-3 tem mais downforce. Ou seja, quanto mais rápido você anda mais ele fica grudado no chão. Então, a maior diferença é vista numa curva de alta porque você consegue fazer muito mais rápido num F-3 do que num F-Renault. Nas curvas de baixa as reações são bem parecidas entre os dois carros. Já as marchas você tem que se concentrar um pouco mais porque na F-3 o câmbio é manual. A diferença é sentida mais em terceira, quarta e quinta marchas porque o F-3 continua crescendo e o F-Renault fica meio parado, mas a categoria é bem legal”, comenta o piloto, que optou por correr este seu primeiro ano de automobilismo na F-Renault.

Em termos de potência, o F-3 tem 220 cv, enquanto o F-Renault 180cv. “O Fórmula 3 é bem mais rápido em curva. Ele tem uma aerodinâmica melhor que esse carro da Renault e também o pneu do F-3 é mais largo, o que facilita nas curvas”, explica Gustavo Foizer. “O Fórmula 3 é um carro mais estável. O Renault chega na freada e dá umas balançadas de vez em quanto. Nesse ponto o Fórmula 3 é melhor porque você freia reto e consegue fazer (a curva) direitinho. O F-3 é um monoposto que dá para perceber o que está acontecendo bem mais fácil, pelo chassi. O Renault é mais como um Kart. Então, fica mais difícil para fazer um acerto deste carro”, comenta Alexandre Foizer. Os gêmeos também correm na Fórmula Renault Brasileira.

Antigo Chevrolet

O piloto Pedro Araújo, campeão brasileiro de kart, revelação da extinta Fórmula Chevrolet e um dos destaques da Fórmula Renault, deu a tônica entre as três categorias formadoras de pilotos comentadas por Amir Nasr. “Esse carro da F-Renault é muito mais moderno, tem muito mais recurso do que um Fórmula Chevrolet e com certeza muito mais segurança. O motor do Chevrolet era mais potente, com um pneu mais mole e aderente. Já a F-3 é uma evolução da F-Renault, mas em nível tecnológico e de segurança o salto da Fórmula Renault é muito menor que da F-Chevrolet para a F-3. Agora, com certeza, esta categoria é um passo antes da F-3 muito importante para que o pessoal que vai fazer a F-3 Sul-Americana”, afirma.

<<F-Renault revoluciona o marketing automobilístico>>

Sérgio Jimenez

Nem sempre uma propaganda de um produto é compatível com a realidade. Entretanto, na Fórmula Renault Brasileira as duas coisas andam juntas. Se as corridas são inesquecíveis quando se fala em competitividade, a estratégia de marketing da categoria não fica atrás. Não há um Grande Prêmio numa cidade em que um habitante um pouco sintonizado com o mundo não tenha conhecimento da categoria, o que mostra que o marketing da F-Renault no Brasil também ganhou destaque e é um dos diferencias da categoria.

A promotora do evento, a PPD Sports, do ex-piloto de Fórmula 1 Pedro Paulo Diniz, é responsável pelas estratégias que vem rendendo bons públicos e índices de audiência. “É muito importante estar promovendo a categoria com shows à parte para estar entretendo o público. O que está me surpreendendo é qualidade e o nível técnico dos pilotos, que estão muito bons, apesar de serem jovens e ainda terem alguns acidentes. Os tempos nas classificações estão muito próximos e isso que dizer que o nível técnico dos pilotos está bom. E só ajuda no marketing”, afirma Diniz.

A hora mais tensa

A categoria também vem sendo destaque na televisão. Além da Fórmula 1, que dispensa créditos, e da Fórmula Truck, que é a categoria mais popular do Brasil, a Fórmula Renault é a única categoria que tem todas suas corridas transmitidas ao vivo para o país todo num canal aberto, a Rede Bandeirantes. Mas, ao contrário da Fórmula 1, os promotores do evento compraram o horário na Band para este primeiro ano e produzem toda a geração de imagens. “Com isso, nós quisemos garantir a visibilidade dos patrocinadores. Está tudo incorporado para ajudar o evento”, explica José Carlos Brunoro, organizador da categoria.

Não é de hoje que o automobilismo, além de esporte, também virou negócio. E como tal precisa de dinheiro. Então, o marketing vem para solucionar este que poderia ser um problema. Na opinião do chefe de equipe Amir Nasr, a categoria acertou a mão neste quesito. “Isso tem facilitado a busca e manutenção do patrocínio, que passa a ser mais importante. Hoje existe uma satisfação geral e todo mundo bem contente com essa mídia que é muito boa. Todo esse auê que eles fazem quando chegam na cidade, o concurso de models, a festa, tudo isso é o que faltava em termos de evento e não é essencialmente automobilismo na técnica, mas sem isso não dá para se fazer automobilismo. Você tem que dar retorno. Nós gostamos muito de automobilismo, mas os patrocinadores gostam do show porque eles querem aparecer e têm todo o direito”, comenta Amir, lembrando do desfile de modelos que há um dia antes da corrida, o Pole Position Models.

Com vivência na Fórmula 1 durante os anos 90, o engenheiro José Eduardo Avallone comenta ainda que as estratégias de marketing da Fórmula Renault são experiências únicas no Brasil. “O envolvimento que a categoria faz com mídia é fantástico. O circo que se monta e a visão de se fazer o evento é incrível, uma coisa que nós nunca vimos no Brasil antes. Eu pelo menos desde que retornei da Europa nunca vi uma categoria neste nível de sofisticação em termos de marketing e de mídia”, diz.

<<Estrutura da categoria favorece equipes e pilotos>>

Gustavo Sonderman

A Fórmula Renault vem se consagrando no Brasil e um dos motivos pelos quais a categoria é um sucesso neste ano de estréia se dá por conta da filosofia que tem com as equipes e com os pilotos. A organização do campeonato investiu na padronização dos boxes e deu um amplo apoio a diversas equipes que corriam o risco de fecharem seus boxes e deixarem pilotos à pé.

“Nós temos investido no sentido de melhorar o nível técnico das equipes e organizando-as. Por isso, nós investimos em padronizar os boxes e estar ajudando as equipes a se estruturarem e poder vender espaço da equipe para um patrocinador para torná-las profissionais. A gente sabe que é difícil, mas temos boas surpresas porque tem equipe que já está contratado seus pilotos. É fantástico porque é para esse lado que a gente quer ir, profissionalizando as equipes para que elas possam estar escolhendo seus pilotos pelo talento deles realmente e daí esta será uma categoria para estar criando os nossos novos talentos”, explica Pedro Paulo Diniz, promotor da categoria, em entrevista exclusiva ao site AutoRacing.

Parte do staff que pensou as estratégias, o empresário José Carlos Brunoro afirma que a organização contou com a confiança das equipes e disse que o atual chefe da equipe G Force, Affonso Giaffone, foi o grande guru, já que deu uma contribuição ao explicar sobre como era a situação do automobilismo brasileiro até então. “Ele deu muitas dicas para a gente sobre a realidade brasileira e sobre os caminhos que a gente deveria trilhar em alguns casos. Então, é até um agradecimento que a gente deve a ele porque a própria vinda de pessoas como ele motivou os que estão da F-3, como o Avallone e o Amir, a se incorporar a categoria porque dá credibilidade. E aí tudo mundo veio no rastro porque viram que a competição poderia acontecer”, comenta.

Brunoro disse ainda que a categoria trabalha incessantemente para que as equipes sejam profissionais, uma falha no automobilismo brasileiro que vem sendo corrigida pela Fórmula Renault. “O que nos queremos é mostrar para as equipes que elas podem deixar de depender só do piloto, que se pode fazer um trabalho profissional e um trabalho de marketing. Por isso que nós estamos colocando televisão, mostrando muito os patrocinadores e dando uma cara diferente aos boxes para que eles possam ser visitados. Então, nós queremos que as equipes não dependam só de uma receita (vinda do piloto)”, explica.

Profissionalismo. Esta é a palavra-chave da categoria e o motivo pelo qual Affonso Giaffone voltou às pistas. “Faltava ao Brasil um evento sério, organizado, administrado e com espírito profissional, acabando com o conceito de amadorismo. Não desmerecendo as outras categorias, mas a tendência é a F-Renault evoluir nesse sentindo”, afirma. Giaffone explica ainda que a possibilidade de se trabalhar com os mesmo recursos dos campeonatos europeus é um dos diferenciais da categoria. “É bom trabalhar com um carro igual ao da Europa. Isso motiva. O pessoal envolvido é muito serio. Dá tranqüilidade para montar uma estrutura e investir. Quem faz F-Renault aqui em um ou dois anos está pronto para ir para a Europa. A F-Renault hoje é um sucesso em treze paises, com um preço muito mais racional nos dias de hoje que uma Fórmula 3”, afirma.

Daniel Serra e Marcos Gomes

A F-Renault conta ainda com dois pilotos que têm ajuda extra. São eles Marcos Gomes e Daniel Serra, filhos dos campeões de Stock Car Paulão Gomes e Chico Serra. “Ele não é um pai chato que fica colocando muita pressão e sempre que preciso ele me ajuda em termos de acerto de carro e conhecimento da pista”, comenta Marcos Gomes, que sempre disputou corridas com Daniel Serra. “O Chico Serra não é um pai chato, é um pai que está sempre ajudando na hora que precisa e não está enchendo o saco”, afirma Daniel Serra.

<<Nomes do automobilismo brasileiro falam sobre a F-Renault>>

A cada Grande Prêmio a Fórmula Renault Brasil conta com mais estrelas em seu paddock que só tem elogios à categoria trazida para o país pelo ex-piloto de Fórmula 1 Pedro Paulo Diniz, também um dos mais congratulados pela iniciativa.

O tetracampeão de Stock Car Paulão Gomes acompanha a categoria de perto ao lado de seu filho Marcos Gomes e afirma que o empresário Pedro Paulo Diniz deu um grande incentivo ao automobilismo nacional trazendo a Fórmula Renault. “O Brasil estava precisando disso porque também abre um grande mercado de trabalho para os profissionais da área e uma possibilidade de os meninos ficarem um ou mais anos no Brasil com carro de primeiro mundo. A categoria está sendo uma escola. Nós estamos cursando uma faculdade de primeiro mundo em termos de automobilismo com a entrada deste campeonato. Então, a gente só tem que dar a maior força e melhora cada vez mais”, comenta.

Acompanhando as últimas corridas com seu filho Daniel Serra, Chico Serra também elogia a categoria, mas acredita que os custos da F-Renault Brasileira deveriam ser mais realistas. “A categoria está estruturada e organizada. Eles estão de parabéns, está muito bonito e é uma categoria forte como categoria escola. Só que acho que os custos estão elevados. A batalha daqui para frente é reduzir estes custos”, afirma o tricampeão de Stock Car.

Outro piloto, agora empresário, que esteve prestigiando a categoria foi André Ribeiro. Para ele, as chances de o Brasil revelar novos campões aumentaram. “O trabalho que o Pedro vem fazendo é excepcional trazendo toda a experiência que ele tem no automobilismo mundial e na Fórmula 1. Isso realmente é fantástico e é uma alegria para nós brasileiros porque podemos ter uma categoria desse nível aqui no Brasil. É fantástica a possibilidade deles começarem a sua carreira aqui, sem a necessidade de ir para a fora do Brasil”, comenta.

Sérgio Jimenez

Diretor de prova do Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 e da maioria das competições no país, Carlos Montagner é outra figura que não deixa de elogiar a categoria. “A F-Renault vai trazer muito futuro para os nossos pilotos para que eles aprendam mais sobre velocidade e que vão sair daqui do Brasil muito mais preparados do que estavam anteriormente. A categoria conseguiu juntar marketing, organização, promoção e direção de prova para todos trabalharem afinados”, diz Montagner, que afirma ainda que a pequena duração de uma corrida da Fórmula Renault trás beneficio ao piloto. “Isso mostra mais o que o piloto pode desenvolver porque ele tem que fazer uma estratégia de corrida muito rápida. Então, ele vai pensar muito mais rápido do que é normalmente hoje na F-1, que é uma corrida de uma hora e meia de duração”, diz.

Um dos grandes nomes no jornalismo automobilístico, Marcos Zamponi, o Zampa, fala do auto de sua experiência que o automobilismo brasileiro entrou numa nova fase de bons resultados. “Nós estamos tendo um momento muito importante com a F-Renault. Ela está surgindo para fornecer equipamento para revelar nossas estrelas como foi a Fórmula Ford durante mais de vinte anos. Ela é internacionalizada como foi a F-Ford e, mesmo admitindo que nunca tive maior intimidade com o kart, me surpreendo muito com essa geração de garotos que estão aqui. Eu diria que desses trinta meninos pelo menos cinco terão um futuro brilhante. Quem sabe com um Fórmula 1 ou eventualmente Cart ou IRL”, afirma.

Não bastassem as vozes brasileiras, o belga Christian Contzen, representante da Renault Sport finaliza: “Este já é o melhor campeonato de Fórmula Renault realizado em todo o mundo”.

<<Coluna: O futuro sorri para o automobilismo brasileiro>>

Pódium

Apesar da recessão de novos talentos que façam o automobilismo brasileiro despontar na Fórmula 1, posso garantir que esta fase está perto do fim. Pode ser daqui a três, quatro, cinco ou mais anos, mas se depender da Fórmula Renault Brasileira e dos novos pilotos que já foram destaque no kartismo e agora mostram competência na F-Renault, o Brasil vai reviver seu tempo de ouro na Fórmula 1.

O amante por automobilismo tem que agradecer todos os dias a um homem chamado Pedro Paulo Diniz, já que foi ele quem idealizou a vinda da F-Renault para o Brasil. Se dentro das pistas ele não teve grande destaque, fora delas está sendo um Senna para o nosso automobilismo. Arrisco dizer que o Pedro Paulo está sendo um Bernie Ecclestone para o automobilismo brasileiro. O que ele está fazendo para o Brasil é semelhante ao que o inglês fez para a Fórmula 1. Não há dúvida de que uma categoria como a F-Renault irá formar grandes campeões brasileiros.

Imagine você que se não fosse a criação da categoria neste ano, nomes como Sérgio Jimenez, Alan Hellmeister, Pedro Araújo, Daniel Serra, Igor Ciampi, Lucas di Grassi, Gustavo Sonderman, Diego Freitas, Marcos Gomes, Patrick Rocha, Allan Khodair, André Prioste e todos os outros talentosos pilotos do grid da Fórmula Renault ficariam a pé e sem chance de darem seqüência ao seu sonho de chegar a Fórmula 1.

Para eles, a única chance de se lançarem no automobilismo era na F-3 Sul-Americana ou ir para fora do país, que custa caro e é mais complicado em termos técnicos para um piloto recém saído do kart. As opiniões são unânimes ao afirmar que a F-Renault é uma excelente escola para esses meninos e o melhor, lembra a Fórmula Ford que formou nossos campeões, apesar do Chico Serra reclamar um pouco dos custos. O respeitável Zampa foi feliz ao fazer essa comparação. Ele afirmou que hoje a F-Renault faz o papel da F-Ford, que tinha suas competições em diversos países e proporcionava aprendizado igual seja na Inglaterra ou no Brasil, a única diferença são as pistas. Assino embaixo também que daqui vai sair no mínimo cinco pilotos para categorias tops em condições de serem um Schumacher.

Para se ter uma idéia, a fórmula que é tida no mundo todo como categoria escola, aqui no Brasil já está sendo chamada de universidade, tamanho seu comprometimento com o profissionalismo e o nível técnico de pilotos. Recentemente, um piloto, cujo nome me falha memória, esteve na Europa de olho na F-Renault de lá e não teve nenhuma surpresa. Era tudo igual aqui. Sendo que no Brasil ainda tem a vantagem de correr perto da família e ter mais ajuda do patrocinador, que fica encantado com a estratégia de marketing da categoria. Outro fator a se destacar.

Embora no automobilismo não haja uma receita exata para o sucesso, os ingredientes de melhor qualidade foram todos misturados, formando a F-Renault Brasileira. E os pilotos de nosso país têm tudo para despontarem num futuro próximo. Sem dúvida estamos diante de uma categoria escola exemplar com pilotos de altíssimo nível. Agora, é aguardar a chegada deles na Fórmula 1 e ir curtindo o espetáculo que vem sendo as corridas da Fórmula Renault Brasileira.

Então, divirta-se,
Bruno Mello
bruno@autoracing.com.br

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